Porque se os indocumentados latino-americanos importassem de verdade, se colocaria maior interesse nas deportações que o México realiza, na maioria das vezes de centro-americanos, mas também de caribenhos e africanos. Por que o silêncio diante disso? Por que o silêncio diante da política migratória da República Dominicana com imigrantes haitianos?
Saiamos momentaneamente dos Estados Unidos e vejamos ao sul da fronteira do Rio Bravo. Com o que nos encontramos? Desaparecimentos forçados, violações sexuais, torturas, tráfico de pessoas com finalidade de exploração sexual, laboral e tráfico de órgãos; um genocídio de imigrantes. Como a América Central trata os imigrantes indocumentados de outros países, por acaso também não realizam deportações?
As batidas nos EUA são pão de todos os dias – quem as denuncia, qual mídia internacional está atenta e as acompanha? O que está ocorrendo com o governo de Trump não é nada de novo, Obama deportou cerca de 3 milhões de indocumentados. Quando Obama acabava de se converter em presidente foram feitas batidas em estações de trem, de ônibus, em restaurantes, discotecas, fábricas, da mesma forma como está fazendo hoje a administração Trump.
E assim ocorreu durante a sua presidência, mas os meios de comunicação não publicaram. Assim como, passados alguns meses, deixarão de publicar as deportações massivas que eventualmente realizará o governo de Trump. Por quê? Porque chega um momento em que já não se pode mais tirar proveito do pária, então se desfaz dele.
Com o governo de Obama em acordo com os governos de Felipe Calderón e Peña Nieto, se incrementaram os abusos contra os imigrantes em trânsito, abusos que realizam as autoridades governamentais e policiais, máfias que estão dentro das autoridades migratórias do país. O que ocorre com o México é um genocídio incomparável com as deportações nos EUA. Onde está a denúncia mundial? Não há maior ingratidão do que a da República Dominicana com seus irmãos haitianos. Com que moral questionam os Estados Unidos em relação aos indocumentados? Obviamente que é denunciável, é injusta a deportação mas assim como põem os EUA no olho do furacão é preciso denunciar o que realizam países latino-americanos com seus próprios irmãos.
O tratamento que a Argentina dá a seus irmãos uruguaios e bolivianos. A discriminação que estão sofrendo haitianos e colombianos que estão migrando para o Chile e tudo por sua etnia e cor de pele.
Chegar aos EUA de forma indocumentada é um trinfo perante a adversidade e não porque exista um sonho americano, mas pelo que representa ser migrante em trânsito em países que tratam seus irmãos como escória; porque a verdadeira tragédia se vive quando se migra entre as veias de uma América Latina transgredida pela corrupção, a cara de pau e o opróbrio.
Por um segundo tiremos os EUA de nosso radar e vejamos o mapa completo, a pior tragédia para um indocumentado nos EUA não é a deportação, não é que o tirem desse país, porque afinal aqui ele também é pária; é ter que voltar a uma terra que o golpeou, o humilhou e o obrigou a emigrar por um caminho que lhe deixará feridas abertas pelo resto da vida.
Perguntemo-nos então com a mesma cólera (ou moral dupla) com a que questionamos os EUA pelas deportações: o que estão fazendo os países de origem para que seus cidadãos não emigrem de forma forçada? O que estão fazendo para receber com oportunidades de desenvolvimento aos que vão deportados?
De sobra sabemos as respostas. Cada vez que formos questionar o proceder de outros, primeiro vejamos o nosso. Como latino-americana sinto uma decepção e uma tristeza enorme pela desumanidade de nossos países que humilham até deixar em carne viva nossos irmãos.
Afinal, não somos melhores que os Estados Unidos.
Tradução do Diário Liberdade