A ativa participaçom que tem na rede, através do seu blogue ‘Certas palavras’, tornou-no já conhecido nos núcleos culturais galegos mais virados para a internet galego-portuguesa.
Tal como noutras cidades, em Ferrol tivemos a sorte de contar com a presença do Marco, tradutor de profissom e divulgador de questons lingüísticas, sempre com umha perspetiva aberta, bem colada à realidade social e em combate permanente com os preconceitos que por lá (e por cá) ainda circulam.
O seu primeiro livro, Doze segredos da língua portuguesa, está a ser neste ano material de trabalho para os alunos e alunas de Português em Ferrol. É por isso que o Marco era já conhecido por nós, que recebemos com satisfaçom o convite do Valentim Fagim para aderirmos ao roteiro de apresentaçons d’A incrível história secreta da língua portuguesa, a nova obra do nosso convidado.
Este seu novo ensaio, que ainda nom lim, está já nas minhas maos. Da primeira olhada ao índice e ao resto do volume, concluo que, tal como no anterior, dá à Galiza um protagonismo especial, como parte inseparável que é da história lingüística e social de Portugal. O tom descontraído e divulgativo será sem dúvida outro ingrediente comum com os Doze segredos, que ajudará a aproximar tanto o público português, como o galego, da história da língua comum, com a rigorosa perspetiva deste português amigo da Galiza.
O próprio Marco explicou aos alunos e alunas de Português e de Galego na Escola Oficial de Idiomas de Ferrol que, apesar de algumhas crenças ainda estendidas a sul do Minho, careceria de rigor qualquer História da Língua Portuguesa contada sem referências a quem sempre viveu e falou a língua comum aqui no norte: o povo galego.
Nom é preciso insistir na conveniência de continuarmos, também nós, o labor de reconstruçom rigorosa da nossa história, fundamental para a afirmaçom efetiva da identidade galega. No entanto, julgo tam importante como isso que na vizinha República Portuguesa surjam novas vozes que reconheçam a existência diferenciada da Galiza e promovam umha interlocuçom direta, sem intermediários, entre dous povos que um dia já fomos um.
O debate que se seguiu às palavras do Marco trouxo diferentes experiências pessoais do público em relaçom à língua: as reaçons que os nossos falares provocam em Portugal, que vam do estranhamento ao entranhamento, segundo a diferente combinatória de atitudes manifestadas por ambas as partes; a insistência com que em Portugal se recorre às vezes ao espanhol para atender qualquer pessoa chegada da Galiza... mesmo as semelhantes incompreensons e preconceitos identificáveis em dous ámbitos de relaçom paralelos: o galego-português e o luso-brasileiro.
Em definitivo, a complexidade e contraditória sucessom de encontros, desencontros e encontrons de umha relaçom a três, que precisa de mais iniciativas e pessoas dinamizadoras, empenhadas em derrubar barreiras, para avançar no reconhecimento mútuo, muito além dos sotaques e das ortografias.
Nom há dúvida que o Marco Neves é umha delas.
PS: As duas obras do Marco Neves referidas neste texto podem ser compradas na Galiza, na Livraria Ciranda, em Compostela, ou entom encomendadas diretamente ao autor através do seu blogue: http://www.certaspalavras.net/