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Diário Liberdade
Domingo, 04 Junho 2017 21:59

Resistir, resistir, resistir

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Ilka Oliva Corado

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Teria sido tão fácil se Cristina, no dia seguinte do término de seu mandato presidencial na Argentina, pegasse suas coisas e fosse para o exterior, com o cumprimento total do que lhe correspondia como chefe de governo. Se o mesmo ocorresse com Dilma quando lhe deram o golpe de Estado, fazer o mais fácil: ir embora e não voltar atrás. Mas ficaram e não para ficar de braços cruzados, o mesmo para Lula, que não parou um dia sequer.


Exemplos claros de convicção e da responsabilidade histórica como seres políticos em um tempo no qual a maioria lava as mãos. É medular, a consciência política não se aprende, ela nasce do dia a dia quando um se coloca no lugar do outro.

O exemplo da Venezuela, em meio a uma crise política constante – porque isso é de todos os dias, desde que Chávez chegou ao poder – Maduro, no lugar de renunciar e se largar, surpreendeu com uma Assembleia Nacional Constituinte que deixou muitos de queixo caído. Coisa que exigem os povos da América Latina aos governos neoliberais que os reprimem. Jamais se verá um presidente de corte neoliberal convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. E muito menos operária e feminista como disse o mesmo Maduro. Palavras poderosas que abrem uma brecha em termos de direito de gênero.

Um exemplo vital de resistência é o povo equatoriano que novamente votou em apoio à Revolução Cidadã, respaldando com isso o processo iniciado por Rafael. Um exemplo de lucidez, de agradecimento e de força coletiva, porque isso diz ao mundo que o Equador está disposto a defender o que tanto trabalho lhe custou reconstruir. Recordemos que somos povos maculados há milênios e que falar de progressismo e levá-lo à ação é uma obra titânica. Mais difícil ainda é conseguir sua permanência. Equador com isso nos deu uma aula.

A Bolívia com seu presidente indígena segue enfrentando o estigma milenar do racismo e abrindo caminho ao respeito e admiração pela resistência dos povos originários. Muito devemos aprender desse triunfo histórico da identidade sobre a exclusão. Nos ensinaram a ter vergonha do que somos há milênios e com isso nos enfraqueceram como latino-americanos irmãos.

Cada vez que um povo elege a um presidente de caráter neoliberal, todos perdemos. Perdemos em matéria de direitos humanos, justiça, educação e saúde, perdemos em identidade e progresso. Porque a única coisa que um sistema neoliberal leva aos povos é a destruição total e com isso a repressão, a fome e as migrações forçadas.

Cada vez que os meios de comunicação nos disserem que na Venezuela há ditadura e que Maduro é opressor, pensemos no México, na Guatemala, em El Salvador, em Honduras. Toquemos a realidade do Panamá, do Chile e da Colômbia, a tragédia do Peru e do Paraguai. Países que as ditaduras capitalistas têm deixado aos pedaços, sem moral, identidade e dignidade. Então tenhamos a capacidade e a responsabilidade de analisar as distintas realidades para ocupar nosso lugar na história e o que nos corresponde politicamente a partir de nossos lugares. Quando nos disserem que o progressismo é populista, acreditemos por que o é, o progressismo é povo.

Quando nos disserem que a Venezuela precisa de ajuda estrangeira e que por isso os Estados Unidos a invadirão para salvar esse povo, pensemos no que restou na América Latina após essas invasões estadunidenses. A Venezuela não precisa ser salva, ela caminha pelas próprias pernas, coisa que não conseguiu a maioria dos países latino-americanos.

Quando nos bombardearem com notícias falsas sobre a Venezuela, percebamos que eles querem nos convencer sobre o que nos vendem. Quem sairá beneficiado com uma invasão? O povo ou as oligarquias? Não temos que ser revolucionários, nem de esquerda, nem ser simpáticos a Maduro para defender a soberania da Venezuela, basta ter sentido comum e metade de um cérebro.

Vamos um pouquinho mais além e deixemos a preguiça, busquemos no mapa a Argentina, realidade próxima do que é capaz de fazer o neoliberalismo quando o povo vota equivocadamente. Quando não tem uma ideologia política bem definida e quando é mal agradecido. Agora busquemos o Brasil e vejamos o retrocesso de 30 anos que Temer fez desde o golpe de Estado até agora.

Vejamos agora diante do espelho o nosso país, como está o nosso país em matéria de direitos humanos, educação, saúde, infraestrutura, meio ambiente? Quem nos governa?

O progressismo não é a receita perfeita, não existe a receita perfeita. A mudança fazemos todos, quando criamos políticas de exclusão e para isso devemos escolher muito bem a quem colocamos no governo. Não esperemos que os presidentes progressistas apaguem mais de 500 anos de opressão, desmontes e genocídios. Eles são parte da reconstrução do que nos deixaram, mas não podem fazer tudo sozinhos, curar feridas levará décadas e algumas são incuráveis, fazem parte de nossa memória histórica e coletiva para que não voltem a repetir.

Coisa contrária oferecem os governos neoliberais, a continuação dos genocídios, massacres, ecocídios, desaparecimentos forçados e pobreza extrema.

A resistência é todos os dias, em todos os lados: lendo, questionando, observando, despertando, tomando ação. Porque não há outra saída senão resistir, resistir e resistir, até o sol raiar.

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