E ainda assim, aceitamos com absoluta naturalidade que se afirme que na Venezuela há umha ditadura. Como pode o partido no governo perder umhas eleiçons numha ditadura e além disso reconhecer os resultados? É insultante como se distorcem os conceitos da maneira mais cínica. Por outra parte, se alguém se carateriza na Venezuela por nom aceitar por regra geral os resultados adversos é a MUD, coaligaçom que agrupa à maior parte de forças opositoras. Foi o que aconteceu nas últimas eleiçons presidenciais. Precisamente o Leopoldo López está a cumprimentar prisom pola matança que ordenou para “celebrar” que as urnas lhe tivessem outorgado a vitória ao candidato Hugo Chávez. O Comandante faleceu antes de poder tomar posse do cargo.
Suponho que se no estado espanhol ou em qualquer autonomia ou município do estado bourbônico acontecesse umha cousa parecida, os responsáveis iriam a prisom por sediçom, como mínimo. Porém, os mesmos que enchem a boca falando de paz e convivência democrática e nom hesitam em qualificar de terrorista a qualquer que se afaste da linha de pensamento oficial, aplaudem a um fascista sanguinário que ordena matanças. No estado espanhol, quero recordar que ainda há pessoas presas por se manifestarem diante das Cortes, quando estas votavam umha reforma constitucional que limitava o déficit nas contas do estado. Umha reforma que se implementou por palavra de ordem da Uniom Europeia e que os manifestantes, duramente reprimidos, reclamavam que passasse polas urnas. Há portanto duas varas de medir. A Espanha é umha democracia impoluta, ainda que se envia a prisom a quem se manifesta diante do parlamento, Venezuela é umha ditadura porque mete preso a um assassino. Na Espanha é um ato anti-democrático manifestar-se diante de um parlamento que está a aprovar umha reforma da Constituiçom de costas viradas ao povo, na Venezuela damos-lhe carné de democrata a quem ordena um banho de sangue como vingança por uns resultados eleitorais dos que nom gosta.
A oposiçom venezuelana está a celebrar a estas horas um referendo ilegal, por nom poder reunir as assinaturas necessárias para validá-lo oficialmente. Nesse referendo pretende-se votar a revogaçom do Presidente Maduro. Cumpre recordar que já se celebrou um referendo revogatório no seu dia, daquelas contra o Presidente Chávez, no que saiu vitorioso o entom mandatário do estado bolivariano. Naturalmente, a oposiçom de novo nom reconheceu os resultados. Neste sentido, nom há comparativa possível com o regime bourbônico, porque nom é possível revogar a um cargo eleito; nom existe tal procedimento. Sim que estaria bem lembrar que umha das grandes derrotas políticas de Hugo Chávez foi também num referendo, onde se votava um pacote de reformas constitucionais; umha delas previa a reduçom da jornada laboral. O que sim que poderia ser ilustrativo é fazer contagem dos referendos que se celebrarom no estado espanhol desde 1978 até 2017. À parte do referendo no que se aprovou a Constituiçom de 78 e os correspondentes dos Estatutos de Autonomia, só conhecemos o da OTAN e o da Constituiçom Europeia. Nengumha reforma constitucional passou polas urnas; nem a referente à nacionalidade, que se fixo para acertar-se ao Tratado de Maastritch, nem a do limite do déficit, nem a referente à sucessom na Coroa que tivo que ser aprovada para resolver a situaçom criada trás a abdicaçom do Juan Carlos I. Em quatro décadas de regime constitucional, três reformas, duas delas por imposiçom da UE, e nengumha votada polo povo. Como podemos chamar-lhe ditadura a um sistema onde o referendo é um procedimento habitual e onde existe um mecanismo para que o povo force a sua celebraçom, quando no estado do que somos súbditos o referendo é praticamente umha graça concedida desde as alturas precisamente por umha instância nom eleitiva, que é a Coroa?
Escudar-se na lei para dizer que os cataláns nom podem votar qual deve ser o seu futuro, nom resolve absolutamente nada. Falar de religiom ante um problema político, é próprio precisamente de ditaduras. Aplicar o regime jurídico como se fosse a Sharia, nom nos equipara a nengumha democracia moderna, achega-nos a monarquias absolutas e estados teocráticos. Ainda nom sabemos o que acontecerá na Catalunya o dia 1 de Outubro, mas sim sabemos o que está acontecendo na Venezuela. E o que está a acontecer na Venezuela é que a oposiçom está a celebrar o seu referendo. Que se saiba, nem a polícia nem o exército aparecerom em nengum lugar para empecê-lo. Os que sim agirom bastante na sua linha som os esquadrons da morte da oposiçom, que já assassinarom a umha pessoa. Talvez alguém que pretendia votar “incorretamente”?
Insuportável escuitar a representantes do neofranquista PP, do PSOE dos GAL e do protofascista Ciudadanos dar liçons de democracia. Democracia é que o povo participe, decida e que a sua decisom se ponha na prática. Como aconteceu com o Brexit ou como aconteceu no referendo sobre a independência da Escócia (por certo, que o governo autonômico escocês já fala de convocar mais um referendo) Ou como aconteceu sempre na Venezuela. O do estado bourbônico é umha neoditadura.