Mas um trecho da obra destaca a partida Brasil e Espanha, em que, na condição de locutor, Ary Barroso descreveu o elenco brasileiro do seguinte modo:
A música é lenta e suave. Danilo está com a pelota. Ligeira variação. Passa a Bigode, e a melodia vai num crescendo violento. A técnica de Danilo lembra Chopin, manso, doce, inspirado. Bigode é a selvagem poesia nacional de Villa-Lobos. Jair é Wagner, poderoso e dramático. Quando a bola está com Zizinho, é Mozart tecendo filigranas, mas, se entrega a Ademir... Beethoven? Não, nem Liszt, Strauss, Tchaikovsky ou Verdi. O futebol de Ademir é a música da terra, de ritmo marcante e beleza inconfundível. Que faz Ademir a caminho do arco, senão passes do mais puro samba, da mais brasileira das capoeiras, e, se dribla, é maxixe autêntico, é jongo, é o frevo de sua terra pernambucana. Um estrangeiro disse que o selecionado do Brasil é uma orquestra sinfônica afinada. Acrescente-se que, sob a batuta de Ademir, é uma orquestra tocando em ritmo de samba.
O jogo terminou 6 a 1 para o Brasil. Antes, já havíamos batido a Suécia por 7 a 1. Ou seja, quando chegamos ao último jogo, ninguém esperava que nossa orquestra acabasse dançando ao ritmo de um tango uruguaio misturado com candombe.
Portanto, melhor evitar metáforas musicais ou quaisquer outras. Afinal, o futebol já é, ele próprio, uma poderosa metáfora.
Fonte: Pílulas Diárias.