Abaixo, alguns trechos:
A minha vontade, com a raiva que todos estamos sentindo, é deixar aquela ruína como “memento mori”, como memória dos mortos, das coisas mortas, dos povos mortos, dos arquivos mortos, destruídos nesse incêndio.
Eu não construiria nada naquele lugar. E, sobretudo, não tentaria esconder, apagar esse evento, fingindo que nada aconteceu e tentando colocar ali um prédio moderno, um museu digital, um museu da Internet...
Tenho muito medo que se tente vender o canto de sereia da privatização dos museus, retirá-lo da universidade, transformá-lo numa fundação privada.
...não vai haver reflexão nenhuma, até porque o país está mergulhado numa crise política, moral, cultural e económica gigantesca. Vai haver gritaria durante algum tempo, choro, ranger de dentes, e em seguida vai-se voltar ao que sempre foi, planos para o futuro que não se concretizam, verbas que se prometem e não se entregam.
...a ideia de que o povo despreza a cultura não é verdadeira. Quem despreza a cultura é a burguesia, o agronegócio, os deputados ruralistas, os que estão interessados em devastar o país para produzir soja para vender para a China.
O Brasil é um país onde governar é criar desertos. Desertos naturais, no espaço, com a devastação do cerrado, da Amazónia. Destrói-se a natureza e agora está-se destruindo a cultura, criando-se desertos no tempo.
E produzem esses desertos sem nem se dar ao trabalho de nos enganar com miragens.
Fonte: Pílulas Diárias