1- David Cameron:
Apontar que os britânicos podem-se sentir orgulhosos de um primeiro ministro sério e de palavra. O Referendo estava no programa eleitoral e levou-o a cabo. Respeitou as posições diversas dentro do próprio governo e foi feita a campanha toda ela com uma mostra de fair play absoluto. Já com o referendo da Escócia mostrara o seu profundo sentido da democracia. David Cameron já entrou na história pela porta grande, e se se comparar com as lideranças trapaceiras que há no estado espanhol, a sua imagem resulta verdadeiramente colossal.
2- A participação:
Frente às informações que falavam de pouco apaixonamento com o referendo, a participação foi importantíssima quase o 72%, e o 52% votou a favor, ganhando o sim ao não em perto de 2.000.000 de votos. Só ganhou o sim na Escócia, na Irlanda do Norte -nas zonas republicano irlandesas- (unionistas de Irlanda) e na cidade de Londres. (E é em Gibraltar; espaço do que afirmo não é o estado espanhol, -nem juridicamente, nem humanamente-, nem este estado tem nenhum direito a reclamar a soberania nesse território, bem contrastivo com o caso de Olivença)
3- As Mudanças no Reino Unido:
O referendo vai acelerar o processo de se atualizar o sistema britânico federalizando-se e flexibilizando as relações entre os territórios. Imos ter as seguintes unidades: Irlanda do Norte, Escócia, Gales, Inglaterra e Londres.
A federalização e flexibilidade interna vai ser o jeito de tentarem blocar, a saída do Reino Unido da Escócia, e esse processo vai ser determinante no resultado das novas relações com a União Europeia.
4- Relações com a União Europeia:
O Reino Unido vai ser um novo modelo e jeito de se passar a formar parte do Espaço Económico Europeu (EEE), no que estão já Islândia, Noruega, Suíça + UE.
Porém como estar puramente no espaço económico europeu, faria que toda a normativa europeia seguisse vigorando no Reino Unido, terá isso algumas adaptações e até flexibilidades internas dentro da nova federação britânica. Na Irlanda do Norte pode apertar-se ainda muito mais com toda a Irlanda do que o fazia neste momento, ao poder desenvolver parcerias onde eles, os irlandeses serão os agentes, e não o resultado de imposições da burocracia e normas bruxelenses.
5- O Mercado comum:
A efeitos do “mercado comum” não vai haver variações significativas, os europeus vão seguir a perceber aos ingleses como mais uns da parceria, mas ao seu pessoal jeito, de maneira que a City possa seguir dizendo que a efeitos deles seguem na U.E.
6- Efeitos internos na União Europeia:
A. Significativo reforço do papel e liderança da Alemanha. O inglês vai deixar de ser língua oficial da U.E (de acordo aos tratados. Isso sim que é um terremoto), e o alemão, a língua mais falada na Europa, pouco a pouco vai ir ocupando o seu lugar. Isso vai ser uma revolução até agora insuspeitada.
B. Internamente a U.E vai-se flexibilizar, pois fica aberto o caminho para se saírem outros associados e incorporarem-se ao E.E.E. de um jeito bem mais pessoal (a la carte): essa flexibilização vai levar ao nascimento da Europa das duas velocidades com um núcleo central muito forte e compacto sob a égide germana.
C. Vai acrescer a pressão pela democratização das instituições europeias, o que vai ter que significar câmbios profundas nelas. O núcleo duro da nova União Europeia vai ser de facto um super-estado.
7- Efeitos no estado espanhol:
Positivos: A mensagem de que a Catalunha ia ficar fora do espaço europeu, se se independizar, -usado como ameaça-, fica absolutamente sem sentido.
Castela/espanha como estado é inviável (em todos os sentidos), e isso é uma realidade inabalável. Ou se produzem mudanças profundas no estado deixando de ser uma Castela/espanha, ou os povos não castelhanos, salvo que se independizarem1, estão condenados sofrerem e a morrerem, num espaço inviável e cheio de podrêmia.
É terrível, que o supremacismo de Castela esteja tão incutido, que nem sequer em convergências como as de Podemos -nestas eleições do 26 de junho-, apareça (por algures) no seu programa a oficialização de todas as línguas não castelhanas no estado, e com o mesmo status do castelhano. E além disso, quando se examina o programa, descobre-se que se mantenhem -sob verniz progressista-, todos os lugares comuns do supremacismo “castelhano”.
8- Efeitos para Portugal e a Lusofonia.
Acho que bem positivos, porém o problema é a carência de verdadeiras políticas lusófonas e de lideranças com projetos para esse espaço levadas a sério. A flexibilização do espaço europeu abre uma janela de oportunidade a Portugal e à Galiza (GZ nada tem a fazer para o futuro se não concebe as suas relações nesse espaço).
9- Efeitos internacionais:
Enfraquece-se e muito, a posição dos Estados Unidos de América na Europa, o que vai acelerar o enfraquecimento, que já é bem visível, de essa potência. Os USA são os grandes derrotados do referendo britânico. Aguardemos que ante a crise não sejam os tambores da guerra os que soem com mais força, como jeito de manter a dominação, e que a nova Europa, que vai ser no campo das relações externas, mais forte, seja um poderoso agente para a distensão e a paz.
1Em lugares como a Galiza eu vejo independentistas, mas não independentismo. Uma força independentista, não é aquela que se afirma como tal, se não aquela que tem um roteiro e um plano para alcançar esse objetivo.