O uso “recreativo” do aplicativo representa o auge de nossa dependência das telas.
Tudo teria começado em 1950, com a inauguração da TV no Brasil, atrasada uns 20 anos em relação a outros países. As conversas no sofá da sala ou em cadeiras nas calçadas diminuíram.
Em 1965, surgia a primeira rede nacional de TV. Era a Globo, voz oficial da ditadura. No lugar do silêncio imposto por censura e tortura, notícias e novelas. Umas e outras, fictícias.
O Plano Real possibilitou o endividamento sob os juros mais altos do mundo. Mas também o acesso a vários aparelhos de TV na mesma casa. A família já não se espremia no sofá diante do monitor.
Lugares públicos, como bares e consultórios, ganharam vários televisores. A atenção destinada a conversas ou leituras, roubada por telas cada vez mais onipresentes.
Ou seja, desde o fim das cadeiras na calçada, o hábito de conversar vem desaparecendo. No máximo, rasos comentários sobre o que aparece nas telas.
É o monólogo falador televisivo levando à mudez da audiência.
A situação parecia muito conveniente aos poderosos. A verdade que chegava pelas telas era aceita passivamente fora delas.
No século 21, porém, há uma grande mudança.
Os aplicativos de mensagens mostram que a tagarelice pode ser muito útil ao poder. Seria porque a qualidade de nossa interação atual já não representa qualquer ameaça a não ser para nossa própria inteligência?
Poderíamos aproveitar o apagão do Zap para fazer esse debate. Que tal criar um grupo no Telegram ou no Messenger, por exemplo?