A Câmara Municipal da Amadora voltou a entrar no bairro 6 de Maio para despejar moradores e demolir casas. Desta vez tratou-se de uma mãe com dois filhos e uma neta de quatro meses. Outros moradores estão a ser avisados de que lhes pode acontecer o mesmo.
«Estão a tirar as minhas coisas de casa. Não tenho para onde ir. Não tenho trabalho, não consigo alugar uma casa», afirmou Amália ao jornal Público.
Como alternativa, a autarquia do PS, em conjunto com a Segurança Social, sugeriu que fosse para uma casa de acolhimento durante 15 dias, mas separada dos seus filhos.
Sem um emprego e sem sítio para onde ir, Amália, depois de avisada do despejo pela autarquia, tinha pedido mais tempo até encontrar solução. Mas não foi dado mais tempo a Amália, que mora no bairro há 13 anos.
Recentemente a Câmara Municipal da Amadora tinha reafirmado que o plano de demolições era para continuar. O bairro 6 de Maio faz parte do Programa Especial de Realojamento (PER), criado em 1993 para realojar pessoas residentes em barracas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto através de apoio financeiro para construção ou aquisição de habitações. No entanto, o PER tem vindo a ser executado de maneira diferente pelas autarquias. Segundo avança o Público, a autarquia da Amadora diz já ter investido mais de 46 milhões de euros nos realojamentos, mas tem sido criticada pelos despejos nos bairros Estrela de África, Santa Filomena e 6 de Maio.
O Público refere ainda que as queixas «são sobretudo de pessoas que estão fora do PER, ou seja, os que como Amália não foram recenseadas pelo INH – Instituto Nacional de Habitação (hoje IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana) em 1993». Avança também que o bairro 6 de Maio tem sido demolido ao longo dos anos, mas mais sistematicamente desde 2015, sendo que em Dezembro «ainda lá estavam 77 agregados PER (dos 424 iniciais) à espera de realojamento». A autarquia não sabe quantificar as famílias sem direito ao PER . Para estes, as soluções que apresenta passam por um centro de acolhimento temporário ou um mês de renda e outro de caução, mediante apresentação de contrato de arrendamento. Vários moradores informam que muitas destas famílias não têm condições para alugar uma casa.
Rita Rato, deputada do PCP, esteve hoje presente no bairro, no momento em que a família estava a ser despejada. Afirmou em declarações à RTP que o PCP tem estado solidário com os moradores e, responsabilizando a autarquia e o Estado, sublinhou que se está a proceder aos despejos sem alternativa para as famílias. O PCP defende que sejam suspensas as demolições enquanto não houver alternativa para os moradores e que a curto médio prazo se encontre essa alternativa, acrescentou.