Segundo o Relatório Global da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Salários, Portugal foi um dos países em análise onde a proporção dos salários no rendimento nacional mais diminui, "com consequências sociais e económicas negativas".
"No domínio social, dissocia o crescimento económico do crescimento salarial, o que pode ser percecionado como injusto por um largo setor da sociedade, pondo em causa a coesão social", lê-se no documento.
De acordo com a OIT, em causa está ainda a diminuição do crescimento económico: "Isto porque a evidência empírica demonstra que, na maioria dos países, um aumento da proporção dos lucros no rendimento nacional não aumenta o investimento, mas diminui o consumo privado, uma vez que a propensão a consumir a partir dos salários é superior à propensão a consumir a partir dos lucros".
A tendência internacional é de diminuição da proporção dos salários no rendimento nacional, sendo que, de um total de 133 países analisados entre 1995 e 2014, esta proporção caiu em 91 países, manteve-se constante em 10 e aumentou apenas em 32.
A OIT sinaliza que a evolução da proporção dos salários no rendimento nacional justifica-se mediante a interação entre as taxas de crescimento dos salários reais e da produtividade média do trabalho.
Caso a taxa de crescimento média dos salários reais for maior do que a da produtividade, a proporção sobe, se for igual, a proporção mantém-se constante e se for inferior, a proporção desce.
Conforme assinala a OIT, a tendência global de queda desta proporção deve-se à "divergência persistente entre a produtividade média do trabalho e os salários reais".
Para inverter esta trajetória, os peritos da organização defendem que cada país deve reforçar a regulação do mercado de trabalho, nomeadamente através do reforço da contratação coletiva e do aumento do salário mínimo.
"A nível internacional, deve procurar-se aumentar a coordenação de políticas salariais, impedindo que vários países sigam estratégias de compressão salarial simultâneas cujos resultados são negativos para todos", lê-se no documento.
Estas medidas são ainda fundamentais para reduzir as desigualdades salariais, que têm vindo a aumentar desde 1995. Portugal é, inclusive, "um dos países mais desiguais".
Para diminuir a desigualdade de rendimentos, a OIT propõe ainda "um sistema fiscal mais progressivo bem como um sistema de proteção social mais amplo e eficiente".