Na conferência sob o lema «Karl Marx – Legado, intervenção, luta. Transformar o Mundo», para além do secretário-geral e de mais dirigentes do PCP, intervirão, entre outros, Avelãs Nunes, Barata Moura, Carlos Carvalhas e Manuel Gusmão. A Manuel Rodrigues, da Comissão Política do PCP e director do Avante!, caberá o encerramento da iniciativa, ao fim da tarde deste domingo.
Na intervenção de abertura, esta manhã, Jerónimo de Sousa falou da actualidade das ideias de Marx, que não são «uma doutrina revelada, mas uma teoria intrinsecamente ligada com a prática, que se desenvolve e enriquece em função das novas realidades e com o progresso dos conhecimentos científicos», com o objectivo estratégico de construir uma sociedade de homens livres. «Uma sociedade em que seja posto fim à escravidão assalariada a que a sociedade capitalista condena os trabalhadores por não terem nada de seu a não ser a sua força de trabalho, e que permite aos capitalistas que a compram, numa relação contratual aparentemente equitativa, fazer com que ela lhe produza gratuitamente um valor para além daquele que em troca retribui aos que a despendem sob a forma de salário», disse.
O secretário-geral do PCP rejeitou a ideia de que o património teórico de Marx seja «algo de intemporal e acabado, mas ponto de partida para novos aprofundamentos e novos desenvolvimentos no conhecimento e na resposta às realidades de um sistema assente na exploração capitalista, num mundo em constante mudança», sublinhando que a Revolução de Outubro, que trouxe consigo novas experiências e propiciou novos desenvolvimentos do pensamento marxista, «confirmou o carácter transitório do capitalismo e as teses fundamentais de Marx relativas à missão histórica da classe operária, ao papel das massas como o grande sujeito da transformação social, ao Estado e à superioridade da democracia socialista, à exigência de socialização dos principais meios de produção e outras».
Perante uma plateia atenta, que encheu o salão da Voz do Operário, Jerónimo de Sousa reafirmou as contradições insanáveis do capitalismo, «insaciável na avidez de apropriação e acumulação de capital sem limites». E a sua «natureza opressora com modalidades novas e mais complexas de exploração do trabalho e de predação planetária, que se acentuou com os processos de globalização capitalista e de financeirização da economia, ligadas que estão na resposta à queda tendencial da taxa média de lucro», procurando contrariar os efeitos da crise estrutural «através da baixa salarial, da redefinição do trabalho no sistema produtivo e da liquidação dos direitos económicos, sociais e culturais».
Por fim, alertou para a incapacidade do capitalismo em ultrapassar as suas próprias contradições, para as contradições entre o capital e o trabalho e a luta permanente em torno da taxa de mais-valia e entre carácter social da produção e a sua apropriação privada.
O desenvolvimento da crise do capitalismo, segundo o líder comunista, confirma as teses fundamentais de Marx, mas também de Lénine, sobre as leis que regem o capitalismo na sua fase imperialista e a globalização capitalista, cujos processos de liberalização planetária dos mercados e da livre circulação de capitais, «acentuam igualmente o processo de concentração e centralização de capital».
Manifesto comunista
Recorde-se, a propósito, que se assinalam também neste mês os 170 anos do Manifesto do Partido Comunista, um opúsculo de 23 páginas que seria publicado anonimamente em Londres, em 21 de Fevereiro de 1848, pelos jovens autores alemães Karl Marx e Friedrich Engels e que se viria a tornar um dos livros mais influentes do nosso tempo.
O Manifesto respondia à necessidade, sentida pela Liga dos Comunistas – de que ambos faziam parte – de apresentar aos operários e trabalhadores as suas ideias e o seu plano de acção, nesse mês de Fevereiro de 1848 em que a revolução tomava Paris, derrubava a monarquia e proclamava a República.
A efémera Revolução de 1848 ou «Primavera dos povos», como também foi chamada, foi a primeira revolução popular verdadeiramente europeia. Durante esse momento de fulgor, largas massas populares – operários, trabalhadores pobres, camponeses pobres – saíram às ruas, pegaram em armas, bateram-se contra a miséria, pela democracia e pela revolução social. Foram eles que morreram em maior número nas barricadas e na repressão que se seguiu à vitória da reacção.