*
Quando, como e porquê surgiu o indymedia?
O indymedia surgiu nos inícios de 2000, inspirado na rede indymedia que “nascera” meses antes em Seattle (Estados Unidos), ainda sob a designação azine.org e sem a possibilidade de publicação livre. Cerca de um ano e pouco depois aderiu à rede Indymedia, embora anos mais tarde o projecto tenha sido quase abandonado e ficado parado durante uns tempos.
O pt.indymedia actual surgiu a 30 de Novembro de 2009. Depois de alguns anos sem um indymedia em Portugal, um grupo de companheiras decidiu reactivar o site por considerar ser uma ferramenta fundamental para dinamizar a informação alternativa, nomeadamente ao permitir uma publicação sem censura por parte de todas as que se movem por um mundo mais justo e solidário, num servidor que não está nas mãos de grandes corporações
Como vêem hoje a informação alternativa em Portugal?
Consideramos que, com a explosão dos blogs e redes sociais, houve um enorme incremento de projectos informativos que procuram uma informação alternativa aos media mainstream. Na sua globalidade, parecem-nos projectos sérios e coerentes. De salientar também o surgimento de alguns projectos em papel. No entanto, consideramos que ainda falta muito para que essa informação alternativa ultrapasse os guetos onde nasceu e de onde pretende sair. E que lhe falta a capacidade de criar agenda(s) própria(s) em vez de ir atrás das agendas dos media empresariais.
O espaço alternativo e assembleário constituiu-se em Portugal (e Espanha) nos últimos anos em torno dos movimentos de rua e de ocupação de espaços públicos. Houve manifestações aguerridas, que hoje parecem não ter condições para se repetirem. Como vêem actualmente este movimento assembleário, de junção de lutas, e alternativo ao sistema representativo vigente?
Esse espaço, que na sua génese teve ideias interessantes do ponto de vista das formas políticas de agir e decidir, foi rapidamente tomado pelos aparelhos partidários, no caso português, ou transformado em partido político, no caso espanhol. No Porto, por exemplo, o Bloco de Esquerda não se inibiu de apresentar uma candidatura à Câmara Municipal, em que palavras como assembleia e colectivo estavam muito presentes, numa tentativa de lucrar com as saudades e o vazio deixado pelo Es.Col.A da Fontinha.
Parece-nos, no entanto, que este tipo de espaços são essenciais para a criação de uma política autónoma e anti-autoritária, mas terão que se desenvolver num processo mais local, como bairros e ruas, podendo, posteriormente, discutir com outras assembleias e procurar pontos comuns de luta. E levantando travões permanentes à entrada dos aparelhos partidários.
Perspectivas futuras para os movimentos anti-autoritários, horizontais e de acção directa em Portugal? E para a comunicação social alternativa?
Os movimentos anti-autoritários, horizontais e de acção directa deveriam ter um papel fundamental em altura de governo de esquerdas. Para manter o espírito de crítico aceso e para relembrar que a social-democracia da troika Costa-Catarina-Jerónimo é ainda um momento do capitalismo que o legitima mais do que pretende ultrapassar ou destruir. No entanto, entre uma esquerda que não pode falar e um movimento autónomo/anarquista demasiado virado para os seus espaços, haverá um tempo sem grandes lutas sociais.
Num momento que não distará muito, o perigo será – novamente – o dos movimentos autónomos não deixarem as suas práticas e as suas ideias serem colonizadas pelos aparelhos partidários ,que – mais uma vez – deverão voltar às loas sobre participação, horizontalidade, luta, democracia verdadeira e quejandos, assim que o cheiro das cadeiras do poder se começar a desvanecer.
A comunicação social alternativa terá o papel fundamental de trazer para o dia apenas a luz e as perspectivas que interessam a quem luta, permitindo que haja um contraponto visível à invisibilidade provocada pelo excesso de informação com que nos bombardeiam televisões, jornais e facebooks ou twitters.
O que é que o pt.indymedia ganhou com a constituição da Rede de Informação Alternativa?
Ganha-se sempre muito com a criação de redes de proximidade ideológica. É uma forma rica de manter as autonomias procurando pontos comuns e desenvolvê-los em função das necessidades e objectivos de todos os projectos envolvidos. O pt.indymedia está neste momento a criar um site novo, procurando corrigir os erros que teimam em persistir neste site actual e que prejudicam a dinâmica para a qual foi criado, sendo a possibilidade de publicação aberta a ferramenta que mais tem sido prejudicada.