O movimento No+AFP (Não mais Administradora de Fundos de Pensões) convocou para este domingo (26/03) um novo ato contra o sistema previdência do Chile, privatizado em 1981. Atos em todo o país, apoiados por diversas organizações sociais e trabalhistas, fazem da manifestação “uma das marchas históricas, talvez a maior da história”, afirmou Luis Mesina, porta-voz do movimento, durante entrevista coletiva neste sábado (25/03).
Segundo os organizadores, cerca de 800 mil pessoas participaram do ato em Santiago, totalizando mais de 2 milhões em todo o país. A polícia chilena, por sua vez, cifrou em 50 mil o número de participantes. No ano passado, cerca de 1,3 milhão de pessoas saíram às ruas em todo o país em agosto, e 750 mil manifestantes participaram da marcha anterior, de 24 de julho.
“Chamamos todas as famílias trabalhadoras do Chile para marchar massivamente este domingo para deixar claro que não queremos mais AFP, nem privada nem estatal, e não toleraremos reformas cosméticas que não dão solução real às baixas pensões nem à farsa permanente das quais os trabalhadores chilenos têm sido vítimas há mais de 36 anos”, declarou Mesina. O dirigente ainda afirmou que espera “que isso gere um impacto e vençamos esta indolência de parte das autoridades políticas que não querem escutar este clamor que pede a restituição de um direito fundamental”.
No ano passado, a presidente Michelle Bachelet propôs um projeto de lei de reforma do sistema previdenciário, mas que não eliminaria o regime privado, agregando a este uma espécie de AFP estatal. “Deveremos realizar mudanças dos parâmetros utilizados para avaliar as pensões e assegurar que o sistema não só seja justo como também sustentável”, afirmou Bachelet. “Iremos criar uma administradora de fundos estatais que acolha os trabalhadores que hoje carecem de cobertura previdenciária”, acrescentou.
As AFPs, empresas dedicadas a gerir o dinheiro dos contribuintes reservados à aposentadoria futura, surgiram durante a ditadura militar de Augusto Pinochet, que buscava uma forma de superar a crise econômica investindo as contribuições dos trabalhadores no mercado de capitais. Em poucos meses, surgiram no país 14 novas companhias dedicadas a este mercado, que prometiam uma aposentadoria de luxos e extravagâncias.
O movimento No+AFP propõe a substituição das administradoras por um sistema de distribuição com caráter tripartite e solidário, com financiamento por parte do empregador, Estado e trabalhador. Atualmente, mais de 90% dos aposentados do Chile recebe pensões inferiores a 154 mil pesos mensais (233 dólares), quase a metade do salário mínimo legal. O valor da aposentadoria que os trabalhadores recebem é determinado pela flutuação do mercado e o rendimento dos fundos alimentados pelos assalariados que depositam mensalmente nas AFP 10% de seu salário bruto.