Os trabalhadores argentinos combatem as políticas económicas de Macri. Uma inflação galopante e incontrolada (em 2016 atingiu os 41%) reduz o já fraco poder de compra da maioria dos assalariados.
Enquanto a greve dava as primeiras demonstrações de força, presidente Macri participava da abertura do Fórum Econômico Mundial para a América Latina: ‘que bom que estamos aqui trabalhando’, disse
A greve geral de 24 horas convocada nesta quinta-feira (06/04) pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) da Argentina parou algumas das principais cidades do país, como Buenos Aires, Rosário, Córdoba, Mendoza, Mar del Plata, Santiago del Estero e Santa Fe, nas quais houve interrupção total ou redução substancial da circulação de transportes públicos, além de manifestações e bloqueios de avenidas. Um dos protestos terminou com confronto entre manifestantes e policiais.
A paralisação foi convocada para mostrar posição contrária às políticas econômicas do presidente Mauricio Macri.
Em Buenos Aires, não circularam metrô, ônibus e trens. A cidade ficou deserta, já que lojas também fecharam, e praticamente só táxis circulam pela capital argentina. O governo decretou a gratuidade dos pedágios das estradas e dos estacionamentos públicos durante o dia de greve, a fim de incentivar os trabalhadores a comparecerem em seus postos de trabalho em seus próprios veículos.
Várias das vias principais da cidade, como a avenida Corrientes, foram bloqueadas pelos manifestantes, que ameaçaram se deslocar até o entorno do hotel onde está sendo realizado o Fórum Econômico Mundial para a América Latina, com a presença de Macri.
Ainda na região, policiais dispersaram manifestantes que bloquearam a rodovia Panamericana, que dá acesso a Buenos Aires. No confronto, houve feridos e dezenas de pessoas foram presas. Os piquetes também bloquearam a autoestrada Buenos Aires-La Plata, que liga a capital federal à capital da província.
Em Rosário, ao noroeste de Buenos Aires, houve interrupção de tráfego e protestos na frente de supermercados como Makro e Carrefour, feito pelos membros do sindicato do comércio. Em Santa Fe, que fica ao norte de Rosário, a greve teve alto impacto, segundo o jornal Clarín. A coleta de lixo foi interrompida, assim como o transporte público. Poucos estabelecimentos abriram na cidade.
A companhia aérea Aerolineas Argentinas suspendeu todos os seus voos nacionais e internacionais por 24 horas.
Macri
Enquanto a greve dava as primeiras demonstrações de força, Macri participava da abertura do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em um hotel de Buenos Aires. Ao começar seu discurso, o presidente da Argentina foi irônico. “Que bom que estamos aqui trabalhando”, disse, de acordo com o jornal La Nación.
Ele defendeu as medidas econômicas que seu governo tem tomado. “Fica claro que o que começou há 15 meses em nosso país é muito mais profundo que uma mudança econômica. É uma mudança cultural, baseada em uma aprendizagem de anos que nos levaram por caminhos equivocados e seguramente valores que não representavam a essência dos argentinos”, afirmou.
No entanto, os índices econômicos que o país apresenta nos últimos meses não são animadores. Em fevereiro, a inflação no país atingiu 2,5%, de acordo com números divulgados pelo Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos). Em janeiro, o aumento havia sido de 1,3% e, em 12 meses, o índice já atingiu 25,4%, com crescimento de 3,5% só no primeiro bimestre do ano.
A meta do Banco Central do país é de 17% para 2017, mas analistas ouvidos pela imprensa do país já consideram difícil que ela seja atingida, tamanho o incremento nos dois primeiros meses. A título de comparação, os mercados esperam para o Brasil, neste ano, uma inflação – no acumulado dos 12 meses – em torno de 4,5%.
Em janeiro, Macri trocou o ministro da Economia, mesma época em que se anunciou que a inflação em Buenos Aires – referência para todo o país – havia atingido 41% em 2016. O mandatário havia prometido 25%, com reduções ano a ano.