O principal envolvido no documento é o partido Ação Democrática e seus líderes, entre eles possivelmente o atual presidente da Assembleia Nacional e ferrenho opositor do governo de Nicolás Maduro, Henry Ramos Allup.
“Em vez de cortejar os eleitores venezuelanos, a estratégia de Ramos Allup tem sido solicitar apoio da comunidade internacional, como sugere uma entrevista do líder da AD [Ação Democrática] à imprensa. De fato, líderes da AD têm buscado explícita e repetidamente fundos e favores da Embaixada. Quando recusados por um oficial da Embaixada, eles pedem a outro”, afirma o então embaixador estadunidense na Venezuela, William Brownfield.
O documento, assim como muitos outros desclassificados e disponibilizados online pelo Wikileaks, foi publicado no livro Ecuador en la mira, escrito pelo pesquisador norueguês Eirik Vold e lançado em fevereiro deste ano, que trata das interferências dos EUA na política dos países sul-americanos, especialmente do Equador.
Em outro cabo recolhido por Vold em seu livro, é relatada uma reunião secreta entre funcionários da embaixada dos EUA em Caracas e o empresário Gustavo Cisneros. O milionário venezuelano é dono de um conglomerado de empresas e franquias na Venezuela, América Latina e Europa e está na lista das cinco pessoas mais ricas da América Latina. Entre as empresas de sua propriedade estão as redes de televisão Univisión, Venevisión e DirecTV, que têm uma linha opositora aos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, e que contribuíram para a manipulação midiática favorável ao golpe de Estado de 2002 que destituiu Chávez da presidência durante dois dias.
Segundo o telegrama, Cisneros se reuniu em 28 de dezembro de 2004 com o embaixador dos EUA em Caracas e pretendia se reunir pessoalmente com o então presidente George W. Bush, que no ano seguinte declarou a Venezuela a principal ameaça aos EUA no Hemisfério Ocidental.
“Resumo: Gustavo Cisneros, que tem massivos interesses comerciais na Venezuela e no Hemisfério Ocidental, acredita que deveríamos nos preparar para uma linha mais confrontante e de longo-prazo contra Hugo Chávez; temos muito trabalho adiante para desenvolver uma política coerente de contenção regional; e o governo dos EUA deveria se envolver mais amplamente na América Latina. Fim do resumo.”
O diplomata relata também que “Cisneros acredita que a contenção regional e internacional é a única política realista em relação a Chávez neste momento. Não é muito otimista enquanto ao apoio massivo. Está convencido de que, sem uma liderança clara dos EUA, não haverá nenhum tipo de contenção, em absoluto”.
Ainda durante o encontro, Cisneros ofereceu diversas sugestões de alianças para lutar contra Chávez, desde o financiamento estadunidense da ONG opositora Súmate (da política María Corina Machado) ao apoio da OEA e dos governos de Grã-Bretanha e Holanda.