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Diário Liberdade
Sábado, 19 Novembro 2016 02:32 Última modificação em Sábado, 19 Novembro 2016 13:46

Plano de Macri de “ir tirando” mediante endividamento se complica

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País: Argentina / Laboral/Economia, Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Esquerda Diário
No marco de tantas incertezas sobre o que gerará a chegada de Trump para a política econômica norteamericana e, consequentemente, para a economia global, uma coisa já é

certa. A Reserva Federal (Fed, o banco central dos EUA) se prepara para, em dezembro, subir as taxas de juros. Não se trata de uma mudança ocasionada pela eleição; já desde antes do dia 8 de novembro a presidente da Fed, Janet Yellen, havia antecipado a probabilidade de subir essas taxas em dezembro.

Porém, com o triunfo de Trump, essa probabilidade se conflui com a intenção, manifestada muitas vezes durante este ano pelo então candidato, de que haja mudanças na política monetária. Recentemente, seus assessores confirmaram que indicarão para uma política de maior gasto fiscal e menos estímulo monetário. Mais gasto fiscal significa mais déficit, o que também fará com que as taxas que paga o tesouro por se financiar subam. Então, tudo aponta no sentido das taxas nos EUA serem mais altas; consequentemente, também aumentarão as taxas que se fixam tomando como referência as dos bônus norteamericanos.

Como isso poderia afetar a economia argentina? Seguramente, se tem início uma tendência alcista* da taxa de juros, será complexo para que a Argentina baixe seu custo de endividamento (hoje por volta de 8%). Nesta semana, os bônus em dólares emitidos pela Argentina tiveram uma forte queda nas suas cotizações, superior a 7% (efeito que é o inverso de uma previsão de elevação nas taxas e antecipação de um panorama mais adverso)

Isto não necessariamente frustrará o plano de financiamento da Fazenda (que poderia chegar em 2017 com a bagatela de 60 bilhões de dólares como mostra o orçamento), já que a taxa oferecida pela Argentina seguirá representando um excelente negócio para os detentores de bônus se comparada com a taxa norteamericana, ainda que esta seja maior (não é prevista uma taxa muito superior a 2% dentro de um ano); porém significará que, para cumpri-lo, se seguirá pagando caro, e portanto se produzirá mais rapidamente a acumulação de passivos, espiral de endividamento que a Argentina conhece bem, e que sempre termina mal mais cedo ou mais tarde. Maiores custos significam que o governo deverá realizar mais cortes. Isso poderia significar que no ano eleitoral poderá recorrer menos ao “talão de cheques” do mercado internacional de bônus do que o esperado, se vendo obrigado a cortar planos de obras.

Se a hipotética elevação de taxas dispara um “salto de qualidade” dos capitais de curto prazo voltados à economias emergentes (aos quais a Argentina se somou recentemente, no último ano, depois de um longo período fora do radar dos especuladores), poderia haver uma seca internacional que reduza a entrada de dólares que o país vem recebendo daqueles que buscam aproveitar o excelente negócio financeiro que oferece o Banco Central (BCRA) com as Lebac, uma bicicleta financeira que fez com que a autoridade monetária acumulasse uma montanha de dívida cada vez mais difícil de administrar. Algo desse tipo pode ser visto nessa última terça-feira: o BCRA pagou vencimentos do Lebac por 90.845 bilhões de pesos, enquanto que pode colocar novas letras* por 67.016. Um indício de que alguns investidores estão passando do negocio da bicicleta em pesos voltando aos dólares.

É no valor das exportações daonde poderia ser o maior golpe. Se sobe o dólar (encarecido porque as maiores taxas tracionaram capitais favoravelmente a essa moeda) é esperável que o preço em dólares dos grãos que o país exporta se deteriore. Isso ocorreu em todas as recentes elevações da taxa do Fed. A combinação entre elevação de taxas e menos demanda da China (que prevê um crescimento menor no próximo ano), poderia ser fatal para a soja e outros grãos, fazendo com que voltem a ter uma tendência de baixos preços, como em 2014. Tudo isso incrementará a necessidade do governo de ajustar-se à dívida (ou seja, realizar cortes).

O que acontecerá no branqueamento*?

De imediato, os prognósticos altos do branqueamento de capitais se mantêm, e isso poderia se contrapor parcialmente a essa seca (ainda que boa parte do dinheiro branqueado não virá ao país). É certo, aqui Trump poderia frustrar as aspirações do governo: o governo Obama se comprometeu para que o IRS, organismo de arrecadação norteamericano, compartilhe com a AFIP a informação que tem sobre contribuintes argentinos. Isso poderia ser revisado por Trump. Se há sinais nesse sentido nos próximos meses, e os evadidos veem menos ameaça de serem expostos pelos bens e depósitos que têm nos EUA, isso poderia reduzir os números finais do branqueamento.

Investimentos em stand by

Dentro dos escassos anúncios de investimento que o governo vem reunindo, EUA é o país que se encontra em primeiro da lista dos países de origem no que diz respeito a investimento estrangeiro comprometido. A pátria de Trump explica os 14% dos compromissos de desembolso de capital que contabiliza a Economia. Dos muitos motivos que vem oferecendo o complexo panorama econômico local para frear a concretização desses investimentos, que tem a ver com a recessão assinada pelas medidas do governo, a queda econômica do Brasil e o débil crescimento mundial, no caso das corporações norte-americanas (mas também de outras origens) a incógnita Trump os adiciona outro motivo. À Argentina de Macri, apesar de sua aspiração de por o investidor no centro da cena, por hora seguirá sem a chegada da “chuva de investimentos”.

Seguir com o “plano B”

Em síntese, o governo de Macri deverá seguir cortando das obras públicas e uma certa moderação do ajuste (em relação ao choque que primou durante os primeiros meses de 2016) como bases para tentar reanimar a economia próximo às eleições. Embora a maior parte dos economistas afirmem que haverá recuperação em 2017 (ainda que são menos os que dizem que crescerá mais do que caiu esse ano), a data marcada para os brotos verdes seque sendo jogada para depois. Alguns já os anunciaram para o outono. Má notícia para as expectativas eleitorais do Cambiemos.

Tradução do texto: Se complica el plan de Macri de “ir tirando” mediante endeudamiento, por Ítalo Gimenes

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