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Quinta, 08 Dezembro 2016 21:18 Última modificação em Domingo, 18 Dezembro 2016 18:23

O golpe e a explosão do desemprego

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País: Brasil / Laboral/Economia / Fonte: Diário Liberdade

[Ricardo Ernesto Vasquez Beltrão] A propósito da matéria veiculada pelo EL PAÍS Brasil no último dia 03/12 sobre o aprofundamento da desigualdade na Europa, resolvi olhar os números relativos à situação brasileira, já que, como é sabido, o país viveu mais de uma década de redução da desigualdade. Segue o comentário a respeito.

No Brasil, o Índice de Gini da renda declinou continuadamente entre 2004 (0,555) e 2014 (0,497), mas o IBGE ainda não disponibilizou os dados relativos a 2015 e 2016. 

Entretanto, os dados mais recentes de trabalho e renda estimados a partir da PNAD contínua (IBGE), referentes ao trimestre encerrado em outubro último, são estarrecedores. 

Evidenciam que, nos últimos 12 meses (comparação com o mesmo trimestre do ano anterior), o número de desempregados cresceu quase 3 milhões, variando de 9,07 milhões de pessoas para 12,04 milhões (expansão de 32,7%). 

A taxa de desemprego evoluiu assim de 8,9% para 11,8% no mesmo período, com o fechamento de nada menos que 2,4 milhões de postos de trabalho. A queda só não foi ainda maior por decorrência do aumento (absoluto e relativo) do trabalho informal, da manutenção de empregos em setores de baixa remuneração (trabalho doméstico, por exemplo), e da expansão da administração pública, educação e saúde. 

Do ponto de vista setorial, a indústria está em queda livre, com redução de 9,1% no número de ocupados (1,16 milhões de postos de trabalho a menos), ocorrendo o mesmo com a construção civil (501 mil ocupados a menos), comércio (menos 454 mil), e até na agropecuária (menos 478 mil). 

O setor de serviços foi o único que, em termos agregados, apresentou ligeiro aumento no número de ocupados (+191 mil). Mas, neste caso, ocorreu forte deslocamento da ocupação em atividades nas áreas de melhor remuneração (redução de 585 mil postos de trabalho nas áreas de informação, comunicação, financeira, imobiliária, profissionais e administrativas) para outras nas quais os níveis de remuneração são inferiores.

Os dados da série histórica da taxa de desemprego existente desde que o IBGE iniciou a PNAD contínua (ver gráfico) desautoriza completamente o discurso de estelionato eleitoral amplamente disseminado. 

Reeleita a presidenta Dilma, a taxa de desemprego apurada no país foi de 6,5% (dezembro de 2014). As médias mensais verificadas a cada ano vinham caindo (7,32% em 2012, 7,21% em 2013 e 6,79% em 2014). A partir daí, com a economia já sob o comando do Sr. Levy, praticamente imposto pelas “forças do mercado” à Presidenta, e declarada a total deslealdade dos perdedores do pleito ao regime democrático, economia e emprego entraram em queda livre. 

E, ao contrário do que ocorreu no primeiro mandato da Presidenta, quando o aumento do desemprego nos primeiros meses de cada ano refletia não mais que os efeitos da sazonalidade, a partir de 2015 a taxa de desemprego começou a aumentar continuamente, à média mensal de 0,24% ao mês desde então. 

Assim, a comparação do último trimestre com a situação de dois anos antes (ago-set-out. 2014), quando o país vivia o pleno processo eleitoral, mostra que, desde então, ocorreu o fechamento de 2,7 milhões de postos de trabalho (3,0% a menos do que o saldo então existente), de forma concomitante com o aumento de quase 5,5 milhões no número de desocupados no país (crescimento de 83,3% em relação ao total então existente). 

Em outras palavras, a economia praticamente dobrou o número de desempregados nos dois anos que se seguiram ao início da crise política desencadeada a partir do não reconhecimento, pela direita, do resultado das urnas que consagrou Dilma como presidente pela segunda vez. 
Consequentemente, a massa salarial (rendimento de todos os trabalhos, habitualmente recebido por mês) declinou, em ternos reais, 3,24% nos últimos 12 meses, e 4,57% nos últimos dois anos. 

Com isso, o conjunto dos trabalhadores brasileiros perdeu, no último ano, a “bagatela” mensal de R$5,95 bilhões. Comparativamente a dois anos antes, a massa de rendimentos oriunda do trabalho encolheu R$8,5 bilhões ao mês. 

Nos últimos 12 meses o mercado interno foi assim corroído, também, pela perda de nada menos que R$82,0 bilhões de rendimentos oriundos do trabalho, comparativamente ao que se verificou nos 12 meses anteriores, quando já estava em queda livre. 

Assim, o Índice de Gini do rendimento mensal, que mede a desigualdade e que evidenciou continuada queda na concentração de rende no Brasil entre 2004 (0,555) e 2014 (0,497), dificilmente manterá a mesma trajetória quando a série considerar os dados de 2015 e principalmente os de 2016.

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