Mas a crise que geraram não se circunscreveu, evidentemente, ao plano político. Eles agora estão a caminho da plena devastação da economia nacional.
Recentemente mostramos, em artigo publicado nesta mesma página, o acentuado ritmo de crescimento do desemprego no país pós-eleições. Com base em dados oficiais, evidenciamos que nos últimos 24 meses ocorreu o aumento de quase 5,5 milhões no número de desempregados no país, com o fechamento de 2,7 milhões de postos de trabalho.
A diferença entre as duas cifras decorre do aumento do número de pessoas procurando trabalho, já que a crise afetou negativamente, de maneira muito forte, o poder aquisitivo da maior parte das famílias brasileiras.
De maneira a verificarmos se tal desempenho não estaria associado a tendência mais ampla no conjunto das economia mundial, comparamos aqui a evolução das taxas de desemprego nas quinze maiores economias do planeta – países com PIB superior a US$1 trilhão, que concentram 3/4 do produto mundial.
Os números mostram que este conjunto de países vem apresentando, apesar das dificuldades de recuperação econômica que o mundo enfrenta desde a crise de 2008-2009, inequívoca tendência de declínio (ou de estabilização, nos piores casos) das taxas de desemprego, conforme evidencia o gráfico que abre este artigo.
Somente o Brasil caminha em plena contramão, e em ritmo acelerado, com forte aumento do desemprego.
Após longo esforço, e de ter o país sido internacionalmente reconhecido como um exemplo em função do que se alcançou com um mix de políticas e programas sociais e, principalmente, da política econômica anticíclica adotada com sucesso na gestão Mantega (ainda no segundo mandato Lula, e conduzida com ótimos resultados nos cinco anos posteriores à crise), os resultados que, entre 2012 e 2014, finalmente nos situaram em níveis considerados por muitos de quase pleno emprego, foram já completamente destruídos no decorrer de 2015 e 2016.
A dinâmica da crise política induziu a econômica e tornou inviável o segundo mandato Dilma já a partir de outubro de 2014. A economia brasileira, que no final daquele ano experimentava taxa de desemprego (6,5%) situada abaixo da média então verificada para o conjunto das 15 maiores economias do planeta (7,4%), começou a desempregar como nenhuma outra.
E assim, rapidamente, superamos quase todos os outros países no ranking do desemprego, ultrapassando neste final de ano (11,8%) até mesmo a Itália (11,7%). Agora, a média apurada para as quinze economias (7,0%) está muito abaixo da nossa.
A única exceção, com desemprego maior que o do Brasil, permanece sendo o Estado espanhol (18,9%). Mas neste caso, como é amplamente sabido, o problema é estrutural, e vem de longa data. Mas também no Estado espanhol o desemprego vem caindo, pois atingira 23,7% no final de 2014 ([i]). Além disso, o país segue com democracia.
É fundamental destacar aqui que a elevação do desemprego no Brasil neste período vem perversamente acompanhada de fechamento de enorme número de postos de trabalho, correspondendo a um declínio de 2,93% no “estoque” de pessoas ocupadas quando comparados o final de 2014 e o final de 2016 (dados de outubro de cada ano).
Em nenhuma das demais economias em questão se verificou tal tendência. No período em questão, em todas elas ocorreu aumento do número total de ocupados, em proporções nas quais os “estoques” variaram positivamente entre o mínimo de 0,26% na China e o máximo de 5,84% na Espanha. Assim, enquanto no Brasil foram extintas 2,7 milhões de vagas (conforme já afirmamos), nas outras 13 economias com dados disponíveis foram criadas 15,6 milhões, e todos os países, sem exceção, contribuindo positivamente para tal resultado ([ii]).
Assim, enfrentaremos no Brasil o mais desanimado natal das últimas décadas. Estamos vendo nossa democracia e instituições em falência, e as oportunidades de trabalho em extinção. Agora, o nosso dia tem sido a luta contra a erosão do pouco que ainda resta das demais instituições do Estado brasileiro.
Entre outras tantas razões, também pelo derrocada do mercado de trabalho o atual (des)governo já não dispõe de qualquer credibilidade, mesmo entre aqueles que, desde o ano passado, foram às ruas reivindicar a queda da Presidenta eleita.
Até que ponto, e de que forma, as classes trabalhadoras serão capazes de suportar os efeitos, em seu cotidiano, dos desmandos e do entreguismo dos golpistas, é hoje a grande interrogação nacional.