No dia 19 de novembro, conforme noticiado na edição 181 de AND, PMs assassinaram 7 homens com tiros de fuzil e golpes de faca em invasão à Cidade de Deus (CDD), Zona Oeste da cidade. Os corpos foram encontrados por parentes das vítimas e líderes comunitários na mata que margeia a favela. Dias depois do ocorrido, a equipe de reportagem de AND esteve na Cidade de Deus e conversou com uma comunicadora e líder comunitária que preferiu não se identificar.
— Nós já estávamos esperando uma operação violenta da polícia. Quando vimos o helicóptero caindo, imaginamos que eles invadiriam a CDD para derramar sangue. Desde que passou o período de eleição, as operações aqui têm acontecido diariamente e em todas essas ações alguém acabou ferido ou perdeu a vida. Mas dessa vez o que aconteceu foi um massacre. Os moradores do Karatê disseram que viram os jovens sendo levados para a mata com vida pelos policiais. Algumas pessoas relataram que era possível ouvir os gritos dos meninos sendo torturados e os disparos que provavelmente tiraram a vida dos sete. A gente tenta fazer um trabalho de denúncia da violência policial aqui na favela, mas é muito difícil bater de frente com os grandes veículos de comunicação, que promovem uma campanha de ódio contra os favelados — disse a líder comunitária.
No dia 21 de novembro, policiais militares invadiram a favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, e mataram ao menos mais duas pessoas. A esposa de uma das vítimas — Marcelo da Silva Aguiar, de 32 anos — disse que seu marido era trabalhador e teve seus objetos roubados por PMs depois de ser assassinado.
— Levaram tudo do meu marido. Relógio, cordão e a aliança. E ainda tem gente que chama isso de polícia. Fico tentando entender a finalidade disso tudo. Eles entram aqui, matam morador e vão embora. O tráfico continua. É porque nós somos pobres e para eles a nossa vida não vale nada— diz a esposa de Marcelo, que segundo ela, trabalhava como serralheiro.
No dia 11 de dezembro, menos de um mês depois da bárbara chacina na CDD, a polícia promoveu nova invasão à favela, vitimando o jovem Yuri Lourenço da Silva, de 19 anos, que foi baleado no rosto por PMs da UPP e morreu no local. O rapaz era filho da funkeira Tati Quebra Barraco, que estava em um show quando recebeu a notícia de que seu filho havia sido assassinado.
— Quando você é preto e pobre, a polícia te mata. Os policiais ainda tiraram fotos dele baleado e espalharam pelo Facebook. Eles não têm direito de tirar a vida de ninguém. Eu estou indignada e vou lutar até as últimas consequências por justiça para os assassinos do meu filho. Os moradores da CDD não aguentam mais tanta violência— disse a cantora, minutos depois de receber a notícia.
Em outras regiões da cidade, também as invasões da PM deram prosseguimento aos crimes contra o povo. Na semana que completou um ano da Chacinha de Costa Barros — episódio no qual cinco jovens foram assassinados com 111 tiros em uma blitz policial — o 41º batalhão da PM fez uma operação no Complexo do Chapadão e matou três pessoas. Segundo moradores, todos foram executados sumariamente.
Nesta mesma semana, foi realizado um importante ato em frente ao Tribunal de Justiça (TJ-RJ) marcando um ano do criminoso genocídio. Os familiares dos jovens exigiram justiça para seus filhos e a punição dos policiais executores da chacina. Até hoje nenhum dos agentes de repressão envolvidos na chacina de Costa Barros foi julgado, chegando inclusive a serem postos em liberdade por um habeas corpus em junho deste ano.
Já no Complexo da Serrinha, em Madureira, uma invasão do 9º batalhão da PM feriu duas pessoas, e uma criança resultou baleada em operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), ao que os moradores responderam com justas manifestações bloqueando o trânsito na região. Nos dias 2 e 8 de dezembro barricadas em chamas foram erguidas nas principais avenidas do bairro e um ônibus incendiado.
A equipe de reportagem de AND segue denunciando o genocídio promovido por esse sanguinário e velho Estado em decomposição nas favelas do Rio de Janeiro e continuará a noticiar as combativas manifestações e levantes das populações desses bairros pobres.