O massacre ocorreu a partir da disputa entre facções criminosas rivais: a Família do Norte (FDN), da própria região e aliada ao Comando Vermelho, grupo criminoso do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), originado em São Paulo e espalhado por todo o país.
Além dos próprios criminosos, os assassinatos foram realizados pela polícia. Segundo relatos de familiares de algumas vítimas fornecidos ao Jornalistas Livres, policiais massacraram sumariamente os detentos.
“A minha amiga estava lá dentro [do presídio] e eles [policiais] mataram na frente dela. Depois mandaram as meninas virarem de costas e [continuaram] matando”, disse uma mulher que não quis se identificar, para não sofrer retaliações das forças de repressão.
“Eles são mais bandidos do que os que estão presos lá”, desabafou. Segundo ela, alguns detentos se entregaram à polícia, que, no entanto, continuou a chacina. “Um homem falou: 'não, senhor, não me mate', e assim mesmo ele matou. Eles não tinham pena”, denunciou, desesperada. Ela disse que os policiais viram um grupo de fugitivos dentro de um ônibus, mandaram descer e os assassinaram. “Polícia é pior do que os bandidos que estão lá”, reforçou, indignada.
Uma outra testemunha revelou que seu filho também foi assassinado. Apesar de não ser membro de nenhuma facção, ele foi colocado junto com presidiários do PCC, provavelmente devido à superlotação. “Me tiraram a única coisa que eu tinha na minha vida, que era meu filho”, contou, emocionada.
Familiares das vítimas tiveram acesso pelo WhatsApp a vídeos mostrando o massacre. Elas cobraram justiça e indenização do governador do Amazonas, José Melo (PROS), a quem colocaram a culpa pelo massacre.
Além da polícia, a má organização do presídio, cedido a um consórcio, é uma das principais causas do derramamento de sangue – decapitações, mutilações, assassinatos sumários, etc.
O Compaj tinha 1.224 presos para somente 454 vagas, uma superlotação de 170%. Isso facilitou que membros das facções rivais fossem colocados lado a lado, pessoas juradas de morte, homens e mulheres.
Em todo o Amazonas, o excedente nas prisões é de 190%.
Segundo o Jornalistas Livres, o consórcio recebeu R$ 205,9 milhões do governo do estado para administrar por 27 anos cinco unidades prisionais no Amazonas. As empresas são responsáveis pelos serviços de gestão, operação e manutenção.
O massacre em Manaus é o maior desde o que ocorreu em 1992 no Carandiru (São Paulo), segundo o G1. O Massacre do Carandiru teve 111 vítimas, sendo ao menos 77 mortas pela Polícia Militar. Porém, apesar de 74 policiais chegarem a ser considerados culpados pelas mortes, seus julgamentos foram anulados no ano passado.