Três integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram baleados em uma emboscada numa fazenda na cidade de Capitão Enéas, no norte de Minas Gerais, no fim da tarde deste domingo (9). O ataque ocorreu quando os trabalhadores se dirigiam para uma reunião na fazenda Norte América, convocada pelos seus administradores, quando foram surpreendidos por pistoleiros.
"O administrador da fazenda insistiu por uma reunião e nós acabamos aceitando. Ao chegar à cancela fomos recebidos a bala por cerca de dez jagunços. Eles atiraram sem dó e nem piedade. Tinha crianças, idosos, grávidas. Nós vimos o dono da fazenda no lugar. Pedimos pra não atirar. Abaixamos pra não sermos baleados, foi uma covardia", conta Géssica Thais Gonçalves Freitas, de 24 anos, que levou um tiro na perna.
Os feridos relataram que o proprietário da fazenda, Leonardo Andrade, dirigia uma caminhonete enquanto os pistoleiros atiravam de cima da carroceria. Os cerca de 300 trabalhadores que se dirigiam à reunião estavam desarmados, segundo o MST.
Entre os feridos, além de Géssica, estão Fabrício Alvins Lima, baleado na barriga, de 31 anos, e Vildomar Oliveira Gomes, também de 31 anos, baleado no pescoço. Outras pessoas foram feridas com tiros de raspão, entre elas uma criança de dez anos, atingida no rosto. A polícia militar está no local colhendo depoimentos dos envolvidos.
De acordo com o MST, a fazenda Norte América, que pertence ao grupo Soebras, da família Andrade, tem 3 mil hectares e era improdutiva. Foi ocupada em janeiro deste ano, por cerca de 650 famílias, e que já estariam produzindo.
Leonardo Andrade, sócio do ex-prefeito de Montes Claros (MG), Rui Muniz, se identificou como proprietário e se dispôs a vender as terras ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que deveria destiná-las à criação de um assentamento. A morosidade do Incra é apontada como uma das causas do acirramento do conflito.
A Soebrás é uma das várias entidades tidas como filantrópicas ligadas a Ruy Muniz que estão sob investigação por desvio de recursos federais e da prefeitura de Montes Claros. A suspeita é que a fazenda era utilizada pelo ex-prefeito e seus sócios para lavagem de dinheiro. Com dívida milionária, foi arrematada pelo grupo Sociedade Educativa do Brasil (Soebrás) – a dívida, porém, nunca foi paga.
Ruy Muniz foi preso em 2016, no dia seguinte à votação do impeachment de Dilma Roussef. Na ocasião, sua mulher, a deputada Raquel Muniz (PSD-MG), dedicou o voto à integridade moral do marido afirmando que "o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós, com sua gestão. Por isso eu voto sim, sim, sim".
Atualmente Rui Muniz responde a processo por estelionato, falsidade ideológica, prevaricação e desvio e/ou apropriação de recursos públicos. Alguns de seus sócios foram detidos em 2016, dentre eles Leonardo Andrade, que ocupou o cargo de secretário de Desenvolvimento Sustentável, Meio Ambiente e Agricultura na prefeitura.
Segundo a Polícia Militar de Capitão Enéas, dois funcionários da fazenda foram presos e dois revólveres e munição foram apreendidos. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Montes Claros.
Com informações do MST.