“Pelo Brasil”, “pelo povo brasileiro”, também foram frases proferidas por parlamentares para justificar o “sim” durante o circo midiático da votação pela destituição da presidenta eleita. Os supostos patriotas afirmavam que o PT e o governo Dilma haviam “destruído o Brasil”.
Com a mesma retórica, o governo que assumiu após esse golpe justificou o congelamento nos investimentos sociais devido ao “rombo” deixado por mais de uma década de “desgoverno” petista. Seria necessário, então, uma terapia de choque para colocar as coisas no lugar.
A entrega da Petrobras cada vez mais para o capital estrangeiro, a destruição de ramos importantes da indústria nacional, como a construção civil e o desenvolvimento do programa nuclear (prisão do almirante Othon Pinheiro), o programa de privatização e as contrarreformas da previdência e trabalhista indicam que os patriotas que gritaram “Fora PT” – muitos dos quais apoiam as atuais medidas – são, na verdade, traidores do povo brasileiro.
Nas relações internacionais, a política tradicional brasileira de buscar seu espaço em um mundo multipolar e o fortalecimento da colaboração com países do Terceiro Mundo e em especial da América Latina está sendo abandonada. Os ex-senadores do PSDB José Serra (que saiu do MRE devido a dores nas costas – provocadas pelo excesso de submissão aos ditames imperiais, alguns dizem) e Aloysio Nunes, da panelinha golpista, passaram a enfatizar a “reaproximação” com os EUA e atacar os governos progressistas que sobraram na América do Sul, especialmente a Venezuela.
É perto desse último país que mais um crime de lesa-pátria será praticado, em novembro. O Exército brasileiro, uma força que, assim como os principais mecanismos do Estado, se agitou durante o processo de golpe institucional, convidou tropas dos EUA para efetuarem um exercício militar na Amazônia.
A desculpa é a velha história de lutar contra o crime transnacional e de prestar socorros humanitários. O aumento da “capacidade de pronta resposta multinacional, sobretudo nos campos da logística humanitária e apoio ao enfrentamento de ilícitos transnacionais” é o objetivo principal, segundo informou o Exército à BBC Brasil.
A falácia do combate ao narcotráfico levou os EUA a violarem a soberania de países da América do Sul nas últimas décadas, como no caso colombiano, cujos sucessivos governos são o principal fantoche estadunidense na região.
A Colômbia é um dos países que participarão do exercício militar na Amazônia. No final do ano passado, esse país se aproximou ainda mais dos EUA ao ver avançadas as negociações para uma parceria com a OTAN, o que permitiria à organização militar interferir diretamente na América do Sul.
O outro país que fará parte da operação militar conjunta é o Peru, que, assim como a Colômbia, foi parceiro importante dos EUA para contrabalancear com os governos progressistas na América do Sul na última década. Este ano os EUA iniciaram a construção de uma nova base militar naquele país, que deverá ser concluída em 2018. O pretexto novamente é a possibilidade de “ajuda humanitária”. Sua localização fica justamente na Amazônia peruana, onde já existem outras três bases estadunidenses.
Violação à soberania da América do Sul
Os EUA sempre se preocuparam com a Amazônia. Não por que sejam ecologistas, obviamente. Mas por causa de suas gigantescas riquezas naturais e de seu posicionamento estratégico.
A cidade de Tabatinga, no estado do Amazonas, será a sede do exercício militar. Ela faz fronteira com a Colômbia e com o Peru. Nela, será montada uma base internacional temporária para receber as tropas e equipamentos. O Exército brasileiro nega que possa haver futuramente uma base multinacional na Amazônia brasileira.
Mas fica claro que a submissão aos interesses dos EUA e a entrega das riquezas do Brasil ao imperialismo é uma política fundamental do governo golpista, orientado justamente pelos EUA.
O exercício militar também demonstra um passo a mais na recuperação da América do Sul por Washington. Após aplicar golpes e desestabilizar todos os governos progressistas da região, os EUA retomaram o controle da maioria dos países e agora é a vez de atacar diretamente a Venezuela.
A integração sul-americana, levada a cabo pelos governos de esquerda e centro-esquerda durante o início dos anos 2000 está rapidamente se desfazendo, perdendo o que havia conquistado de soberania e independência, seja política ou econômica.
Aqueles “patriotas” artificiais made in USA que chegaram a pedir intervenção dos EUA para que o Brasil não se tornasse uma Venezuela, exigindo a queda de Dilma e do governo “bolivariano”, devem estar gostando. Afinal, derrubaram um governo e contribuíram com este cerco à Venezuela. Talvez não tenham a coragem de prestar apoio público à possível futura entrega da Amazônia aos EUA, ao controle militar norte-americano.
Mas o governo que eles colocaram após o golpe parece estar cumprindo plenamente essa tarefa.