A condenação e prisão de Lula por um crime inexistente, com provas que só possuem validade na cabeça de quem proferiu as sentenças serviu apenas como gota d’água para expor o tamanho do arranjo político iniciado em 2016, com a deposição da Presidenta Dilma Rousseff sem fundamentação concreta. Que sofremos um golpe de estado formal é fato reconhecido por toda a imprensa e pelos organismos internacionais. Qual o resultado disto internamente? Cabe à sociedade decidir.
Apesar da supremacia do nome de Luís Inácio Lula da Silva como principal nome da política nacional, não verificamos um retorno imediato destes votos para os outros quadros políticos do campo de esquerda: Haddad (PT), Boulos (PSOL) e Manuela (PCdoB). Talvez o problema seja exatamente a estratégia de fragmentação das candidaturas, o que hoje já é um debate inviável em razão da oficialização dos nomes.
Na verdade, o sucesso ideológico do neoliberalismo na década de noventa não se repetiu com o golpe no Brasil. Um dos fatores talvez possa ser encontrado num velho brocardo do marxismo: “as pessoas formam consciência no processo de produção e reprodução da vida real”. Ou seja, como em apenas 2 anos sem a administração petista tivemos uma queda drástica da qualidade de vida e dos indicadores sociais? A resposta é simples, o modelo econômico proposto pela sanha golpista é a raiz do fracasso. Não há como sustentar pleno emprego retirando os investimentos do campo produtivo e transferindo estes para a orgia do mercado financeiro. Uma prova disto é que a grave crise financeira de 2008, durante a gestão do PT, foi uma “marolinha” no Brasil, já a insignificante crise da Turquia elevou o dólar a patamares absurdos. Em síntese: dentro de uma economia estagnada, sem produção e consumo, a nossa moeda é uma mercadoria instável. Este é o verdadeiro fruto do golpe: desemprego, pobreza, marginalização, violência e instabilidade econômica. Não existem alternativas sólidas dentre do projeto que levou Temer (MDB) ao poder.
O problema agora é como superar o desencantamento com a política derivado da superlativização do discurso da corrupção. Sem Lula, as taxas de abstenção (incluindo brancos e nulos) crescem. Não considero a candidatura imbecilizada de Bolsonaro (PSL) como alternativa concreta da direita. Por outro lado, foi este esvaziamento da política o principal fator que redundou na eleição de figuras patéticas às prefeituras do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre em 2016. Curiosamente, sem o PT o combate à corrupção acabou e o país entrou numa crise econômica sem precedentes. Com o esvaziamento da política, tais problemas não podem ser enfrentados.
* Advogado no Rio Grande do Sul, especialista em política, mestre em ciências sociais pela Universidade Federal de Pelotas.