Essa campanha – que alguns setores do PT têm a ilusão de que estaria a favor da unidade contar o Bolsonaro – tem o claro objetivo de buscar acalmar os ânimos diante de uma situação há muito polarizada, pela reação dos explorados e suas organizações de luta, ou seja, da esquerda, ao golpe de Estado e à ofensiva da direita contra o povo trabalhador e a economia nacional. Apesar da divisão eleitoral, inicial, e da crise e atritos ainda vigentes em torno do futuro governo, a burguesia golpista (de “centro” e e de extrema direita) tem acordo sobre a necessidade de dar sequência e aprofundar os ataques desferidos pelo famigerado governo Michel Temer, por eles criado e sustentado. e ao combater o “radicalismo” quer, na verdade, desarmar a esquerda e sua reação a essa ofensiva. Em outras palavras: querem que os explorados aceitem passivamente o fim das aposentadorias, a nova onda de privatizações, a destruição completa do ensino e saúde públicas, milhões de novas demissões, o brutal aumento da repressão e até mesmo o comando direito do País pelos militares, em uma nova ditadura etc. sem lutar, sem “promover o caos”, respeitando as “regras do jogo” que eles impõem a cada momento, de acordo com seus interesses.
Do ponto de vista prático, essa campanha tem duas facetas principais.
Do ponto de vista da direita, nem um passo em direção a um suposto “centro”, a um “distensionamento” foi dado. Pelo contrário.
Em apenas quatro dias da “campanha” do segundo turno, já foram registrados mais de 60 casos de agressões contra mulheres, homossexuais, negros, ativistas de esquerda etc. promovidos por grupos de fascistas, apoiadores da candidatura dos fascista Jair Bolsonaro (PSL). Não se trata de uma novidade. A direita dá sequência ao que foi feito no primeiro semestre e na “campanha” do primeiro turno, quando, entre outros muitos casos, os covardes direitistas espancaram padres, mulheres, sem terra e atiraram contra a caravana do presidente Lula no Sul do País, tudo com o beneplácito do “centro” e e em consonância com o judiciário, que violava abertamente a Constituição Federal para condenar, sem provas, prender e perseguir Lula e outros dirigentes da esquerda.
Buscando enfrentar as pressões para que se apresente como “Jairzinho paz e amor”, o presidenciável e candidato ungido pelas “urnas” da eleição mais fraudulenta das últimas décadas, apresentou como possíveis nomes para seus ministérios vários generais, defensores do golpe militar e que, como ele, defendem a tese de que “não houve ditadura no País”, tese endossada recentemente endossada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) – já sob a devida “orientação” do seu general assessor que “ganhou” a partir de sua posse no comando daquele órgão supostamente incumbido de “zelar pela Constituição”.
Dentre os “gorilas”, “candidatos” a ministro, a campanha de Bolsonaro apresentou os generais Augusto Heleno – um dos coordenadores de sua campanha à Presidência, cotado para o Ministério da Defesa; Osvaldo Ferreira , que já trabalha no plano de governo de Bolsonaro, como possível ministro dos Transportes; Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-Secretário Nacional de Segurança do governo golpista de Michel Temer, cotado para reassumir o cargo ou ministério correspondente; além do seu vice, general Antônio Hamilton Mourão, ex-secretário de finanças do Exército e que há anos faz pública pregação a favor do golpe militar, além de defender o fim do 13º salário, das férias, da relativa estabilidade no emprego dos servidores públicos etc. Há também o general Richard Fernandez Nunes, atual secretário da Segurança no Rio de Janeiro, nomeado após a intervenção militar naquele Estado, apresentada por ele e por outros generais como “um laboratório” para todo o País e que está servindo para promover um aumento da repressão contra o povo trabalhador das comunidades operárias do Rio de Janeiro, estado mais afetado pelo agravamento da crise econômica promovido pelo golpe de Estado.
Além desses proeminentes inimigos do povo, a cúpula bolsonarista também divulgou como possíveis ministros os empresário Stavos Xanthopoylos, que atua nos negócios do Ensino à Distância (EaD); é diretor de relações internacionais da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), um dos principais conselheiros de Bolsonaro para Educação, ou para a destruição do ensino público; e o ruralista Nabhan Garcia, presidente da UDR (União Democrática Ruralista), fundada pelo senador e governador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Ou seja, a direita age na preparação dos novos ataques, a partir do governo e na ofensiva contra a esquerda, para conter a mobilização popular.
Do lado da esquerda, o caminho é o da “pacificação” que, na prática, significa se render à pressão da direita golpista (disfarçada de centro) para não mobilizar por suas reivindicações e buscar uma conciliação com os inimigos do povo.
Também aqui não há novidades, mas um agravamento da política anterior.
A justificativa para a adoção da política de “direitização”, de se igualar ao inimigo, de diminuir a polarização e o confronto, é a de que ela seria a mais adequada para “ganhar votos”. Isso, no entanto, não tem nenhuma comprovação na realidade. Para ganhar da direita nas últimas eleições presidenciais o PT teve que “radicalizar” seu discurso e atacar o PSDB e seus aliados por sua política privatista, por quererem acabar com o bolsa família etc. Por outro lado, onde buscou realizar um discurso mais conciliador e até afirmou que “golpe era uma palavra muita dura” (como fez Haddad na campanha de São Paulo) não só perdeu as eleições como semeou desânimo e confusão entre seu próprio ativismo.
A situação é mais grave, porque o comando da campanha da esquerda passou ainda mais para as mãos dos defensores do “plano b”, que defendiam bem antes das eleições abandonar a candidatura de Lula, conciliar com os golpistas em chapas comuns com os partidos que votaram a favor da deposição de Dilma e votaram a favor das “reformas” de Temer contra os trabalhadores etc.
Esta política desarma os trabalhadores e suas organizações para lutar contra a ofensiva da direita agora – quando estão massacrando covardemente dezenas de ativistas e pessoas indefesas em todo o País – e mais adiante, frente a uma possível vitória eleitoral da direita, que se avizinha.
Pregar a “frente ampla” com os inimigos do povo, com os golpistas, com os partidos dos banqueiros, entrar em sintonia com os “conselhos” da imprensa capitalista, de nada serve para enfrentar os ataques e ameaça real de um governo fascistoide e de um golpe militar (inclusive amparado no fraudulento resultado eleitoral).
Não vai ser ao lado de FHC, Alckmin, Joaquim Barbosa, Ciro Gomes etc. que os trabalhadores e suas organizações, a esquerda, irão enfrentar os fascistas (apoiados de fato pela direita, pelo “centro”) e seus ataques. Não vai ser abandonando as suas reivindicações que a esquerda irá mobilizar os setores que querem lutar contra o golpe e derrotar a direita. Não vai ser se afastando de Lula e Zé Dirceu, que estão condenados e cumprindo pena (sem delatar com falsidades seus companheiros), que a esquerda vai apontar para os trabalhadores e a juventude o caminho para superar o retrocesso representado pela candidatura de Bolsonaro, pelos generais que o apóiam e por todo o regime político reacionário. A ala supostamente antifascista do regime político é a ala mais pró-imperialista do golpe e, portanto, a principal inimiga dos trabalhadores. Foi ela quem criou Bolsonaro e que agora tenta em vão contê-lo. Essa ala usa argumentos – repetidos pela esquerda burguesa e pequeno burguesa – como a suposta “luta contra o fascismo”, sem luta, só com capitulação, discursos e concessões. E, importante lembrar, foi um dos setores mais prejudicados nas eleições. A direita abandonou em certa medida o PSDB e migrou para o PSL de Bolsonaro. É uma situação de polarização e, no entanto, setores do PT acreditam que devem se juntar ao “centro”
É preciso superar essa política de derrotas e capitulação que domina o cenário político da esquerda, desde o abandono da candidatura de Lula, e está criando um ambiente propício, facilitador da ofensiva que a direita está desenvolvendo.