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Sexta, 26 Agosto 2016 11:11 Última modificação em Sexta, 26 Agosto 2016 17:43

Entrevista com Professor Francisco Maciel Silveira

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País: Brasil / Cultura/Música / Fonte: PGL
No Brasil, a expressão “Agora Inês é morta” é bem popular, para expressar “agora é tarde” ou “não tem mais solução”. O que poucos sabem é como surgiu essa expressão, trazida pelos portugueses durante a colonização do país.

Para as novas gerações, a triste história de Inês de Castro ou mesmo os versos de Camões, são tão distantes da realidade como desconhecidos da maioria dos alunos brasileiros.

Com objetivo de reverter essa situação e aproximar os mais jovens dos clássicos da Literatura e História, o professor de Literatura Portuguesa da USP, Francisco Maciel Silveira publicou pela Editora Kapulana o livro “O Caso de Pedro e Inês – Ines(quecível) até o fim do mundo” em formato de cordel

Para contar a história de Pedro e Inês, o professor Maciel chamou o ilustrador Dan Arsky e juntos criaram um envolvente livreto de cordel, mas com a estrutura da epopeia clássica,  dividida em Invocação (para prender a atenção do leitor), Argumento (convencimento do leitor), Narração e Moral da história.

O Espaço Brasil conversou para o PGL com o Professor Maciel. Acompanhe os melhores momentos.

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Qual foi a motivação para escrever em formato de cordel um clássico da literatura portuguesa?

Creio seja preciso atrair a atenção do aluno, fazê-lo conhecer o sabor do saber. O cordel traz um apelo em nosso inconsciente coletivo, além de ser uma forma muito usada no século XVII português, procurando apresentar os assuntos de uma forma agradável e palatável. Já experimentei por outra editora um cordel acerca da vida e obra de Eça de Queiroz: “Eça de Queiroz: O Mandarim do Realismo Português”.

Em sua opinião, a história de Pedro e Inês nesse formato, pode gerar discussões e interpretações para as novas gerações?

A ideia desse cordel objetiva exatamente gerar discussões e interpretações, ao apresentar aspectos nem sempre divulgados pela crítica acadêmica. Por exemplo, o fato de Pedro, o Cru, não ter sido flor que se cheire.

O caso de amor é entre uma galega e um português, como o senhor analisa o desconhecimento brasileiro sobre a origem galega da Língua Portuguesa?

Parece-me que o problema está no fato de que o galaico-português só aparece nas cantigas medievais de amigo e amor. E essa leitura, graças ao vocabulário, é difícil para o aluno, mesmo na faculdade.

Como podemos reverter isso?

Talvez utilizando manifestações teatrais, para apresentar os autores medievais portugueses. A teatróloga portuguesa Júlia Nery tem uma peça teatral apresentando a figura de D. Dinis, introduzindo o aluno na vida e obra do poeta. Aliás, desenvolvo na Pós-Graduação da Literatura Portuguesa um projeto intitulado A Literatura e a História Portuguesas à luz do Teatro, objetivando estudar a literatura e a história de uma perspectiva teatral, enriquecida pela visão criativa do autor. Quem sabe assim desperte o interesse do aluno.

O senhor lançará novos clássicos futuramente? Quais? (em caso positivo)

A Editora Kapulana está com um texto meu que, dialogando com Mensagem, de Fernando Pessoa, e Os Lusíadas, oferece em quadras uma História do Brasil vista por personagens históricas nascidas em São Paulo. Título: Pelas Quadras da História.

O Brasil é um país que não lê? Com sua experiência acadêmica, isso é verdade ou mito? E porque isso ocorre?

Infelizmente, é verdade. O que temos, as mais das vezes, são analfabetos funcionais, incapazes de ler e interpretar um texto. Às vezes penso tratar-se de uma política educacional, visando a manter nosso povo na ignorância. Torna-se mais fácil manipular uma clientela desinformada.

Quais os livros brasileiros o senhor indicaria para formar novos leitores de Língua Portuguesa na Galiza?

Não poderia faltar Machado de Assis com Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Graciliano Ramos com Vidas Secas. Jorge Amado com Os Velhos Marinheiros. Os livros de contos de Dalton Trevisan.

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FRANCISCO MACIEL SILVEIRA

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Professor Titular de Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde obteve os títulos de Mestre, Doutor e Livre-Docente, com trabalhos em torno da oratória sagrada dos Padres António Vieira, Manuel Bernardes e da comediografia de António José da Silva, o “Judeu”.

Crítico literário, tem publicados ensaios e resenhas em periódicos do Brasil e do Exterior. Ficcionista e poeta, com mais de vinte prêmios literários nos âmbitos da ficção, poesia e ensaio, é autor de dois livros de contos (Esfinges, SP, Ática, 1978; A caixa de Pandora: aquela que nos coube, Cotia, Íbis, 1996) e um de poemas (Macho e fêmea os criou, segundo a paixão…, 1983), além de três outros no limbo da gaveta. Nos âmbitos didático e ensaístico, publicou Português para o segundo grau, SP, Cultrix 1979; 5 ed. 1988; Aprenda a escrever, SP, Cultrix, 1985; 2 ed. 1989; Padre Manuel Bernardes — Textos doutrinais, SP, Cultrix, 1981; Poesia clássica, SP, Global 1988; Literatura barroca, SP, Global, 1987; Concerto barroco às óperas do Judeu, SP, Perspectiva/Edusp 1992; Palimpsestos — uma história intertextual da Literatura Portuguesa, Santiago de Compostela, Laiovento, 1997; 2 ed., SP, Paulistana, 2008;  Fernando Pessoa(s) de um drama, SP, Reis Editorial, 1999; Ó Luís, vais de Camões?, SP, Reis Editorial, 2001; 2 ed, SP, Arauco, 2008; Saramago – Eu-próprio, o Outro?, Aveiro, Universidade de Aveiro, 2007; Eça de Queiroz: O mandarim do Realismo Português, SP, Paulistana, 2010; Canteiro de Obras, SP, Todas as Musas, 2011; Exercícios de caligrafia literária: Saramago quase, Curitiba, CRV, 2012. O Caso de Pedro e Inês – Inês(quecível) até o fim do mundo, SP, Kapulana, 2015.

Tratando de pinturas e pintores, desenvolve o sitePinceladas sobre a pintura alheia. 

José Carlos da Silva

Desde 2008, José Carlos da Silva é correspondente do PGL no Brasil. Residente em Campinas (São Paulo), é produtor cultural e periodista. Como produtor cultural trabalha pela difusão da cultura caipira, que tem na viola de 10 cordas, sua maior expressão-
 
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