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Diário Liberdade
Sábado, 10 Dezembro 2016 19:15 Última modificação em Terça, 31 Janeiro 2017 21:44

No meio da matança dos rohingyas, a China perde Myanmar Destaque

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País: Birmânia / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Blog de Nazanin Armanian

[Nazanin Armanian, traduçom do Diário Liberdade] A limpeza étnica que sofre a minoria étnica rohingyas, de religiom mussulmana, à mao do regime birmano e a ultra-direita budista coincide com umha cruenta luita entre a China, as grandes companhias ocidentais, Índia e Japom polos recursos naturais do país e o controlo sobre a sua estratégica geográfica.

Arredor de 130.000 dos 800.000 rohingyas, chamados Kalar «pretos» em sanscrito, polo tom da sua pele escura, fugírom dos seus lares, refugiando-se nas fronteiras da China e Bangladesh. Outros 250.000 já levam em vários anos nos campos de refugiados do Bangladesh. Apesar de viverem em Myanmar desde há geraçons, o governo da “raça única” recusa-se a reconhecê-los como sendo umha minoria étnica das 135 que habitam o país, acusando-os de serem imigrantes indocumentados bengalis. Que boa parte dos recursos naturais –minas de ouro, jade, os depósitos de gás e petróleo, ou madeiras como teca, entre outros– se encontre nas zonas montanhosas onde vivem as comunidades étnicas, foi o motivo das guerras locais (patrocinadas polos militares) e portanto a deslocaçom de centenas de milhares de pessoas.

Este país asiático foi notícia quando o presidente Obama promoveu a “primavera Myanmar” em 2011, e apoiando Aung San Suu Kyi, a luitadora pola democracia no seu país, com o fim de a converter em alternativa à junta militar que governa o país com 2185 quilómetros de fronteira comum com a China e 1463 com a Índia, sendo ambas letras de BRICS.

Consoante a sua doutrina de "Regresso à Ásia" para conter a China, era urgente para Obama recuperar um Myanmar governado polos militares e corrigir um dos “erros” da política exterior dos EUA: De facto, a China foi o grande beneficiário da aplicaçom da Lei de Assistência ao Exterior dos EUA que obriga Washington a cortar relaçons com os regimes golpistas (lei nom aplicada ao Chile de Pinochet, nem ao Egito de Al Sisi!). A imposiçom de embargos económicos por parte de Ocidente à junta militar deixou a via aberta para que China entrasse em força no país, sendo ainda hoje o maior investidor e primeiro sócio comercial de Myanmar.

A partir de novembro do 2015, polas pressons dos EUA, a junta militar coloca-se num segundo plano para converter a Suu Kyi na presidenta de facto do país. Suu Kyi, umha das “amiguíssimas” de Hillary Clinton, posicionou-se claramente contra as empresas chinesas, pola sua “falta de transparência”, elogiando companhias ocidentais como Chevron e Total.

Desde há vários meses intensificou-se o ataque das multidons budistas aos rohingyas na província Rakhine. Mulheres violadas, casas destruídas, cadáveres queimados com álcool para os ofender ainda mais se cabe formam esta macabra paisagem. À tensom nessa regiom acrescentou-se a ofensiva do exército às posiçons da guerrilha Kachin, província limítrofe com a China, a maior mina de jade do mundo e a principal regiom do país em produçom do ópio, causando a suspensom de parte dos megaprojetos chineses no país.

O valor de Myanmar para a China

Beijing olha para o país «forte e rápido» (significado da palavra Myanmar) através de três focagens:

1. Segurança: já que faz parte de sua periferia. Faz de Estado “tapom” entre a China e a Índia, e “ainda” está livre de bases militares dos EUA.

2. Estratégico-económico: com 126 projetos de estradas, pontes, presas, etc. em marcha, Myanmar ia ser o acesso chinês ao subcontinente índio, sudeste asiático e o Oceano Índico. A partir do porto Sittwe pensava reduzir a sua dependência do congestionado estreito de Malaca (polo qual recebe 80% das importaçons de petróleo do Médio Oriente e África) no Mar da China Oriental, recebendo matéria-prima procedente de África e o petróleo de Oriente próximo, e enviando os seus produtos a meio mundo. Teria sido umha das peças do “Colar de pérolas”, termo que refere aos portos estratégicos que a China alugou por todo o planeta. O conflito no Rakhine está a militarizar a zona, impedindo as obras do duplo encanamento de gás e petróleo chineses que iam atravessar Myanmar para alcançar o sul da China. Curiosamente, Chevron conseguiu em 2014 os direitos de perfuraçom na bacia Rakhine. O mesmo se passa com a enorme barragem de Myitsone, com um investimento de 3.600 milhons de dólares, que tinha causado os protestos das comunidades da zona e dos ecologistas. O projeto suspendeu-se, criando grandes perdas económicas nom só à China (que ia receber a maior parte da eletricidade gerada), como também ao governo birmano: terá que indenizar as companhias chinesas, ao mesmo tempo que perde centenas de milhons de dólares que poderia ter ganho com a barragem a funcionar.

3. Militar: A sua presença impedia a construçom de bases militares dos EUA no país. Junto de Afeganistám, Myanmar poderia ser outro vizinho donde EUA apontaria os seus mísseis a Beijing.

A violência política beneficiou os EUA no seu afám de bloquear os investimentos chineses. Apesar de todo, o regime birmano tenta manter o controlo sobre os ingentes recursos gasíferos do país e do seu potencial estratégico privilegiado para diversificar as suas alianças.

A entrada de Ocidente no mercado de Myanmar também pode provocar um conflito com o vizinho Bangladesh: assim, a possível transferência das empresas de têxtil ocidentais para Myanmar prejudicaria a posiçom dominante dos bengalis no mercado de roupa. Algo ao qual nom iriam renunciar sem mais.

O novo alinhamento político de Myanmar adverte de novos conflitos internos e regionais que se está a gestar e que afetariam a paz da regiom e a vida de milhons dos trabalhadores e trabalhadoras do sueste asiático, bem como o equilíbrio das forças a nível internacional.

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