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Diário Liberdade
Quarta, 11 Janeiro 2017 01:00 Última modificação em Quarta, 11 Janeiro 2017 16:01

Corbyn muda de postura e aceita limites à imigração na Europa

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País: Reino Unido / Repressom e direitos humanos, Migraçons / Fonte: Carta Maior

O Partido Trabalhista, principal força opositora no Reino Unido, “não se opõe ao princípio” de limitar a livre circulação de trabalhadores dentro da União Europeia (UE). Assim, seu controvertido líder,

Jeremy Corbyn, cedeu às pressões daqueles que, dentro do seu partido, defendiam que uma das lições aprendidas após a vitória do “brexit” no referendo de junho passado é a de que o trabalhismo precisa escutar as preocupações dos eleitores, por questão de sobrevivência. Nesta terça-feira (10/1), com a declaração de Corbyn o partido parece que adotará, sem complexos, um discurso sobre o impacto negativo da imigração descontrolada nos setores da população mais desfavorecidos.

O trabalhismo, sob a liderança de Corbyn, vem caindo nas pesquisas de intenção de voto, colhendo resultados pouco satisfatórios nas sucessivas eleições parciais realizadas nos últimos tempos. Muitos pesos pesados do partido defendem que a paulatina desconexão do partido com os votantes britânicos se deve à sua incapacidade de escutar as preocupações dos cidadãos sobre a imigração, particularmente em seus tradicionais feudos eleitorais, nos setores operários do norte da Inglaterra. O impacto que a imigração produz em suas vidas levou a muitos desses simpatizantes trabalhistas a votar pelo “brexit” no referendo, linha contrária à defendida pelo partido.

O líder do partido mais forte da esquerda no país foi quem quebrou o tabu, em seu primeiro discurso do ano, assegurando que a legenda “não está casada com o princípio de liberdade de movimento dos cidadãos europeus”. Logo, advertiu que não quer que isso seja mal interpretado: “tampouco a estamos descartando”.

Adotou, assim, uma postura neutra a respeito do controle das fronteiras. Quando os jornalistas pediram maiores esclarecimentos, ele evitou dizer se considera que as atuais cifras de imigração deveriam se reduzir no futuro. “Em muitos setores da economia, os trabalhadores imigrantes realizam uma importante contribuição à nossa prosperidade, e em muitas partes do país os serviços públicos dependem deles”, comentou. “Diferente dos `tories´ (conservadores), o trabalhismo não oferecerá falsas promessas sobre objetivos de imigração”.

Corbyn garantiu que seu partido “defenderá os direitos” dos cidadãos europeus que residem em solo britânico, e que “continuará dando as boas vindas aos estudantes estrangeiros”, mas reconheceu que “as negociações do `brexit´ incluirão mudanças nas regras sobre a imigração dentro da UE”. Na opinião do líder trabalhista, medidas como “atuar contra a deterioração das condições salariais e trabalhistas” e “proibir que se anunciem empregos exclusivamente no exterior” produziriam o efeito de “reduzir o número de migrantes europeus nos setores mais desregulados”.

O presidente do Partido Trabalhista – partido que liderou a oposição ao “brexit” no referendo de junho, embora o próprio Corbyn tenha sido acusado de atuar com menor intensidade que o esperado em favor da causa – tentou deixar uma mensagem otimista, prometendo que, mesmo fora da União Europeia, “o trabalhismo construirá um Reino Unido melhor” (fora da União Europeia). Ele também quis despejar dúvidas ao confirmar que seu partido não tentará bloquear o “brexit” no Parlamento. Segundo ele, o trabalhismo aceita o desafio deixado pelo eleitorado, e lutará por “um `brexit´ que funcione, não solo para os interesses da City (a elite financeira do Reino Unido), mas sim para os de todos”.

“Devido à evidente ausência de um plano de governo, o trabalhismo acredita que já é hora de detalhar o que acreditamos que devem ser os objetivos do `brexit´”, sustentou Corbyn. “As pessoas votaram pelo `brexit´ pela promessa de que o país seria um lugar melhor estando fora da UE. Para os cidadãos, parece ser uma oportunidade para recuperar o controle sobre nossa economia, nossa democracia e sobre a vida do povo. Mais que priorizar os vagos planos de controle das fronteiras, o compromisso concreto realizado pelo governo (de Theresa May) é proteger os interesses financeiros da City”.

A prioridade para os trabalhistas nas negociações de ruptura com a UE é a mesma que a primeira-ministra se comprometeu a garantir antes do final de março: “a manutenção do acesso ao mercado único”. A partir daí, o partido opositor “lutará por recuperar atribuições que foram derivadas a Bruxelas nos últimos anos, para que o governo possa desenvolver uma estratégia industrial essencial para a economia do futuro”.

Por sua vez, May vem sendo duramente criticada, desde dentro e fora do país, por não expor com claridade suas intenções a respeito das negociações da ruptura com a União Europeia. Porém, ela sim deixou claro, reiteradas vezes, que deseja acabar com a livre circulação de cidadãos europeus em solo britânico, um elemento que ela mesma reconhece ser difícil de dissociar da decisão dos eleitores no referendo, que vai muito além da saída do país do mercado único. O líder trabalhista classificou o governo da líder conservadora como “não apto” para negociar o “brexit”. Para ele, “em nenhum momento, desde a Segunda Guerra Mundial, a elite governante britânica colocou o país numa situação tão vulnerável, de forma tão negligente, sem nenhum tipo de plano de ação”.

O referendo, segundo Corbyn, “deixou uma mensagem clara: o Reino Unido debe abandonar a UE e trazer de volta o controle da democracia e da economia para as suas mãos”. O veterano deputado defendeu também que “as preocupações sobre a política migratória devem ser atendidas”.

Limite aos salários mais altos

Nesta terça (10/1), o líder trabalhista também propôs a criação de um limite máximo para os salários, para combater a desigualdade no Reino Unido. Corbyn adiantou a ideia durante uma entrevista radiofônica matinal, sem entregar maiores detalhes. Já durante a tarde, em seu primeiro discurso público do ano, o deputado explicou a medida e o seu alcance. Segundo o projeto, os altos cargos das empresas podem ter salários que sejam, no máximo, 20 vezes maior que o dos trabalhadores de pior salário.

A medida afetaria somente as empresas que possuem contratos de prestação de obras e serviços com o governo britânico, algumas das quais pagam aos seus executivos mais de um milhão de libras (cerca de 4 milhões de reais) por ano. Segundo os cálculos de Corbyn, o salário máximo desses executivos deveria ser de 350 mil libras (aproximadamente 1,4 milhão de reais).

O líder trabalhista recordou que o ex-primeiro-ministro David Cameron propôs ideia parecida, de limitar os salários mais altos do funcionalismo público. “O trabalhismo irá mais longe, e quer estender essa regra a qualquer companhia que tenha contratos com o governo”, disse Corbyn.

Tradução: Victor Farinelli

 

 

Crditos da foto: Wikimedia Commons
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