E ambos prosseguiram e até agravaram as políticas que diziam combater. A participação do “socialista” Hollande na destruição da Líbia e na ocupação militar de outros países africanos é um dos traços da opção imperialista do mais impopular dos presidentes franceses.
O aumento das intervenções militares em África, no quadro da política neocolonial francesa, é a principal «herança» de François Hollande no continente.
O presidente francês, que não se recandidata nas eleições deste ano, «despediu-se» dos seus pares africanos na 27.ª Cimeira África-França, que decorreu a 13 e 14, em Bamako.
A reunião na capital maliana, anunciada como um fórum para debater a cooperação, a paz e o desenvolvimento, centrou-se sobretudo em questões de segurança.
Perante cerca de três dezenas de chefes de Estado e de governo participantes, o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, anfitrião da cimeira, multiplicou gestos calorosos e elogios ao seu homólogo francês. Lembrou «tudo» o que o seu país deve ao «cher François», o homem que ordenou, em 2013, sete meses depois da sua chegada o Eliseu, o «auxílio» militar ao Mali.
Do seu lado, Hollande fez um balanço dessa Operação Serval – mantêm-se hoje no Mali forças francesas, das Nações Unidas e da União Europeia –, considerando que «a democracia retomou o seu curso» e «os terroristas não controlam qualquer território».
Uma constatação «largamente deturpada», escreve a Jeune Afrique, já que permanecem fora do controlo governamental amplas áreas do Norte e centro do país, onde «todas as semanas ocorrem ataques mortíferos contra os militares malianos ou os “capacetes azuis” da Minusma». Para a revista, a História reterá que a política de Hollande em África «foi sobretudo securitária, com duas operações militares de grande envergadura (Serval no Mali e Sangaris na República Centro-Africana».
A realidade é que, no âmbito da política imperialista francesa em África (e em outras regiões, como o Médio Oriente), a ingerência e os conflitos no continente têm vindo a aumentar consideravelmente desde 2011. Sempre em nome da «guerra contra o terrorismo» e do «contributo para a paz e a segurança» em África e na Europa...
Nicolas Sarkozy – que será recordado também pelo seu discurso em Dakar, em 2007, em que afirmou que «o africano não entrou suficientemente na História» –, foi responsável por duas intervenções militares com resultados catastróficos.
Em 2011, na Costa do Marfim, as tropas francesas ajudaram a derrubar o presidente Laurent Gbagbo, actualmente preso e julgado pelo Tribunal Penal Internacional, de Haia, e então substituído por Alassane Ouattara, um protegido de Paris. Na mesma altura, a França participou, ao lado dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais, na agressão da NATO contra a Líbia, no derrube de Muammar Kadhafi e na destruição do país, hoje mergulhado no caos e na guerra.
Continuar Sarkozy
Hollande ultrapassou o antecessor como fautor de guerras e prosseguiu a estratégia neocolonialista de França em África, aliás, na esteira dos outros presidentes franceses desde De Gaulle.
A destruição do Estado líbio teve repercussões em toda a região, nomeadamente no Mali. Onde, precisamente, em 2013, as tropas francesas, com a Operação Serval, intervieram para «salvar» o governo de Bamako, ameaçado por movimentos independentistas tuaregues e grupos islâmicos radicais, fugidos da Líbia com armas e bagagens.
No ano seguinte, com a Operação Barkhane, o dispositivo militar francês «reorganizou-se» e, a partir do Chade, passou a actuar em toda a faixa sahelo-saariana, com tropas, aviões e tanques em países como a Mauritânia, o Mali, o Burkina Faso ou o Níger.
Na República Centro-Africana, a Operação Sangaris foi desencadeada no final de 2013 e, desde então, o país envolveu-se numa guerra civil que reacendeu conflitos étnicos e religiosos. Ali estão também estacionadas tropas das Nações Unidas.
A associação Survie, criada em Paris para denunciar «todas as formas e intervenção neocolonial francesa em África», lembra que a presença militar da França em África, há mais de meio século, é um dos pilares da sua política de ingerência e domínio imperialista.
Foi posta em prática logo após a emergência das independências africanas, no começo dos anos 60 do séc. XX, visando garantir os novos países na órbita da França. O objectivo foi «preservar os interesses económicos da antiga metrópole (petróleo, urânio, madeira, etc.) e de lhe permitir conservar o estatuto e potência mundial, mantendo os países africanos na esfera de influência ocidental». Isto, quer durante a Guerra Fria, quer na actualidade.
Hoje, as forças progressistas e os povos de África continuam a lutar contra estas guerras de saque e pilhagem dos seus países, exigindo o fecho das bases militares estrangeiras, a retirada das tropas expedicionárias e o fim das ingerências no continente.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2251, 19.01.2016