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Diário Liberdade
Quinta, 23 Fevereiro 2017 11:58 Última modificação em Sábado, 25 Fevereiro 2017 09:52

Agências de inteligência EUA: contra Trump, nos 'assuntos' de Rússia

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País: Estados Unidos / Batalha de ideias / Fonte: World Socialist Website

[Tome Eley; Tradução do Coletivo Vila Vudu] Na 5ª-feira a crise agravou-se, com o Washington Post e o New York Times exibindo manchetes de 'novas revelações' baseados em fontes atuais e antigas, sempre anônimas e sempre "da comunidade de inteligência", e em 'declarações' de senadores Republicanos, dessa vez aliados a Democratas, para 'exigir' que o Congresso constitua uma Comissão Especial de Inquérito para examinar possíveis conexões entre Trump e agências de inteligência da Rússia, que teriam existido antes e perdurariam até depois das eleições de novembro.

Ao mesmo tempo, figuras de dentro e da periferia do Partido Democrata puseram-se a falar de impeachment, traçando comparações com o escândalo do [prédio] Watergate – da invasão, em 1972, do Comitê Nacional Democrata – que levou Richard Nixon a renunciar.

Trump respondeu na 5ª-feira, atacando publicamente as agências de inteligência que ele comanda (só nominalmente). Numa conferência conjunta, Trump ao lado de Bibi Netanyahu, com a imprensa, o presidente declarou que os vazamentos para os jornais TimesPost são "ilegais" e "criminosos". E já fizera comentários semelhantes antes, num postado na rede Twitter –, o que disparou comentários de que a Casa Branca tentaria organizar um expurgo na CIA, no FBI e na Agência de Segurança Nacional [ing. National Security Agency (NSA)].

"Saem da Inteligência, papéis vazam, coisas estão sempre sendo vazadas" – disse Trump na Casa Branca, ao lado de Netanyahu. – "É ação criminosa, ato criminoso, e já é assim há muito tempo, desde antes de mim, mas agora está realmente a todo o vapor."

Mas a litania de acusações sem qualquer fundamento e sem provas, de que os russos 'controlariam' Trump, continuou. 

Matéria de capa do Times na 5ª-feira citava "quatro funcionários norte-americanos atuais e do governo anterior", que teriam 'declarado' que "pessoas muito próximas de Trump tiveram repetidos contatos com altos funcionários da inteligência russa durante o ano que antecedeu as eleições." 

E no Post, na 4ª-feira, artigo de capa citava a mesma lista que parece infinita de fontes, incluindo funcionários do governo que "pediram para não serem identificados", "funcionários atuais e do governo anterior", "funcionários dentro do Conselho Nacional de Segurança", "vários altos funcionários", todos falando (muito) sobre "matéria tão sensível", sob condição de que os "nomes não fossem publicados"; além de "altos funcionários do governo Obama", todos sem nome.

Nem o Times nem o Post oferece uma única fonte identificada que se possa entrevistar e ouvir. Nenhuma 'declaração' foi investigada e comprovada. Cada um diz (se disse) o que bem entenda. Os jornais só oferecem as frases, sem qualquer investigação, saídas dos lábios ninguém sabe de quem – e acusações vagas sobre "interferência russa" nas eleições dos EUA, que hoje, depois de a fórmula ter sido repetida tantas vezes, já é 'comentada' e 'analisada' como se fosse fato comprovado.

Já se sabe que a conversa telefônica do dia 29/12 entre Flynn e o embaixador russo Sergey Kislyak – na qual o recentemente nomeado conselheiro de segurança nacional teria dito que as sanções dos EUA contra a Rússia seriam revistas pelo governo Trump  – foi gravada clandestinamente pela Agência de Segurança Nacional.

Nada há de ilegal naquela conversa, e há numerosos precedentes históricos, alguns dos quais muito mais 'suspeitos' que os que agora se dizem (ninguém DIZ: todos "declaram") "gravíssimos", no caso da conversa telefônica de Flynn. Por exemplo, o caso bem conhecido de funcionários da campanha eleitoral de Reagan, agindo para impedir que os reféns norte-americanos presos em Teerã fossem libertados antes da eleição de novembro de 1980.

Políticos imundos pró-guerra como Lindsey Graham, mais um presente que a nação recebe vindo diretamente da Carolina do Sul, são ameaça ativa e muito grave contra a sobrevivência de toda a humanidade. Se as pessoas fossem realmente informadas sobre quem e o quê esses deputados e senadores representam, a reação popular contra eles seria muito diferente. Mas aí está a principal serventia da mídia-empresa prostituída: impedir que a informação de boa qualidade alcance o eleitor, de modo a que os eleitores nunca vejam quem é e onde está o verdadeiro inimigo.

A verdade é que as agências de inteligência resolveram usar a gravação daquela conversa, para com ela derrubarem Flynn – que defendia um entendimento temporário com a Rússia para que os EUA pudessem movimentar-se mais rapidamente contra o Irã e potencialmente também contra a China.

A Agência de Segurança Nacional passou ao FBI a transcrição da conversa de Flynn. Em algum momento, vários agentes da inteligência (todos "não identificados", sem nome) passaram a transcrição para jornalistas e para políticos e funcionários do governo. No final da semana, a transcrição, que a Casa Branca não permitiu que Flynn lesse e corrigisse, já circulava livremente em Washington. Na 2ª-feira à noite Flynn apresentou seu pedido de demissão. A evidência de que o governo Trump não desautorizou a campanha anti-Rússia, ao aceitar a demissão de Flynn, só reforçou a campanha.

A interferência do aparelho de segurança contra Trump tornou-se tão escancarada, tão descarada e tão violenta, que até um colunista conservador, Eli Lake, apoiador de Hillary Clinton na eleição, achou necessário protestar.


"Conversas interceptadas de funcionários do governo dos EUA e de cidadãos norte-americanos sempre estão entre os segredos mais bem guardados de qualquer presidência" – Lake escreveu em Bloomberg. – "E há bons motivos para que assim seja. Revelar seletivamente apenas uns poucos detalhes de conversas privadas monitoradas pelo FBI ou pela Agência de Segurança Nacional dá ao Estado não eleito o poder de destruir reputações, com os agentes daquele Estado não eleito protegidos pelo anonimato e/ou escondidos sob a saia do Estado. É o que fazem todos os estados policiais."


A guerra total que devasta a classe dominante nos EUA está sendo guerreada ao longo de um front que inclui as agências de inteligência, passa pelo Partido Republicano e chega à própria Casa Branca de Trump – como se constata pelo grande número de vazamentos brotados de "funcionários do atual governo em Washington".

Chama a atenção que o vice-presidente Mike Pence, que assumirá a presidência no caso de o presidente Trump renunciar ou sofrer impeachment, foi sempre mantido 'acima' da discussão (por todos os lados envolvidos no conflito). 

Hoje, surgiu mais um sinal muito preocupante, de que os militares podem vir a envolver-se. Numa violência contra as normas democráticas, o general de Exército Raymond Thomas, comandante das forças de Operações Especiais dos EUA – inclusive dos SEALs da Marinha e dos Boinas Verdes do Exército – resolveu comentar, ele também, a controvérsia do dia.

"Nosso governo continua em inacreditável tumulto" – disse Thomas, referindo-se evidentemente à renúncia de Flynn, discursando em evento público em Maryland. –"Espero que resolvam tudo rapidamente, porque somos nação em guerra." Mais tarde, quando houve uma oportunidade para esclarecer o comentário, Thomas insistiu e aprofundou o mesmo comentário: "Como comandante, considero essencial que nosso governo seja o mais estável possível" – disse ele.

Dois influentes senadores Republicanos, John McCain do Arizona e Lindsey Graham da Carolina do Sul, deram sinais de que apoiarão a constituição de uma Comissão Especial de Inquérito para investigar as supostas relações entre a campanha de Trump e o governo russo.

Em participação no programa Good Morning America, Graham anunciou seu apoio a que se investigue todo o governo Trump, investigação que seria conduzida por "comissão conjunta selecionada".

"Se se comprovar que a colaboração houve, é fato que me perturba muito, muitíssimo. E a Rússia tem de pagar o preço, se interferiu em nossa democracia ou em outras democracias" – disse Graham. "E qualquer homem ou mulher de Trump que tenha trabalhado com os russos de modo não admissível também tem de pagar o preço."

Graham foi diretamente à essência da controvérsia, quando o entrevistador George Stephanopoulos, citando Thomas Friedman do Times, perguntou ao senador "O que se passa entre Donald Trump e os Republicanos?"

"Trump é caso único, no que tenha a ver com os russos" – Graham respondeu. "Não conheço nenhum senador Republicano para quem a Rússia seja qualquer coisa diferente de país inimigo... Não sei explicar Trump e esse seu modo de ver a Rússia."

As palavras de Graham tiveram eco imediato no senador Bob Corker do Tennessee, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que disse no programa Morning Joe da rede MSNBC: "Vamos descobrir tudo, o mais rapidamente possível, nessa questão com os russos (...) Há aí um problema que obviamente vai muito mais fundo do que hoje suspeitamos". Corker também perguntou "se (sim ou não?) a Casa Branca terá habilidade suficiente para se autoestabilizar."

O líder da maioria no Senado Mitch McConnell e o presidente da Câmara de Deputados Paul Ryan ambos aceitaram como fato demonstrado e consumado que houve a tal "interferência russa" nas eleições nos EUA. Já requereram que as comissões regulares do Congresso investiguem tudo, mas não chegaram a acolher as demandas para que se constituísse uma comissão especial de inquérito.

Os Democratas, por sua vez, já começaram a levantar a possibilidade de impeachment.

"Só até aqui, o caso já é maior que Watergate" – disse o principal conselheiro do Comitê Nacional Democrata, Zac Petkanas, em declaração. – "A santidade de nossa democracia exige investigação imediata, independente e transparente, para que se conheçam todas as conexões entre Donald Trump, seu pessoal e o governo russo."

Há vários problemas com essa comparação falaciosa. Mas há uma diferença fundamental. Em 1972, Richard Nixon usou métodos ilegais para acusar e desacreditar adversários políticos, num momento em que os principais subgrupos do Partido Democrata, acompanhando a ira popular, apresentaram-se em oposição à Guerra no Vietnã. Respondendo a essa posição popular, o Washington Post e o New York Times investigaram os abusos de Nixon, descobriram toda a trama (que passou a chamar-se "o escândalo Watergate"). , investigação que levou Nixon a renunciar e, na verdade, pôs fim à guerra do Vietnã.*

45 anos depois, o Times e o Post, falando como bonecos de ventríloquo da CIA, estão à frente das acusações que a direita faz a Trump, não para se acomodarem ao sentimento antiguerra das massas populares, mas para objetivo diametralmente oposto: para ajudar a criar as condições políticas para guerra contra a Rússia.*****

(*) Nota dos tradutores: Atenção. Quem pôs fim à guerra do Vietnã não foram 'jornais' nem 'jornalistas investigativos' 'sérios', cuja ausência se lastimaria hoje; muito menos a guerra teria acabado 'porque' Nixon renunciou (9/8/1974).

Os dois jornais aqui comentados, o NYT e o Post serviram, isso sim, naquele momento, exclusivamente para ESCONDER a verdade da derrota dos EUA no sudeste da Ásia.

Quem pôs fim à guerra do Vietnã foram o Exército de Libertação Nacional do Vietnã do Norte e os guerrilheiros Vietcongs, que tomaram Saigon dia 30/4/1975 e expulsaram de lá o Exército dos EUA, com os norte-americanos em pânico, tentando escafeder-se pelo telhado da Embaixada dos EUA. Há fotos

O argumento da coluna tem pé quebrado, mas mesmo assim a coluna vale a tradução, porque aí se reúnem muitas informações interessantes, se se descartam daí os vícios 'jornalísticos' de sempre. Essas informações ajudam a ver as muitas semelhanças que há entre o golpe que o Brasil enfrentamos hoje e o golpe que os eleitores norte-americanos talvez venham a ter de engolir. 

Nos dois casos, sem mídia-empresa, não haveria golpe e a democracia seria muito mais bem servida.

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