O presidente da RASD está a realizar um conjunto de viagens de Estado no continente Africano, tendo já visitado África do Sul, Zâmbia e Argélia, esta visita insere-se neste conjunto de contactos do novo presidente.
Moçambique é um aliado da Frente Polisario e da República Saharaui Democrática desde a sua criação, e foi o sexto país a reconhecer o jovem Estado Saharaui a 13 de Março de 1976. De 1977 até 1982 a Frente Polisário tinha uma delegação em Maputo e já em 1982 foi inaugurada a Embaixada da RASD.
Esta visita de Estado reveste-se assim de grande importância numa quadro político novo em que a atuação da UA e de África para a resolução da descolonização da última colónia de África é essencial.
A entrada na União Africana de Marrocos, é indício de uma nova linha de atuação do reino que face ao problemas resultantes da crise mundial e sobretudo europeia busca novos aliados e mercados, no entanto esta entrada significou também o reconhecimento implícito da RASD e supostamente o respeito pelo documento fundador da UA que é claro no que respeita a integridade territorial e respeito pelas fronteiras, o que significa que Marrocos teria que se retirar do Sahara Ocidental rapidamente.
Moçambique foi um dos países que colocou fortes reservas e se opôs à entrada de Marrocos sem haver primeiro a solução do conflito, a descolonização e independência do Estado Saharaui de acordo com as resoluções das Nações Unidas
".. a ocupação por si só é o primeiro direito humano a ser violado!"
declaração de Oldemiro Baloi, Ministro do Negócios Estrangeiros e de sobre a situação dos Direitos Humanos no Sahara Ocidental. Numa conferência de imprensa após a conversação entre os dois chefes de Estados, os ministros de Negócios Estrangeiros de Moçambique e da RASD apresentaram um resumo do teor do encontro. O membro do governo reafirmou a solidariedade com o povo saharaui e o compromisso de Moçambique na defesa do direito à soberania dos seus irmãos da RASD. A independência é a única solução, segundo Baloi. A assinatura de um protocolo de consultas políticas é o ponta pé de saída para uma nova etapa de cooperação e aprofundamento das relações bilaterais entre os dois Estados.
Em relação à entrada na UA, Baloi, explicou o processo de admissão de Marrocos ao qual Moçambique e um grupo de outros países, sobretudo da SADEC, se opôs, uma vez que o reino alauita não respeita o principio básico de respeitos pela fronteiras herdadas do colonialismo.
Mohamed Salem Uld Salek, Ministro dos Negócios Estrangeiros da RASD, agradeceu ao governo Moçambicano e à Frelimo, pela sua posição firme de apoio à causa da independência. Relativamente à admissão de Marrocos na União Africana disse que se tinha que partir de um principio de boa fé e esperar que o reino Alauita, respeitasse os princípios que subscreveu e que são a base da União Africana, no entanto se isso não se verificar a situação será de ruptura nesta região. Elencou as múltiplas violações dos direitos humanos nos Territórios ocupados, as violações, os sequestros, as torturas e detenções arbitrárias. Também Uld Salek afirma que a só a independência porá um fim ao sofrimento do povo saharaui.
Numa visita que incluiu encontros e conversações com o Presidente Nyusi, membros do governo de Moçambique, presidência e líderes dos grupos parlamentares da Assembleia da República, a Frelimo e a organização Marcha de Mulheres, o Presidente da RASD, Brahim Gali e a delegação que o acompanhou recebeu a reafirmação do apoio incondicional de todos os representantes moçambicanos à luta pela independência e soberania do Sahara Ocidental.
Na Assembleia da República Brahim Gali foi recebido pela presidente da AR e os líderes de bancada de todos os partidos com assento parlamentar, neste encontro o presidente da RASD e restante delegação recebeu novamente uma declaração de solidariedade com o povo saharaui e o seu direito à autodeterminação por parte de todos os partidos presentes.
O presidente da RASD é também Secretário Geral da Frente Polisario que mantem relações desde o inicio dos anos 70, com a Frelimo onde Gali foi recebido pela direção do movimento de libertação moçambicano.
Representantes da Marcha das Mulheres reuniram com Brahim Gali e Fatma Mehdi, secretária geral da UNMS (União das Mulheres Saharauis), esta organização apoia o povo saharaui a nível internacional através de iniciativas periódicas e denúncia da situação das mulheres saharauis. O Presidente expôs as dificuldades da vida das Mulheres saharauis, e das violações de direitos humanos a que estão expostas nos territórios ocupados. A nossa desgraça é termos muita riqueza no nosso país, mas esperamos que quando alcançarmos a independência poder ajudar muitos países com essa riqueza, disse Gali.
No encerramento oficial da visita na qual participaram entre outros Joaquim Chissano e Gembuza, ex-presidentes de Moçambique e membros do Governo e representantes do corpo diplomático, o Presidente Nyusi reafirmou a solidariedade do seu povo e governo com o povo Saharaui e a RASD. Brahim Gali agradeceu dizendo que estava como se fosse na sua casa, uma casa de lutadores pela independência e que à semelhança dos irmãos moçambicanos o povo saharaui irá conseguir alcançar a sua liberdade uma vez que não está disposto a desistir da sua luta até à vitória.
A importância dos países do SADEC - Comunidade dos Países da África Austral, no apoio à RASD e na defesa dos princípios da União Africana foi realçado mais que uma vez nos vários discursos e encontros pelo presidente e outros membros da delegação. São os países que nos inspiram e cujas lutas e sucessos pela descolonização são as nossas referencias, afirmou Gali.
Moçambique demonstrou claramente durante esta visita que não irá desistir de apoiar o direito do povo saharaui à autodeterminação de acordo com os princípios da União Africana e que não irá tolerar que este conflito siga sem solução.