O pitch bull foi solto e será difícil de ser derrotado. O grupo, assim como os demais grupos salafistas ou tafkiris, continuarão muito ativos em todo o Oriente Médio e nos países vizinhos, com eventuais incursões e atentados nos países desenvolvidos, como a Europa e os Estados Unidos, e nas potências regionais, principalmente a Rússia, a China, a Turquia e o Paquistão. Em grande medida, a atividade desses grupos continuará sendo utilizada para justificar a “guerra contra o terror”, imposta pelo imperialismo, que implica no aumento dos gastos militares, nas intervenções militares no exterior e no aperto do regime político.
Os estados nacionais implodidos continuarão implodidos. Isso acontece com a Somália, a Líbia, a Síria, o Iêmen, o Iraque e os países do Sahel (localizados ao sul do Deserto do Saara), em primeiro lugar o Mali e o Niger.
Na Síria, haverá um certo acordo entre o governo central e os chamados “rebeldes moderados”, que, na realidade, representam interesses de potências estrangeiras em algum grau. Mas a Síria será transformada numa espécie de Líbia. Será muito difícil desarmar as milícias e eliminar o Estado Islâmico, a al-Qaeda (Jabbat al-Nusra) e seus amigos. As potências regionais continuaram subsidiando-os com o objetivo de usa-los para os próprios interesses. A situação ficará ainda mais explosiva, pois o controle desses grupos é bastante relativo, pois eles têm interesses próprios.
No Iraque, as milícias xiitas deverão controlar o país com o apoio do regime dos aiatolás iranianos. Mas as contradições sectárias, entre a maioria xiita que está no governo, e que já apresenta contradições internas, e os sunitas, entre os quais há líderes tribais que suportam o Estado Islâmico, não serão eliminadas. Sobre esta base, novos reagrupamentos e confrontos deverão acontecer, no próximo período, conforme a crise capitalista continuar avançando.
IRÃ
Apesar dos acordos do imperialismo com o governo dos aiatolás iranianos, a tendência é ao aumento das contradições entre o imperialismo e o Irã e seus aliados, a Síria e o Iraque. Um dos componentes que está colocado no centro das disputas é o Curdistão Iraquiano.
O retorno do Irã ao mercado mundial de petróleo tem aumentado o estresse sobre os preços devido ao aumento da oferta. Por esse motivo, dentre outros, a Arábia Saudita não consegue se posicionar a favor da redução da produção na perspectiva de impulsionar o aumento dos preços. Os crescentes déficits fiscais continuarão provocando a aplicação de programas de austeridade na Arábia Saudita.
Nas eleições que aconteceram em fevereiro, para o parlamento e a Assembleia dos Expertos, o grupo ligado ao Presidente Hassan Rouhani foi o grande vencedor por causa dos acordos em relação à questão nuclear. Mas o poder do Conselho dos Guardiões e do Corpo da Guarda Revolucionária continuará como o poder omnipresente no Irã, tanto no aspecto político como econômico, pelo menos, até os investimentos estrangeiros não chegarem em grande volume.
O Irã experimenta uma relativa melhoria da situação econômica devido ao levantamento das sanções, ao aumento dos investimentos e ao comercio com o exterior. O movimento guerrilheiro do curdistão iraniano, que foi derrotado na década de 1980, ainda não conseguirá se levantar novamente. O mesmo acontecerá com o contágio proveniente dos guerrilheiros balochis, que atuam no sul do Paquistão, sobre as minorias que habitam o Irã.
ARÁBIA SAUDITA
A Arábia Saudita, que representa o coração do Oriente Médio, continua enfrentando o aumento do déficit fiscal por causa da queda dos preços do petróleo. Somente no ano passado foi de US$ 121 bilhões. Uma possível redução da produção de petróleo para impulsionar o aumento dos preços não poderá ser feita até o último trimestre de 2016 por causa da entrada do Irã no mercado, as dificuldades para que a Rússia controle a produção e a necessidade de pressionar pela quebra das empresas norte-americanas que produzem gás e petróleo a partir da mineração do xisto.
Os Estados Unidos enfrentam dificuldades para manter a produção do petróleo a partir do xisto, devido aos baixos preços, e poderão aumentar, um pouco, as importações a partir da Arábia Saudita.
O aprofundamento da crise capitalista continua impactando o aumento da carestia da vida, principalmente no custo da moradia e dos alimentos.
A desestabilização do Oriente Médio continuará apertando os sauditas. A crise no Iêmen continuará desestabilizando o sul do país de maioria xiita, onde atuam, de maneira cada vez mais ativa, movimentos guerrilheiros.
A retomada dos protestos na Província Oriental ainda não aconteceu, mas está inevitavelmente colocada para o próximo período.
A política dos sauditas para estabilizar o país passa pelo aumento da especulação financeira. Recentemente a monarquia anunciou a intenção de abrir a Aramco, a empresa petrolífera, com o objetivo de levantar US$ 3 trilhões.
A coalisão encabeçada pelos sauditas não tem conseguido estabilizar o Iêmen, apesar das negociações de paz. Os Houthis continuam organizados em milícias e controlam as regiões do interior do noroeste do país, e a capital, Sanã, que os sauditas não conseguiram conquistar apesar dos bombardeios aéreos. Os enfrentamentos nas regiões montanhosas foram sangrentos e impuseram um custo muito alto para os sauditas. A ação dos Houthis e o fortalecimento da al-Qaeda nas regiões do leste do país tem impulsionado o fortalecimento dos movimentos guerrilheiros no sul da Arábia Saudita.
ISRAEL
O aprofundamento da crise econômica tem provocado o aumento das “políticas pragmáticas” por parte dos sionistas israelenses. Da mesma maneira que o governo Netanyahu manobra para manter os US$ 3,5 bilhões de ajuda militar dos Estados Unidos e a aliança estreita, os laços têm se estendido à Rússia, tanto em relação a acordos comerciais como militares, principalmente na tentativa de manter a milícia libanesa Hizbollah distante das armas russas. A aproximação com o governo turco visa garantir a exploração do gás no Mar Mediterrâneo, principalmente no Chipre. A aproximação com os sauditas visa aliviar um pouco a pressão vinda da crise generalizada no Oriente Médio.
Além de apoiar vários grupos “rebeldes” sírios, como a própria al-Nusra e a al-Qaeda na Síria, na região de Qneitra, os sionistas tentam apertar o cerco para se apropriar do gás dos palestinos, do Chipre e até do Líbano; neste caso, com mais dificuldades por causa das ameaças da milícia libanesa Hizbollah. Israel continuará apoiando os Curdos Iraquianos, que lhe fornecem o grosso do petróleo que consomem.
A pressão sobre os palestinos continua firme e deverá aumentar ainda mais com a reforma ministerial que inclui novos elementos da extrema direita. O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, busca o relaxamento parcial do conflito com Israel, por causa da pressão do Estado Islâmico. O estouro de uma nova Intifada por causa do sufocamento da população palestina deverá ficar colocada novamente no próximo período.
EGITO
O governo golpista do Egito continua funcionando como uma marionete dos saudistas. Mas o aprofundamento da crise capitalista tem impedido a estabilização do regime encabeçado pelo ditador al-Sisi. Novos protestos populares têm aparecido nas ruas contra a carestia, o desabastecimento e o desemprego.
O investimento aprovado para a construção de uma central nuclear, pela Rússia, por US$ 26 bilhões, avançará como parte dos acordos mais gerais entre a Arábia Saudita e a Rússia em relação ao Oriente Médio. A pressão sobre a economia egípcia será reduzida por causa da queda dos preços do petróleo, mas a paralisia da economia levará à redução dos subsídios sobre os serviços públicos. A desestabilização política provocada pelo Estado Islâmico, a partir da Península do Sinai, continuará contida, como eventuais atentados nas demais regiões do país, mas não será eliminada.
LÍBANO
No Líbano, os grupos salafistas/ tafkiris têm continuado com uma atuação limitada, contidos pelas várias milícias armadas que representam os interesses dos vários grupos sectários do país. O Hizbollah continua representando um dos principais mecanismos de contenção, nas mãos dos xiitas, aliados do Irã, contra as agressões dos sionistas israelenses e do imperialismo. Recentemente, a aliança do Hizbollah com a milícia Amal arrasou nas eleições municipais nas regiões do sul do país em outras regiões habitadas majoritariamente por xiitas.
As contradições entre os grupos continuarão aumentando e colocando em xeque os acordos de 2008 sobre a divisão do poder político. Novas manifestações de massas, como os protestos sobre a questão do lixo, que aconteceram em 2015, poderão implodir os principais blocos políticos do país, o “Movimento 14 de Março”, que representa a ala direita, e o “Movimento 8 de Março”, do qual participa o Hizbollah. Há alguns meses, os sauditas suspenderam a ajuda militar por US$ 3 bilhões ao Líbano. Os iranianos manobram na tentativa de ampliar a influência.
As dificuldades para eleger um novo presidente da República continuam em aberto, pois dependem, em última instância, de um acordo mais geral entre o Irã e a Arábia Saudita. E este é um dos fatores da crise para manter o frágil equilíbrio político no país.