TeleSur: Obrigado por nos receber, Sr. Presidente.
Presidente Bachar al-Assad: Sejam bem-vindos à Síria, o senhor e o canal TeleSur.
TeleSur: Comecemos pelo mais recente. Rússia tem advertido que é possível que novos ataques químicos forjados estejam sendo preparados. Como a Síria preparou-se contra isso?
Presidente Bachar al-Assad: Para começar, os terroristas, durante anos e em mais de uma ocasião e em mais de uma região em absolutamente toda a Síria usaram substâncias químicas. Por isso mesmo, pedimos à Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) que enviasse especialistas habilitados para investigar o que acontecia, mas cada vez que pedíamos os EUA impediam as investigações ou impediam que viessem as comissões de investigação. Semana passada, aconteceu novamente: quando exigimos que se fizessem investigações sobre o suposto uso de armas químicas em Jan Sheijun, EUA e aliados impediram que a resolução fosse aprovada na OPAQ.
Nós continuamos insistindo e tentando, com nossos aliados russos e iranianos, que aquela Organização envie uma equipe que investigue o que aconteceu. Porque se essa investigação não acontecer, os EUA repetirão outra vez e outra vez sempre a mesma farsa em torno do uso de armas químicas, (como "operação sob falsa bandeira") em algum outro lugar da Síria, para acumular pretextos para intervir militarmente com o objetivo de apoiar o terroristas.
Isso, por um lado. Por outro lado, continuamos lutando contra os terroristas, porque o objetivo por trás do que dizem o ocidente e os EUA sobre armas químicas é conseguirem meios para dar apoio aos terroristas na Síria. Por causa disso, temos de continuar a combater os mesmos terroristas.
TeleSur: Segundo o Pentágono, seu governo ainda guarda armas químicas. A Síria conserva mesmo cerca de 1% dessas armas, apesar de se ter comprometido, há quatro anos, a entregá-las para serem destruídas?
Presidente Bachar al-Assad: Tanto o senhor como eu lembramos bem quando Colin Powell, em 2003, mostrou na ONU, diante de todo o mundo, um pequeno vidro no qual, segundo ele, estaria a 'prova' de que o presidente Saddam Hussein possuiria químicas, armas nucleares e outras. Quando as forças dos EUA já estavam dentro do Iraque, comprovou-se que os americanos mentiram.
Colin Powell reconheceu depois que a CIA o enganara com provas falsas. Mas não foi o primeiro caso, nem será o último. Quem queira ser político nos EUA tem de ser perfeito mentiroso e embusteiro. Mentir é uma característica dos políticos norte-americanos. Mentem todos os dias. Todos os dias dizem uma coisa e fazem outra. Por essa razão não se deve acreditar no que digam o Pentágono ou outros, porque só dizem o que sirva às políticas deles, não o que há na realidade nem os fatos em campo.
TeleSur: Com que finalidade a Síria interessa-se por comprar da Rússia sistemas antiaéreos de última geração?
Presidente Bachar al-Assad: Basicamente estamos em guerra com Israel. Desde que foi criado em 1948, Israel ataca os países árabes próximos. É normal portanto que tenhamos esses sistemas antimísseis. Os terroristas, como é óbvio, seguindo instruções de Israel, dos EUA, da Turquia, Qatar e Arábia Saudita, destruíram alguns desses sistemas e, portanto, é normal que negociemos com a Rússia para reforçar esses sistemas e poder fazer frente a qualquer ameaça aérea israelense ou enfrentar possíveis ameaças de mísseis dos EUA, muito prováveis agora, depois do recente ataque dos EUA contra o aeródromo de Shuayrat na Síria.
TeleSur: Que papel teve Israel na guerra que a Síria enfrenta? Já sabemos que continuaram os ataques nas últimas semanas contra posições do exército árabe sírio na Síria.
Presidente Bachar al-Assad: Israel desempenha seu papel de diferentes modos: primeiro, como agressão direta, sobretudo com aviação e artilharia ou mísseis lançados contra posições do exército sírio.
Por outro lado, Israel apoia os terroristas, de dois modos: primeiro, fornece armas; segundo, dá-lhes apoio logístico, ao permitir que organizem manobras atravessando regiões que Israel controla e garantindo-lhes ajuda médica em hospitais de Israel.
Não se trata aqui de especular. O que lhe digo são fatos comprovados, filmados, fotografados e divulgados na internet, que o senhor pode obter facilmente e que provam o apoio que Israel garante aos terroristas na Síria.
TeleSur: Como o senhor definiria a atual política exterior de Donald Trump no mundo e especialmente na Síria?
Presidente Bachar al-Assad: Não existem políticas de um ou de outro presidente dos EUA. O que há são políticas das instituições dos EUA que governam o sistema, a saber, a CIA, o Pentágono, as grandes corporações, as empresas que fabricam armas, as petroleiras e as grandes instituições financeiras, além de alguns lobbies que influem nas decisões dos EUA.
O presidente dos EUA apenas implementa essas políticas, e a prova está aí: quando Trump tentou tomar rumo diferente durante sua campanha eleitoral e já como presidente, nada pôde fazer. A ofensiva contra ele foi forte demais e, como vimos nas últimas semanas, ele já mudou completamente a linguagem e submeteu-se ao Estado Profundo. Por isso, tentar avaliar o presidente dos EUA no que tenha a ver com política exterior seria perda de tempo e meio irreal, porque se pode dizer qualquer coisa, mas ele só fará o que aquelas instituições e organizações ordenarem. Essa é a política que se mantém nos EUA há décadas e aí não há qualquer novidade.
TeleSur: Donald Trump tem agora outra frente aberta na Coreia do Norte. Isso poderia influir no modo como os EUA veem a Síria atualmente?
Presidente Bachar al-Assad: Não. Os EUA tentam sempre controlar todos os países do mundo sem exceção, não aceita aliados, sejam países desenvolvidos avançados de seu próprio bloco ocidental ou outros quaisquer. Todos os países teriam a obrigação de ser Estados satélites dos EUA. Por isso, o que acontece com a Síria, o que acontece com a Coreia do Norte, com Irã, com Rússia e possivelmente com a Venezuela agora, tem por objetivo restabelecer a hegemonia dos EUA sobre o mundo, porque os EUA creem que sua hegemonia estaria hoje ameaçada, e que isso ameaçaria os interesses das elites econômicas políticas nos EUA.
TeleSur: Está claro o papel de Rússia neste conflito, mas que papel teve a China, a outra grande potência internacional?
Presidente Bachar al-Assad: No que tenha a ver com Rússia e China, há grande cooperação em matéria de ação política, ou de postura política.
Há convergência nos pontos de vista e há cooperação no Conselho de Segurança da ONU. Como o senhor já sabe, os EUA tentaram várias vezes, junto com seus aliados, utilizar o Conselho de Segurança para legitimar o papel dos terroristas na Síria e para legitimar uma intervenção na Síria. A intervenção é ilegítima e constitui agressão. Por isso, China e Rússia estão unidas nessa questão, e o papel da China foi essencial, ao lado da Rússia, nessa questão.
Por outro lado, uma parte dos terroristas são de nacionalidade chinesa, chegados à Síria pela Turquia e representam ameaça aqui, para nós, sírios, mas também são ameaça são ameaça para China, e os chineses estão conscientes de que o terrorismo em qualquer lugar do mundo desloca-se para outros lugares. Aqueles terroristas, sejam chineses ou de outras nacionalidades, podem deslocar-se para a China e atacar ali, como acaba de acontecer na Europa, na Rússia e como acontece na Síria. Mantemos atualmente cooperação com a China sobre assuntos de segurança.
TeleSur: Atualmente os meios de comunicação ocidentais e dos EUA, falam de terroristas moderados e de terroristas extremistas. Há mesmo alguma diferença desse tipo?
Presidente Bachar al-Assad: Para eles, terrorista moderado é o terrorista que mata, degola e assassina sem mostrar a bandeira da al-Qaeda e sem gritar "Alahu akbar". E terrorista é quem mostra a bandeira ou, enquanto degola, grita "Alahu akbar", essa é a diferença. Para os EUA, qualquer um sirva à sua agenda política contra qualquer outro país, mesmo que pratique as piores práticas de terrorismo é "opositor", não terrorista; e "moderado", não "extremista", "combatente da liberdade", não um criminoso que luta para destruir e sabotar.
TeleSur: Seis anos de guerra. Como está a Síria? Sabemos que o custo humano é incalculável?
Presidente Bachar al-Assad: O que mais dói em qualquer guerra são as perdas humanas, o sofrimento das famílias que perdem um pai, um filho, um marido, essas famílias foram afetadas para sempre. Os sírios cultivamos laços familiares fortes e estreitos. Não há dor maior que a de perder um ente querido.
Quanto às demais perdas, claro está, as perdas econômicas são colossais, a infraestrutura erguida ao longo de 50 anos ou mais com mão de obra síria. Na Síria a infraestrutura não foi construída com mão de obra estrangeira, e temos as capacidades necessárias para reconstruí-la.
Igualmente, no plano econômico, o que temos é fruto do trabalho de sírios, porque há muito tempo não temos relações importantes no plano econômico com o ocidente.
Quando essa guerra chegar ao fim, tudo será reconstruído, não há problemas quanto a isso. Claro que exigirá tempo, mas não é impossível.
As perdas humanas, sim, são as perdas realmente dolorosas, essa a grande dor dos sírios hoje.
TeleSur: Dos 86 países da coalizão que ataca a Síria, alguns talvez participem da construção?
Presidente Bachar al-Assad: Não. Com certeza não. Em primeiro lugar, porque não querem que a Síria seja reconstruída. Mas não há dúvidas de que algumas empresas nos países que nos atacam, se virem que as coisas começam a andar, quero dizer, que a economia volta a andar e a reconstrução recomeça, como oportunistas que são, só interessados no dinheiro, estarão prontos a tentar vir à Síria para participar dos lucros da reconstrução, sem dúvida.
O povo sírio não aceitará. Nenhum país que tenha atacado o povo sírio e que tenha contribuído para devastar, destruir a Síria participará da reconstrução. Isso está decidido.
TeleSur: Como tem sido a vida ao longo desses 6 anos, nessa nação assediada?
Presidente Bachar al-Assad: Claro q a vida é dura. Todos os sírios formos afetados. Os terroristas destruíram a infraestrutura, em algumas áreas só há eletricidade durante 1 ou 2 horas e em outras absolutamente não há eletricidade. Há zonas sem eletricidade há dois, três anos, sem televisão, sem escolas para as crianças, sem clínicas nem hospitais, os doentes estão sem atendimento. Vivem na pré-história, por culpa dos terroristas. Há áreas sem água há anos, como aconteceu em Alepo… durante longos anos não houve água na cidade de Alepo. Em vários momentos beberam água sem purificação, cozinharam com água sem purificar. A vida foi tremendamente difícil.
TeleSur: Um dos alvos principais durante esses anos, foi o senhor, presidente Bachar al-Assad. Sentiu medo?
Presidente Bachar al-Assad: Quando se está em guerra, não se sente medo. Acho que é o que responderiam todos por aqui. Mas há a preocupação, com o destino da pátria. O que significaria a segurança pessoal, como cidadão, num país agredido e ameaçado. Ninguém estará jamais seguro enquanto persistir a ameaça contra a Síria.
Penso que o que sentimos de modo geral na Síria é preocupação pelo futuro da Síria mais que medo por nós mesmos. Os tiros e projéteis de morteiro caem em qualquer lugar, entram em qualquer casa. Nem por isso a vida parou na Síria. Há uma vontade de vida, muito mais forte que algum medo no sentido pessoal. Esse sentir, para mim, pessoalmente, como Presidente, advém do que o povo sente, não de mim mesmo. Não vivo isolado.
TeleSur: Os meios de comunicação ocidentais em todo o mundo distribuem muita propaganda contra o senhor. Será que estou sentado realmente diante daquele demônio que os jornais pintam?
Presidente Bachar al-Assad: Tem razão. Para o ocidente, o senhor está entrevistando o próprio demônio. É a propaganda ocidental atual.
Essa publicidade ocidental sempre aparece quando algum país, algum governo ou algum governante não se submete aos interesses do ocidente, se não trabalha exclusivamente a favor dos interesses ocidentais e contra os interesses de seu próprio povo. Sempre foi assim. São as exigências ocidentais colonialistas que sempre se repetiram ao longo da história.
Dizem que quem resiste a eles é mau, que mata gente boa. Ora... Rússia, Irã, todos os países nossos amigos nos apoiam não porque um ou outro governante nos apoie, mas porque o povo daqueles países está mais perto da verdade que o ocidente. E os sírios também apoiam nosso governo. Como é possível que os sírios apoiem seu governo, se o governo os estivesse mantando?
É só mais uma versão contraditória que só sobrevive na propaganda do ocidente. Por isso já não perdemos tempo com essas versões ocidentais que sempre, ao longo da história estiveram cheias de mentiras. Nisso não há novidade alguma.
TeleSur: O que a Síria faria para pôr fim a essa guerra, se estamos às portas da 6ª rodada de conversações em Genebra?
Presidente Bachar al-Assad: Temos falado de dois eixos.
O primeiro eixo consiste em lutar contra o terrorismo. Isso não se discute e não temos opção no trato com terroristas que não seja lutar contra eles.
O outro eixo é a parte política, que consiste em dois pontos: primeiro, o diálogo com todas as forças políticas sobre o futuro da Síria; o segundo consiste nas reconciliações locais, no sentido de que negociamos com os terroristas em cada vila ou cidade, tratando as questões caso a caso.
O objetivo da reconciliação é que eles deponham as armas e recebam um indulto do Estado, para assim retomarem o curso normal de suas vidas. Este eixo, esse tipo de negociação está sendo feita já há 3 ou 4 anos, obteve bons resultados e prossegue atualmente.
São os temas que podemos trabalhar com o objetivo de resolver a crise na Síria.
TeleSur: Daqui de onde estão, nesse país em guerra, como os senhores veem a situação na América Latina, particularmente na Venezuela, onde começaram a aparecer ações muito semelhantes às que fizeram crescer e eclodir o conflito na Síria?
Presidente Bachar al-Assad: É esperável que haja semelhantes, dado que o plano é o mesmo, e o executor é o mesmo: os EUA dirigem a orquestra, todos os demais países ocidentais e o coro que os acompanham.
A América do Sul em general e Venezuela em particular, foram quintal de despejo dos EUA durante décadas, quintal de onde os países ocidentais e principalmente os EUA, arrancavam o que quisessem, o que seus interesses econômicos mandassem, com a ação das grandes empresas norte-americanas transnacionais em cada um dos seus países. E os golpes de estado sucederam-se durante os anos 1960 e 1970, fossem golpes militares ou políticos, todos visavam a consolidar o controle dos EUA sobre os interesses dos povos da América Latina.
Mas ao longo dos últimos 20 anos, a América Latina livrou-se desse jugo e alcançou a autodeterminação, seus governos afinal começaram a poder defender os interesses do próprio povo. E, isso, os EUA absolutamente não aceitam. Por isso, agora se aproveitam do que está acontecendo pelo mundo, desde a revolução cor-de-laranja na Ucrânia até o último golpe ocorrido nesse país há vários anos. Aproveitam-se do que ocorre nos países árabes, na Líbia, na Síria, no Iêmen e em outros países, com o propósito de aplicar as mesmas 'técnicas' nos países latino-americanos. Começaram pela Venezuela, com o objetivo de derrubar o governo nacional legal. Farão o mesmo aos demais países da América Latina.
TeleSur: Há quem pense, especialmente os cidadãos comuns em toda a América Latina, que um cenário similar ao que se vê hoje na Síria poderia repetir-se na América Latina. Qual sua opinião?
Presidente Bachar al-Assad: Não tenho dúvidas disso. Já lhe disse que se o plano é o mesmo e o executor é o mesmo, é normal que o cenário resultante nos demais países atacados não apenas se assemelhe: ele será idêntico. Claro que alguns detalhes locais sempre variarão.
No início, diziam que as manifestações na Síria seriam pacíficas, mas ao ver que não se repetiam, ou que se mantinham pacíficas, trataram de infiltrar bandidos nas manifestações, para disparar contra os dois lados, contra a polícia e também contra os manifestantes, especificamente para produzir mortos; e começaram a 'informar' que o governo matava o próprio povo. Esse cenário repete-se em todo o mundo.
E se repetirá também na Venezuela. Por isso o povo venezuelano deve manter-se bem consciente de que há grande diferença entre fazer oposição a um governo e lutar contra os próprios interesses nacionais do país. Estar contra um governo e estar contra a Pátria são coisas muito diferentes.
Isso, por um lado. Por outro lado, nenhum país estrangeiro pode zelar pelos interesses da Venezuela, mais ou melhor que o povo da Venezuela. Não acreditem no Ocidente. O Ocidente não se interessa por direitos humanos nem pelos interesses dos países. O Ocidente só cuida dos interesses de uma parte da elite governante em outros países. Essa elite governante não é só política, inclui as empresas e seus interesses econômicos.
TeleSur: Falamos da América Latina, Venezuela e da Revolução Bolivariana da qual o senhor foi aliado empenhado. Que recordações o senhor guarda do falecido presidente Hugo Chávez?
Presidente Bachar al-Assad: O Presidente Chávez foi nome importante para todo o mundo. Sempre que falo sobre América Latina recordo imediatamente o presidente Chávez e também o falecido líder revolucionário Fidel Castro, líder da Revolução Cubana, duas importantes figuras que mudaram o rosto da América Latina.
Conheci, claro, pessoalmente o presidente Chávez, nos reunimos mais de uma vez, tive uma relação pessoal com o presidente Chávez, que nos visitou na Síria, e também o visitei na Venezuela. O presidente Chávez nos visitou duas vezes, eu só pude visitá-lo uma vez.
O presidente Chávez é desses que, quando o vemos pessoalmente já se sabe que é filho do povo, um homem que vive o sofrimento do povo que ele representa. Sempre que falava fazia referência ao povo da Venezuela. Em reuniões de chefes de Estado com funcionários de outros países, o seu primeiro pensamento era o que fazer para construir interesses comuns que viessem a beneficiar os venezuelanos. Um verdadeiro líder, homem de forte carisma e infinitamente sincero.
TeleSur: Chávez foi satanizado, e parece que agora chegou a vez do presidente Nicolás Maduro.
Presidente Bachar al-Assad: É normal, porque o presidente Maduro segue a mesma linha de autonomia nacional; como o presidente Maduro, prossegue na mesma linha nacional e de independência da Venezuela, e trabalhando para os cidadãos de seu país, é normal que seja agora o principal alvo dos EUA. É óbvio e ninguém deve se preocupar com isso.
TeleSur: Como o senhor, presidente Bachar al-Assad, vê o final desta guerra?
Presidente Bachar al-Assad: Se fosse possível superar a questão da interferência estrangeira na Síria, o problema se simplificaria muito. A maioria dos sírios estão cansados da guerra, desejam una solução e desejam voltar a viver com segurança e estabilidade. Há um diálogo entre nós, os sírios, há encontros, as pessoas se reúnem e convivem, quero dizer, não há qualquer barreira real que divida os sírios.
O problema é que cada vez que damos um passo rumo à solução e ao restabelecimento da estabilidade, as gangues terroristas recebem mais dinheiro e mais armas, com o objetivo de retomar a violência e inviabilizar qualquer solução. Por isso se pode dizer que a solução começa por suspender qualquer apoio enviado do exterior aos terroristas. É o primeiro passo.
Por nosso lado, na Síria, a via para restaurar a segurança será a reconciliação entre todos os sírios e indulto para o que aconteceu no passado, durante a guerra. O senhor pode ter certeza de que, quando isso for feito e o processo se completar, a Síria será muito mais forte que a Síria de antes da guerra.
TeleSur: O senhor está disposto a se reconciliar com os que se levantaram em armas contra o povo sírio?
Presidente Bachar al-Assad: Claro que sim. Já aconteceu em várias regiões do país. Das pessoas que já receberam indulto, alguns se incorporaram ao Exército Sírio, alguns caíram como mártires, outros voltaram à cidade onde viviam, em áreas que nós já controlamos. Para nós não há problema algum: a reconciliação é essencial para pôr fim a qualquer guerra. A Síria também caminha nessa direção.
TeleSur: Senhor Presidente, para encerrarmos nossa entrevista, tem alguma mensagem para a América Latina e o mundo?
Presidente Bachar al-Assad: Preservem a independência de seus países.
Nessa parte árabe do mundo, já celebramos a independência de mais de um país. Mas em alguns do países dessa região, a independência significou apenas a retirada de forças de ocupação. A verdadeira independência só acontece quando os povos adquirem o poder de decidir nacionalmente.
Para essa parte do mundo, a América Latina foi modelo de independência, quer dizer, o ocupante partiu, no caso de haver ocupação por tropas estrangeiras, mas ao mesmo tempo os países recuperaram o poder nacional para decidir, a abertura e a democracia. A América Latina deu ao mundo um modelo importante. Conservem esse modelo, defendam-no, porque muitos países que aspiram ao desenvolvimento, sobretudo os países do Terceiro Mundo, devem seguir o modelo já aplicado na América Latina.