O Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria dos atentados, sendo essa a primeira vez que a organização ataca dentro das fronteiras do país, num provável ato de retaliação a ofensiva imperialista sobre os territórios controlados pelo EI na Síria e no Iraque.
Nesses últimos anos, o EI vem sofrendo derrotas significativas nas cidades que controla, e essa mesma organização vem intensificando os atentandos terroristas em reação às derrotas que vem sofrendo.
Exemplos disso são os constantes e cotidianos atentandos com carros bomba que tiram a vida de milhares de trabalhadores e crianças na capital iraquiana, Bagdá (que inclusive quase nunca são informados pelas grandes imprensas ocidentais), depois da perda de províncias sob controle do EI no país. Outro exemplo foi a da derrota para os exércitos curdos do YPG na cidade síria de Kobane, na fronteira com a Turquia, e que terminou com um ataque terrorista na cidade turca de Suruc em 2015, quando militantes de esquerda organizavam uma manifestação de apoio aos curdos, deixando vários mortos, dentre eles muitos estudantes.
Os ataques feitos nos países onde o EI tem o controle de cidades são mais sistemáticos e violentos, porém a organização não deixa de reivindicar atentados fora desses países, como vimos na França nesses últimos anos (e motivo central para aplicar nesse país um reacionário estado de exceção), e mais recentemente na Inglaterra. Um fator em comum desses atentados é que eles foram feitos em países que apoiam e integram militarmente a coalizão anti-EI liderado pelos EUA.
Essa coalizão imperialista consiste, por enquanto, em fornecer armamentos para os exércitos opositores ao EI e em ataques aéreos em suporte desses mesmos grupos militares nativos.
Nesse sentido, indivíduos preparam esses atentados em outros países sob a bandeira do EI em resposta ao bombardeio sistemático que esses mesmos países exercem sobre os territórios controlados do EI na Síria, no Iraque e inclusive na Líbia.
Nessa situação de seguidas derrotas, a mais importante está sendo sobre a "capital" do EI na Síria, a cidade de Raqqa, tomada em 2014 de grupos opositores a Assad, e que desde novembro do ano passado vem sofrendo uma ofensiva das "Forças Democráticas Sírias", uma coalizão de vários grupos com hegemonia dos exércitos curdos financiados pelos EUA. Porém, nos últimos dias um novo ator entrou em cena na ofensiva contra a capital do auto intitulado califado: os exércitos de Assad e as milícias que apoiam seu regime ditatorial.
Esse é um fator que explica a provável e inédita retaliação do EI no Irã. Muitos podem estar surpresos com um atentado desse tipo num país que é visto de forma estereotipada pela comunidade ocidental como uma "República de extremistas religiosos e xiitas". Porém, esse atentado tem um caráter político e não religioso, pois o regime ditatorial no Irã (e disfarçado de República Islâmica) apóia, financia e intervém militarmente ao lado de Assad, o mesmo que agora está atacando e ferindo de morte o território mais importante e estratégico sob o controle do Estado Islâmico.