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Diário Liberdade
Quarta, 24 Julho 2019 13:37 Última modificação em Quarta, 24 Julho 2019 13:40

O Irã, as mulheres e o imperialismo ocidental

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Jones Manoel

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Uma página muito boa de esquerda (Imagem e História) publica uma foto de uma mulher de biquíni numa praia do Irã e coloca a legenda mais ou menos assim “Em 1960, antes da Revolução Islâmica”.


É muito comum esse tipo de “crítica” ao Irã. Eu, sinceramente, não acho esse tipo de abordagem aceitável. Ela fortalece um ocidentalismo hipócrita que acredita ter uma superioridade moral e civilizatória frente ao “orientalismo” islâmico. Pior: é uma simplificação grosseira da história.

Explico em poucas linhas.

Todos os projetos políticos nacional-populares modernizantes total ou parcialmente laicos do Oriente Médio e África foram combatidos pelas potências imperialistas usando, dentre outros instrumentos, grupos fundamentalistas islâmicos. O imperialismo ocidental, com destaque para Inglaterra e EUA, nunca teve pudores em armar, treinar, financiar e oferecer cobertura diplomática para o pior esgoto que se possa imaginar.

O caso da paixão estadunidense pelo Talibã (chamados de “Guerreiros da Liberdade” pela mídia ocidental) é apenas o exemplo mais famoso, mas está longe de ser uma situação isolada.

Quando o Irã buscou construir um projeto nacionalista e tendencialmente laico liderado por Mohammed Mossadegh, o resultado foi um golpe de estado com articulação direta da CIA.

A história do Irã pós-golpe não é uma trajetória de direitos humanos e respeito às liberdades individuais das mulheres.

Durante a ditadura pró-Ocidental do Xá Reza Pahlevi, cresceu a pobreza, miséria, desigualdade, entrega dos recursos naturais, prostituição, violência e afins. E não existe liberdade para as mulheres onde elas não têm emprego, saúde, educação etc. etc. etc.

A Revolução Islâmica, em muitos aspectos, significou regressões em termos de liberdades individuais. Mas ela é produto do histórico de agressões imperialistas. É uma reação em bloco e compreensível a tudo que pareça com imposição cultural ocidental.

Mesmo assim, o Irã tá longe de ser o maior exemplo de opressão sobre as mulheres do Oriente Médio e dos países de maioria islâmicas. No ensino superior, por exemplo, as mulheres são um pouco mais que 50%. Estão inseridas no mercado de trabalho e têm vários direitos civis reconhecidos.

irEstá longe, bem longe, do ideal, mas não é comparável com a situação terrível da reacionária monarquia da Arábia Saudita. E pior: esse “imperialismo dos direitos humanos” que usa a pauta dos direitos das mulheres para agredir, isolar e difamar o Irã, não ajuda em nada a luta das mulheres no país (que existe!).

Ao contrário. Ajuda na difusão de um difuso sentimento antiocidental em bloco. O que eles querem mesmo é a volta da época do Xá quando o país era um grande prostíbulo do Ocidente e as mulheres tinham a liberdade de serem prostitutas.

A melhor forma de ajudar a luta pela emancipação da mulher no país é não aceitar, normalizar, esse discurso intervencionista e ocidentalista. É proclamar o direito do país à sua soberania nacional e da auto-organização, sem interferência do onguismo gringo, das mulheres do país.

Fonte: Disparada.

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