Tudo isso não faz o menor sentido. O nazismo/fascismo aconteceu por aqui mesmo, no Planeta Terra. Foi a expressão de um processo em curso durante toda a história da humanidade, presente no dia a dia de todas as pessoas: a luta de classes. Já em 1931, durante o desenrolar dos acontecimentos, em uma carta publicada no jornal britânico The Militant em 1932 (“Fascismo, o que é isso?”), Trótski explicava a um militante inglês que o fascismo é um movimento de massas essencialmente pequeno-burguês financiado e dirigido pelos grandes capitalistas.
Também em 1932, Trótski explicava que o fascismo é o governo da burguesia que corresponde à fase de declínio do capitalismo e da própria burguesia: “no declínio do capitalismo a burguesia é forçada a recorrer a métodos de guerra civil contra o proletariado para proteger seus direitos de exploração” (O único caminho para a Alemanha). Essa era a análise que Trótski fazia diante dos fatos no momento em que eles aconteciam. Trata-se de um problema relativo à luta de classes, o fascismo é um recurso da burguesia contra os operários diante da crise do capitalismo.
A apresentação do nazismo como algo extraordinário e além de qualquer explicação visa esconder esse simples dado da realidade. A burguesia procura esconder tanto a luta de classes quanto o próprio nazismo, que em vários sentidos espalhou-se pelo mundo e foi parcialmente adotado como política da burguesia em quase todos os países.
Entre tantos outros exemplos da presença do nazismo hoje, pode-se citar as técnicas de tortura dos nazistas, assimiladas pelos franceses durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial e exportadas para os EUA e a América Latina pelas Forças Armadas francesas. Esses métodos de tortura inventados pelos nazistas foram aplicados em todas as ditaduras de direita na América Latina na segunda metade do século XX. Outro exemplo: a política de privatizações, na qual o partido nazista foi pioneiro durante os anos 30, privatizando os bancos que o Estado tinha comprado no marco da crise de 1929, política levada adiante sob o comando do banqueiro, e ministro de Hitler, Hjalmar Schacht.
Schacht e os bancos não eram os únicos amigos do partido nazista. Segundo um estudo acadêmico assinado por Thomas Ferguson e Hans-Joachim Voth, “Apostando em Hitler, o valor das conexões políticas na Alemanha nazista”, uma em cada sete empresas apoiavam o partido nazista no começo dos anos 30. O apoio de grandes companhias, apontam os autores, era bem maior do que se imaginava e ia muito além da IBM e da I.G.Farben. O estudo acompanha a valorização das empresas bem relacionadas durante o regime na bolsa de valores. Os amigos dos nazistas lucravam mais, e eles eram uma parte significativa da burguesia, incluindo seus principais setores, bancos e grandes monopólios.
Fritz Thyssen, grande industrial que apoiou Hitler até sua subida ao poder, escreveu em sua biografia, intitulada “Eu paguei Hitler”, que apoiou os nazistas por medo dos comunistas. As confissões de Thyssen resumem o que foi o nazismo, uma ditadura violenta dos capitalistas contra os trabalhadores organizados, contra o comunismo. Os demais aspectos dos regimes fascistas, como a ideologia ou as técnicas de propaganda, são fatores secundários. Não por acaso são as características que ganham destaque em uma montanha de material produzida sobre os anos de governo nazista. Procuram dissimular o traço fundamental do nazismo: a guerra contra o comunismo e os trabalhadores.