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Diário Liberdade
Quarta, 08 Junho 2016 13:32 Última modificação em Domingo, 12 Junho 2016 14:34

Aonde vai a França?

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País: França / Batalha de ideias / Fonte: Diário Liberdade

[Alejandro Acosta] Conforme a crise capitalista continua avançando em escala mundial, na direção de um novo e maior colapso, a burguesia encontra cada vez maiores dificuldades para manter a “governabilidade”. Os mecanismos de contenção da classe operária apresentam rachaduras.

Na França, há quase três meses, o movimento operário entrou em ascenso, junto com a participação da juventude, que representa setores da camada média da sociedade, contra a imposição da Reforma Trabalhista pelo governo do “socialista” François Hollande. As greves estão se espalhando para setores chave da economia, como as refinarias, os transportes em geral (caminhoneiros, aeronautas da Air France, portuários, metroviários, ferroviários etc), entre outros.

No dia 26 de maio, aconteceram inúmeras greves em várias empresas capitalistas, inclusive em plantas da Peugeot. Várias dessas greves estão se tornando por tempo indeterminado. O movimento caminha em direção à greve geral.

O movimento operário francês, assim como aconteceu com o movimento operário mundial, tinha ficado paralisado, ou pelo menos semi-paralisado, nas últimas duas a três décadas. No último grande ataque imposto pelo governo direitista encabeçado por Nicolás Sarkozy, em 2010, a Reforma da Previdência foi aprovada com escassa resistência dos trabalhadores que foram desorganizados pela burocracia sindical. A reação dos trabalhadores foi espontânea. A Central Sindical que se encontra à frente das mobilizações, a CGT (Confederação Geral do Trabalho), é uma central pequena e secundária e que, por esse motivo, os setores majoritários, mais burocráticos, foram empurrados mais à esquerda ou ultrapassados.

A PRINCIPAL LIMITAÇÃO: O ESPONTANEÍSMO

Todos os processos de retomada de lutas pela classe operária sempre passaram pela retomada das organizações históricas dos trabalhadores, que estavam nas mãos dos pelegos. Como explicar essa revolta, que começa a assumir características insurrecionais?

Em primeiro lugar, é preciso identificar a acelerada decomposição do regime político francês. O governo “socialista” do presidente François Hollande e do primeiro-ministro Manuel Valls se encontra em franca crise sem conseguir aplicar as medidas “neoliberais” necessárias para salvar os grandes capitalistas da crise mantendo a base eleitoral dos movimentos sociais e sindicais.

Os ataques do PIGs (Partido da Imprensa Golpista) francês e da FIESP/FIRJAN/CNI francesa, o MEDEF (a central patronal), não conseguiram conter a revolta operária nem mesmo após ter aprovado a Lei Antiterrorista e após ter endurecido, significativamente, o regime a partir dos ataques terroristas.

O enfraquecimento do regime não implica em que a burocracia sindical tenha perdido controle do movimento operário ainda. Mas sim implica em que uma parte da burocracia está acompanhando o movimento e que tem como objetivo quebra-lo por dentro.

A própria burocracia da CGT, por exemplo, não levanta as reivindicações operárias para lutar contra a Reforma Trabalhista. A luta simplesmente passa pela retirada dessa Lei, o que, evidentemente, não derrotará os planos de “ajustes”, que têm como ponto central os ataques contra as condições de vida dos trabalhadores. Se o governo socialdemocrata não conseguir impor esses ataques hoje, a burguesia tende a impor um governo mais duro nas eleições que acontecerão no próximo ano para impô-los. Por esse motivo, a derrota definitiva desses ataques só pode passar por um programa de lutas pelas bandeiras operárias.

O REGIME EM CRISE RUMO ÀS ELEIÇÕES EM 2017

Em 2017, acontecerão eleições gerais na França e na Alemanha, as duas principais potências da Zona do Euro. O Partido Socialista Francês (PSF), que em 2012 (eleições presidenciais) e em 2013 (eleições legislativas) obteve quase 30% dos votos agora, de acordo com as pesquisas, teria menos de 14% das intenções de votos.

A UMP, hoje renomeada para Os Republicanos, do ex-presidente Nicolás Sarkozy, teria as intenções de voto aumentadas de 27% para 35%. E a extrema-direita agrupada na Frente Nacional, de Marine Le Penn, estaria passando de 18% para 28%. A Frente de Esquerda, encabeçada pelo NPA (Novo Partido Anticapitalista) de Melenchon, passaria de 11% para 12%. Da mesma maneira, na Alemanha, o partido da chanceler Ângela Merkel, a CDU (União Democrática Cristão), estaria caindo de 41% para 30% nas intenções de voto. O SPD (Partido Socialdemocrata), que faz parte da coalisão no governo de Merkel, cairia de 26% para 19%. A esquerda passaria de 8,5% para 9,5%. Os Verdes de 8,5% para 13%. Os “neoliberais” do FDP, que tinham perdido a representação no parlamento, passariam de 4,8% para 8%. E o verdadeiro avanço ficaria por conta da AfD (Alternativa para Alemanha), partido de extrema-direita, que passaria dos 4,7% para os 15%.

O esfacelamento do regime político nas potências centrais representa uma amostra do reflexo político do aprofundamento da crise capitalista mundial. O bipartidarismo, que seria o mecanismo ideal para que os grandes capitalistas consigam controlar o regime burguês, está dando lugar ao aparecimento de vários partidos políticos e à implosão dos partidos burgueses tradicionais.

O BIPARTIDARISMO À BEIRA DO COLAPSO

Na Europa, o processo de decomposição do bipartidarismo aparece de maneira muito clara nos países em que a crise foi mais longe, como, por exemplo, na Grécia, na Itália, na Espanha, em Portugal e na Irlanda. Mas conforme a crise foi avançando também começou a aparecer de maneira clara nas potências centrais europeias, como na França, na Alemanha e também na Grã-Bretanha.

Conforme os monopólios perdem os lucros, o estado imperialista aumenta a pressão para descarregar o peso da crise sobre os trabalhadores. Essa política, impulsionada pelas próprias leis do capitalismo, tende a implodir o centro do regime burguês em escala mundial e, ao mesmo tempo, a luta de classes tende a se polarizar nos extremos.

Na França, ainda não foi colocada na ordem do dia a formação do Partido Operário e Revolucionário de massas, inclusive porque a revolta que está acontecendo nesse momento deve ser entendida como uma primeira expressão, evidentemente muito importante, da retomada do movimento operário que tinha sido paralisado pelas políticas “neoliberais” e a traição da burocracia sindical. A burguesia está fortalecendo a extrema-direita. Mas a toda ação corresponde uma reação. A capacidade de fazer concessões ficou muito reduzida para a burguesia que tem se visto obrigada a entrar em choque com as massas.

Para o próximo período, a tendência à agudização das contradições sociais deverá escalar e, inevitavelmente, a classe operária tenderá a fortalecer as tendências na direção da formação dos próprios partidos.

https://gazetaoperaria.org

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