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Diário Liberdade
Terça, 15 Agosto 2017 12:45 Última modificação em Sexta, 18 Agosto 2017 10:55

Promover a RPDC, para relançar a Guerra nas Estrelas de Reagan?

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País: Estados Unidos / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Moon of Alabama

[Tradução do Coletivo Vila Vudu] Desde que Trump fez ameaças de "fogo e fúria" contra a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), passou a haver certa sanidade entre as autoridades. A conversa sobre ataques preventivos contra a RPDC entre a comunidade dos entendidos praticamente acabou. Jamais houve qualquer possibilidade séria. A Coreia do Norte tem muitas opções para retaliar contra qualquer ataque e todas virão acompanhadas de danos catastróficos à Coreia do Sul e ao Japão e, portanto, aos interesses dos EUA na Ásia.

A Coreia do Norte (RPDC) pode ser contida com sucesso do mesmo modo que todos os demais estados nucleares são contidos e não usam os respectivos arsenais nucleares. Infelizmente, o Conselheiro para Assuntos de Segurança Nacional dos EUA McMaster ainda não recebeu essa mensagem:

STEPHANOPOULOS: Mas sua antecessora Susan Rice escreveu essa semana que os EUA podem tolerar as armas atômicas na Coreia do Norte assim como toleramos ainda muito mais armas nucleares na União Soviética durante a Guerra Fria. Ela acerta ?

MCMASTER: Não, ela erra. E acho que a razão pela qual erra é que a teoria clássica da contenção, como se aplica a um regime como o da Coreia do Norte? Um regime que pratica brutalidade indizível contra o próprio povo? Regime que representa ameaça continuada aos próprios vizinhos na região e agora pode ser ameaça também, ameaça direta, aos EUA com armas de destruição em massa? Um regime que prende e assassina qualquer um que se oponha a ele, incluindo membros da própria família, usa gás 'de nervo' – num aeroporto público?

A contenção clássica funcionou contra a União Soviética e também contra a China de Mao. (Vice-versa funcionou também contra os EUA.) Todos esses eram, pode-se dizer, brutais contra dissidentes internos, ameaçando vizinhos e oponentes militares dos EUA. Se todos esses foram contidos, então também é possível conter a Coreia do Norte.

Para pôr ordem na tripulação de Trump. A China republicou as garantias que deu à Coreia do Norte no campo da segurança. O jornal do Partido Comunista da China, mas porta-voz não oficial The Global Times, escreveu em editorial:

"A China deve também deixar claro que se a Coreia do Norte lançar em primeiro lugar mísseis que ameacem solo norte-americano e os EUA retaliarem, a China permanecerá neutra," [...].

"Se EUA e Coreia do Norte atacarem e tentarem derrubar o regime norte-coreano e mudar o padrão político da Península Coreana, a China impedirá aqueles países de fazerem tal coisa."

Guerra não provocada contra a Coreia do Norte, portanto, escalará imediatamente e converter-se-á em guerra com a China – e ninguém pode estar seriamente interessado em tal aventura. O único curso razoável é negociar algum novo nível de equilíbrio entre Coreia do Norte e interesses dos EUA.

Os EUA continuam a realizar grandes exercícios de manobras conjuntas na Coreia do Sul e estão levando aviões com capacidade nuclear para as fronteiras da Coreia do Norte. Essas ações exigem que os militares norte-coreanos permaneçam caríssimo estado de alerta máximo contra surpresas potenciais. Um dos objetivos das armas nucleares norte-coreanas é reduzir a necessidade de tanta prontidão convencional.

A Coreia do Norte várias vezes ofereceu para pôr fim aos testes com mísseis e bombas nucleares, se os EUA encerrassem suas grandes manobras próximas à fronteira do país. O governo Trump rejeitou a oferta, mas a Coreia do Norte aumentou a pressão com seus testes recentes.

Semana passada a Coreia do Norte outra vez ofereceu-se para reduzir as próprias ações, se os EUA parassem com as provocações. Anunciou que estuda a possibilidade de testar quatro mísseis a serem disparados em alvo próximo da base dos EUA em Guam. Os bombardeiros estratégicos norte-americanos que voam perto da Coreia do Norte quase sempre decolam de Guam. Poucos se deram conta de que aquele anúncio era condicionado e veio acompanhado de um oferecimento:

Tipicamente, os bombardeiros nucleares estratégicos que partem de Guam sobrevoam a Coreia do Sul ocupados em exercícios de acintosas manobras de guerra e 'exibindo a musculatura' como 'aviso' de que a qualquer momento poderiam atacar as bases estratégicas da RPDC. Essa situação grave exige que o Exército Popular da Coreia [do Norte] mantenha severa vigilância sobre Guam, o posto avançado e cabeça de praia para invadir a RPDC, e que necessariamente empreenda ações práticas significativas para neutralizá-la.

Na manhã de 8 de agosto, os piratas voadores de Guam novamente apareceram nos céus da Coreia do Sul, para encenar um exercício alucinada, simulando guerra real.
...

[Os EUA] devem pôr fim imediato a essas provocações irresponsáveis e temerárias contra o estado da RPDC, para que esse estado não se veja forçado a fazer uma inevitável escolha militar.

Em outras palavras, parem com os sobrevoos que partem de Guam ou seremos obrigados a testar nossos mísseis usando por alvo áreas próximas àquela ilha. Os EUA não têm defesa aproveitável que garanta que os quatro mísseis simultâneos disparados contra Guam não atinjam o alvo. Se a Coreia do Norte chegar ao ponto de realmente testar os mísseis em áreas próximas de Guam os EUA ficarão em posição vergonhosa. Se tentar defender-se contra os mísseis de ataque e falhar, o fracasso só piora. Tenho confiança que os sobrevoos de bombardeiros estratégicos que decolam de Guam logo terão fim.

Vários analistas disseram que os EUA só fazem distribuir falsos alarmes sobre as capacidades da Coreia do Norte. Que a dita confirmação de inteligência de que a Coreia do Norte teria ogivas nucleares miniaturizadas não passa de mentira, que os mísseis da Coreia do Norte não conseguem alcançar área continental dos EUA ou que a cobertura do veículo de reentrada na atmosfera que a Coreia do Norte teria usado em testes recentes não é suficientemente forte a ponto de poder ser usada em disparos nucleares. Mas foi a Coreia do Norte que mostrou uma ogiva miniaturizada em março de 2016; o alcance de um míssil é variável e depende muito do tamanho e tempo de ignição do disparador, e o fracasso da cobertura referida acima foi causado pela trajetória fora do normal que a Coreia do Norte escolheu para o teste. A chance de a Coreia do Norte estar certa quando diz que pode atingir território dos EUA é hoje superior a 50%. Portanto, por todas as considerações práticas, qualquer pessoa tem hoje de aceitar que a Coreia do Norte é estado armado com armas nucleares que pode com sucesso atacar território continental dos EUA com vários mísseis armados com bombas nucleares.

A ideia de que as agências de inteligência dos EUA exagerariam as capacidades da Coreia do Norte é, muito provavelmente, ideia falsa. Mas também é razoável. O governo Trump, o Pentágono e os mercadores de armas com certeza colherão a oportunidade para fazer avançar os próprios objetivos.

Um especialista em marketing de mísseis de defesa disse hoje que os motores dos mísseis norte-coreanos usados nos testes recentes foram comprados de fábricas na Ucrânia e na Rússia. O propagandista de todos os dias no New York Times imediatamente se aproveitou disso para voltar a bater na tecla anti-Rússia:

Mr. Elleman não conseguiu descartar completamente a possibilidade de que uma grande empresa russa de mísseis, Energomash, que tem forte laços com o complexo ucraniano, teve um papel na transferência da tecnologia do motor RD-250 para a Coreia do Norte. Disse que os motores RD-250 descartados podem também estar armazenados em depósitos russos.

Mas os motores em questão têm tamanho e potência diferentes dos supostos R-250 e a janela de tempo de produção também não coincide. O governo ucraniano negou qualquer transferência de mísseis ou de motores. A história foi descartada em poucas horas, por dois especialistas proeminentes. Mas implicar a Rússia, por mais que a implicação seja falsa e fantasiosa, é sempre bom negócio se se quer vender mais e mais armas.

Um dos cavalinhos de brinquedo do Pentágono são dos sistemas de mísseis de defesa de médio alcance THAAD que passarão agora a ficar instalados na Coreia do Sul. E, isso, mesmo que sejam incapazes de defender a Coreia do Sul contra mísseis de curto alcance da Coreia do Norte. Evidentemente lá ficarão apontados para a China.

O governo aspirante a governo Reagan 2 hoje instalado na Casa Branca pode em breve ressuscitar a Iniciativa de Defesa Estratégica, IDE [Strategic Defense Initiative, SDI], de Reagan, também chamada "Star Wars", lançada em 1984. A SDI foi aquele sonho caro mas irrealista de manter lasers no espaço, além de outras engenhocas desse tipo. Na 'iniciativa' SDI os militares norte-americanos jogaram centenas de bilhões, para um Míssil de Defesa Balística Global, que supostamente defenderia os EUA continentais contra qualquer possível míssil intercontinental disparados contra eles. O programa acabou enterrado no início dos anos 1990s. Sobreviveu contudo um filho de Guerra nas Estrelas. Trata-se do Míssil de Defesa Nacional, MDN, com 40 interceptores no Alasca e na Califórnia. Nunca funcionou muito bem e provavelmente jamais funcionará. Se o NMD funcionar como prometido não haverá o que temer dos mísseis balísticos intercontinentais da Coreia do Norte. Mas a defesa de mísseis é, principalmente, uma gigantesca fraude para transferir bilhões de dólares dos contribuintes norte-americanos para alguns poucos conglomerados fabricantes de armas.

Espero que a "ameaça" da Coreia do Norte seja logo usada para lançar "IDE, o Retorno", mais uma tentativa para militarizar o espaço com bilhões jogados em projetos futuristas e inúteis de "defesa". Suavizará um pouco o padecimento do Pentágono, ao ver que a Coreia do Norte prossegue, muito bem-sucedida, apesar das décadas que os EUA empregaram em tentativas para subjugar aquele pequeno estado.

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