Os partidos que estiveram juntos no governo federal alemão nos últimos quatro anos perderam, em conjunto, cerca de 20 pontos percentuais de votação e mais de 100 lugares no parlamento federal (Bundestag), de acordo com as projecções que estão a ser divulgadas pelas televisões germânicas.
Este é o pior resultado desde as eleições de 1949 para ambos os partidos e a distribuição definitiva dos mandatos pode mesmo revelar que, em conjunto, a CDU de Angela Merkel e o SPD de Martin Schulz ficam com a mais baixa percentagem de deputados desde a Segunda Guerra Mundial.
No caso dos sociais-democratas, a eleição de hoje deve mesmo revelar-se como a mais negra desde 1890, não contando com o período de ascensão do partido Nazi, a partir de 1932.
Os dois partidos partilharam responsabilidades governativas nos últimos quatro anos, numa solução conhecida como «grande coligação» na Alemanha, uma espécie de «bloco central», como sucedeu em Portugal entre 1983 e 1985.
As projecções apontam ainda para a manutenção ou ligeira subida no número de eleitos pelos outros dois partidos que, até agora, completavam a composição do Bundestag – os Verdes e o Die Linke (A Esquerda). O FDP (liberal), que nas últimas eleições tinha ficado de fora pela primeira vez desde 1949, deve regressar com cerca de 11% do total de lugares.
Extrema-direita entra no Bundestag pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial
Não sendo surpresa a entrada da extrema-direita no parlamento federal, o resultado da Alternativa para a Alemanha (AfD) ficou muito acima do que vinha sendo apontado pelas sondagens, devendo ser o terceiro maior partido em votos e deputados, atrás da CDU e do SPD.
Fruto de um sistema eleitoral complexo, que está desenhado para excluir partidos com menor expressão eleitoral (são precisos 5% para entrar nas contas de distribuição de mandatos), não deverão ser eleitos deputados de quaisquer outras formações.
Merkel quer chefiar o seu quarto governo, mas precisa de quem lhe dê a mão
Angela Merkel já reivindicou a prerrogativa de formar governo (será o seu quarto mandato consecutivo como chefe de governo), apesar de reconhecer que a CDU foi penalizada nas urnas. Ainda que tenha rejeitado negociar com a AfD, no seu primeiro discurso acabou por ceder à retórica securitária da extrema-direita, como já tinha feito em campanha e ao longo dos últimos meses.
Do lado do SPD, Martin Schulz (antigo presidente do Parlamento Europeu) recusou uma reedição da «grande coligação», afirmando não querer deixar à AfD o papel de principal partido de oposição. O que significa esta afirmação no plano das soluções governativas, é uma incógnita, já que o SPD tem revelado muito dificuldade em demarcar-se da estratégia de Merkel para a qual, afinal de contas, contribuiu decisiva e activamente.
Os liberais do FDP, como habitual, estão disponíveis para integrar o governo, como sempre estiveram ao longo dos anos. Desde 1949, apenas entre 1957 e 1961, e entre 1998 e 2009 ficaram de fora do governo – fossem liderados pela CDU ou pelo SPD. Também da parte dos Verdes foi anunciada abertura para negociações com Merkel, ainda que os únicos governos em que participaram tenham sido os executivos liderados por Gerhard Schröder (SPD).
O Die Linke, através do twitter, promete ser a «oposição social» a um novo governo de Merkel e o «mais difícil opositor» à extrema-direita e à AfD.