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Diário Liberdade
Segunda, 06 Novembro 2017 13:26 Última modificação em Quarta, 08 Novembro 2017 13:44

Segredos do Qatar por trás da guerra na Síria

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País: Qatar / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Zero Hedge

[Tyler Durden, Tradução do Coletivo Vila Vudu] Uma entrevista de um alto funcionário do Qatar, confessando a verdade por trás das origens da guerra na Síria, viralizou nas mídias sociais no mundo árabe, na mesma semana em que foi publicado documento top secret da Agência de Segurança Nacional dos EUA [ing.NSA] que vazou e que confirma que a oposição armada na Síria sempre esteve sob comando direto de governos estrangeiros, desde os primeiros anos do conflito.

E segundo um bem conhecido analista e conselheiro econômico sírio que tem contatos muito próximos do governo da Síria, a entrevista explosiva está sendo vista como "admissão em alto nível, feita publicamente, da colusão e da coordenação entre quatro países para desestabilizar um estado independente [e que inclui] possível apoio à Nusra/al-Qaeda." Importante a considerar, "essa admissão ajudará a comprovar o que Damasco vê como ataque à sua soberania e segurança nacional. Ela servirá de base a processo legal em busca de reparações."

Com a guerra na Síria entrando na fase de conclusão, parece que novas fontes começam a falar quase que semanalmente, sob a forma de testemunho dos mais altos funcionários envolvidos na operação para desestabilizar a Síria, e também sob a forma de e-mails e documentos oficiais que vazam e que detalham as operações clandestinas para mudar o regime da Síria do presidente Assad. Por mais que muitos desses documentos ajudem a confirmar o que já sabiam há muito tempo todos os que nunca aceitaram a propaganda simplória que domina os veículos da mídia-empresa em todo o mundo, muitos detalhes continuam a se encaixar, o que dará a historiadores futuros quadro muito mais claro da verdadeira natureza dessa guerra.

Esse processo de esclarecimento está sendo acelerado – como já previsto – pela luta interna cada vez mais furiosa entre Arábia Saudita e Qatar, ex-aliados no Conselho de Cooperação do Golfo, com cada lado acusando o outro de financiar os terroristas do Estado Islâmico e da al-Qaeda (ambos dizem a verdade, por irônico que pareça). Cada dia mais o mundo assiste a mais e mais lavagem de roupa suja na praça, ao mesmo tempo em que o CCG implode, depois de anos durante os quais praticamente todas as monarquias do golfo financiaram movimentos de jihadistas em pontos como Síria, Iraque e Líbia.

Julian Assange @JulianAssange

Desde 2013 The Intercept (+WaPo?) esconde documentos da Agência de Segurança Nacional dos EUA [ing. NSA] que mostram os sauditas ordenando ataques de 'rebeldes' contra Damasco. Afinal divulgaram. https://theintercept.com/2017/10/24/Síria-rebels-nsa-saudi-prince-assad/ … 4:49 PM - Oct 24, 2017 

Agência de Segurança Nacional dos EUA [ing. NSA
Documento diz que príncipe saudita ordenou diretamente ataque coordenado, de rebeldes sírios contra Damasco
"Incendeiem Damasco" [ing. Light up Damascus], o príncipe saudita ordenou a rebeldes sírios, que cada dia mais dependiam de apoio estrangeiro". theintercept.com

Dessa vez, o alto funcionário do Qatar é ninguém menos que o ex-primeiro-ministro Hamad bin Jassim bin Jaber al-Thani, que supervisionou as operações na Síria como representante do Qatar até 2013, também como ministro de Relações Exteriores,nessa foto de 2010. (Só para lembrar, o comitê da Copa do Mundo de 2022 no Qatar doou $500 mil dólares à Fundação Clinton em 2014).

Numa entrevista à TV do Qatar na 4ª-feira (28/10), bin Jaber al-Thani revelou que seu país, ao lado de Arábia Saudita, Turquia e os EUA sempre enviaram armas a jihadistas, desde "o primeiro momento" quando os eventos começaram (em 2011).

Al-Thani até descreveu a operação clandestina como "caçar a presa" – referindo-se ao presidente Assad e seus apoiadores –, e "presa", como ele agora admite, que não se deixou apanhar – (dado que Assad continua no poder; Al-Thani usou uma palavra do dialeto do Golfo, "al-sayda", que designa caçar animais ou presas, por esporte). Embora Thani tenha negadoacusações críveis e bem fundamentadas de apoio ao ISIS, as palavras do ex-primeiro-ministro implicam apoio direto do Golfo e dos EUA à al-Qaeda na Síria (também chamada Frente al-Nusra) desde os primeiros anos da guerra, e chega até a dizer que o Qatar tem "documentação completa" e registros que provam que a guerra foi planejada para fazer a mudança de regime.

Nos termos da tradução de Zero Hedge, al-Thani disse, ao reconhecer que nações do Golfo armavam jihadistas na Síria com aprovação e apoio de EUA e Turquia:

"Não quero entrar em detalhes, mas temos documentação completa [ing. full documents] sobre nós termos ficado encarregados [na Síria]."


Disse que ambos, o rei Abdullah da Arábia Saudita (que reinou até morrer em 2015) e os EUA, puseram o Qatar num papel de comando das operações clandestinas para fazer aquela guerra 'por procuração'.

Os comentários do ex-primeiro-ministro, por reveladores que sejam, tinham o objetivo principal de servir como defesa e desculpa para o apoio que o Qatar deu ao terrorismo, e como crítica aos EUA e à Arábia Saudita por, na essência, terem deixado o Qatar sozinho "para carregar a mudança", no que tenha a ver com a guerra (hoje perdida) contra Assad. Al-Thani explicou que o Qatar continuou a financiar terroristas armados na Síria, mesmo depois de outros países já terem interrompido o apoio em grande escala – motivo pelo qual está denunciando EUA e sauditas, que inicialmente "estavam conosco na mesma trincheira."

Em entrevista anterior à TV norte-americana, que passou quase sem ser noticiada, al-Thani já dissera a Charlie Rose, o qual lhe perguntou sobre acusações ao Qatar por apoiar o terrorismo: "Todos cometeram erros na Síria, inclusive nosso país." E disse que desde o começo da guerra na Síria "todos nós trabalhamos em duas salas de operações: uma na Jordânia, uma na Turquia."

Abaixo reproduzimos o trecho crucial da entrevista da 4ª-feira, com tradução [ing.] e legendas de @Walid970721. Zero Hedge revisou e validou a tradução. Como o tradutor original reconheceu e confirma, al-Thani não diz "lady" mas "presa" ["al-sayda"] –, no trecho em que fala de Assad e dos sírios estarem sendo "caçados" por outros países.

Adiante, a transcrição do trecho [ing., aqui retraduzido ao português]:

"Quando os eventos começaram, no início, na Síria, fui à Arábia Saudita e encontrei-me com o rei Abdullah. Fiz isso por expressas instruções de Sua Alteza o príncipe, meu pai. Ele [Abdullah] disse "estamos com você. Prossiga com esse plano e nós nos coordenaremos, mas vocês têm de se encarregar." Não quero entrar em detalhes, mas temos documentação completa [ing. full documents] sobre nós ficarmos encarregados [na Síria] e tudo que foi mandado [à Síria] foi também para a Turquia e foi feito em coordenação com as forças dos EUA e tudo foi distribuído via turcos e forças dos EUA. E nós e todos os demais estávamos envolvidos, o pessoal militar. Houve erros e apoiamos a facção errada (...). Talvez tenha havidoalgum relacionamento com Nusra, é possível, mas pessoalmente não sei sobre isso (...) Estávamos disputando a presa["al-sayda"] e agora a presa salvou-se, mas continuamos em guerra (...) e agora Bashar continua lá. Vocês [EUA e Arábia Saudita] estiveram conosco na mesma trincheira (...) Não tenho objeção alguma a alguém mudar de posição, se descobriu que estava errado. Mas pelo menos informe seu parceiro (...), que diga, por exemplo, deixem Bashar [al-Assad], ou façam isso ou aquilo. Mas a situação que foi criada não permitirá qualquer avanço no Conselho de Cooperação do Golfo, nem progresso algum em coisa nenhuma, se continuarmos a guerrear abertamente."


Como hoje já é bem sabido, a CIA esteve diretamente envolvida no comando dos esforços para 'mudar o regime' na Síria com parceiros do Golfo, como vazou e também já foi confirmado por documentos da inteligência dos EUA. O governo dos EUA sabia na hora e 'ao vivo' que todo o armamento avançado que o Golfo e o Ocidente estavam fornecendo estava chegando diretamente à al-Qaeda e ao ISIS, por mais que houvesse 'declarações' oficiais de que só rebeldes "moderados" estivessem sendo armados. Por exemplo, memorando da inteligência que vazou, de 2014, endereçado a Hillary Clinton, reconhecia o apoio de qataris e sauditas ao ISIS.

Naquele e-mail lia-se, sem qualquer ambiguidade e em termos muito diretos que:

"os governos de Qatar e Arábia Saudita estão fornecendo apoio clandestino, financeiro e logístico, ao ISIL e a outros grupos sunitas radicais na região."


Além disso, na véspera da entrevista do primeiro-ministro al-Thani, The Intercept divulgou um novo documento top-secret da Agência de Segurança Nacional dos EUA [ing. NSA] desenterrado dos arquivos de inteligência vazados e distribuídos por Edward Snowden, que mostra com espantosa clareza que a oposição armada na Síria estava sob comando direto de governos estrangeiros desde os primeiros anos de uma guerra que até agora já custou meio milhão de vidas.

O documento da Agência de Segurança Nacional dos EUA [ing. NSA] recém vazado confirma que um ataque de rebeldes armados em 2013 com foguetes terra-terra avançados lançados contra áreas civis de Damasco, inclusive sobre o Aeroporto Internacional de Damasco, foi diretamente armado e comandado pela Arábia Saudita, com pleno conhecimento prévio da inteligência dos EUA. Como o ex-primeiro-ministro do Qatar agora confirma, os dois governos, dos sauditas e dos EUA, naquele mesmo momento, mantinham especialistas em "salas de operações" com a tarefa de coordenar ataques criminosos como esse, contra o aeroporto de Damasco em 2013.

Já não resta qualquer dúvida sobre o que se passava, e menos dúvidas haverá doravante também sobre outros eventos, à medida que mais e mais documentação, tão válida, clara e precisa quanto terrível, continue e pingar, gota a gota, ao longo dos próximos meses e anos. No mínimo, a guerra diplomática que prossegue entre qataris e sauditas trará mais e mais informação, com os dois lados interessados em transferir responsabilidades por apoiarem terroristas. E como já se vê nessa recente entrevista divulgada pela TV do Qatar, os EUA não serão poupados nessa temporada, que apenas começa, de velhos aliados, agora em campos opostos, forçados a lavar sua roupa suja em plena praça.

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