A greve, convocada por várias organizações sindicais, teve forte impacto nos serviços públicos, nomeadamente nas escolas, hospitais (a funcionar em regime de serviços mínimos) e transportes (o metro parou e os barcos ficaram nos portos).
Para segunda-feira, dia em que o projecto de lei do governo é votado no Parlamento, estão previstas mais paralisações. Para que os credores aceitem pagar, no próximo dia 22 de Janeiro, mais 4,5 mil milhões de euros à Grécia, o governo Syriza-Anel pretende aprovar um pacote que reduz apoios às famílias, facilita a realização das execuções hipotecárias e torna mais difícil convocar greves.
Com este pacote de «medidas antipopulares e antilaborais», o governo grego encarrega-se de «executar os ditames do grande capital», tendo «como objectivo primordial banir o direito à greve», acusou a Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME) em comunicado.
«Tirem as mãos das greves!» foi precisamente uma das palavras de ordem que os trabalhadores filiados na PAME hoje fizeram ouvir na mobilização que reuniu cerca de 20 mil pessoas em Atenas, de acordo com a Reuters, quando o debate do projecto já decorria no Parlamento. Outros mostravam faixas com a palavra «Levantamento!» e «Não à escravidão moderna!».
O projecto de lei deixou zangados muitos gregos, que viram os seus rendimentos e condições de vida ir a pique desde que, em 2010, o país começou a ser «ajudado» pelos credores internacionais. A troco de milhões de euros, os governantes gregos realizaram reformas económicas profundas e cortes na despesa pública que mergulharam o país numa profunda recessão económica.
Prossegue o esbulho
Em 2015, o Syriza ganhou as eleições com um programa eleitoral que viria a não aplicar. E quando, em referendo, o povo grego disse maioritariamente «não» ao terceiro resgate, o seu líder, Alexis Tsipras, acabou por assiná-lo.
Por isso, a PAME dirige fortes críticas ao Syriza, que «faz melhor o trabalho de liquidador dos direitos dos trabalhadores que a Nova Democracia [direita]».
«[Este novo projecto] abole o direito à greve... Estas coisas só aconteciam no tempo da Junta», disse o oficial da marinha mercante reformado George Papaspyropoulos, aludindo à «ditadura dos coronéis» que prevaleceu na Grécia entre 1967 e 1974. «Este governo só é de esquerda de nome; pelas suas acções, é uma junta», acrescentou.
Actualmente, os sindicatos podem convocar uma greve com o apoio de um terço dos seus filiados. O novo projecto eleva essa fasquia para 50% mais um, em nome da «democracia» e da «produtividade».
A PAME acusa o governo de hipocrisia, na medida em que as suas preocupações com a «democracia» são mais rarefeitas quando se trata de lidar com a «elevadíssima taxa de desemprego» existente no país ou com o «ambiente de terrorismo patronal» que se vive nas empresas.