Neste documento, a estratégia e a tática do KKE, bem como sua concepção sobre as alianças de classe do proletariado, são expostas de modo aprofundado.
[...] Qualquer tentativa de determinar o caráter da revolução com quaisquer critérios que não sejam aqueles que surgem de sua época e da maturidade das pré-condições materiais não é um critério objetivo. No Ensaio sobre a História do KKE, volume 2, 1949-1968, está a seguinte passagem:
“O caráter da revolução, como o elemento básico da estratégia de um partido comunista que age sob as condições do poder capitalista; não pode ser determinado pela correlação de forças existente, mas pela maturação das pré-condições materiais do socialismo. Esta última determina sua necessidade e sua temporalidade. O mínimo grau necessário de maturação das pré-condições materiais existe mesmo que a classe trabalhadora seja a minoria da população ativa, dado o momento em que ela se torna consciente de sua missão histórica por meio do estabelecimento de seu partido. A aliança social da classe trabalhadora com os estratos populares e toda forma de expressão política existe para servir o objetivo estratégico do poder da classe trabalhadora que expressa os interesses da maioria da população.”
[...]
Quais são as forças motoras da revolução socialista?
Quando falamos das “forças motoras” da revolução socialista, nos referimos às forças sociais que têm um interesse objetivo na superação das relações de produção capitalistas.
Como já analisamos, a força motora básica, a força social que lidera o processo de revolução social é a classe trabalhadora, porque tem um interesse geral na abolição das relações capitalistas e na harmonização do caráter social da produção com a propriedade social dos meios de produção.
De toda forma; a abolição da propriedade capitalista também é do interesse do setor de pequenos proprietários de meios de produção que são esmagados pela propriedade capitalista de larga escala, os monopólios. Os interesses desses setores do estrato intermediário são próximos àqueles do proletariado, tomando em conta a grande probabilidade de se tornarem trabalhadores assalariados no futuro e não mais proprietários de meios de produção, como são hoje.
Lenin notou que: “O capitalismo não seria capitalismo se o proletariado propriamente dito não fosse cercado por um grande número de tipos intermediários extremamente heterogêneos entre os proletários e os semi-proletários (que ganham sua sobrevivência em parte pela venda de sua força de trabalho), entre o semi-proletário e o pequeno camponês (e pequeno artesão, trabalhador do artesanato e pequenos mestres em geral), entre o pequeno camponês e o médio camponês, e assim por diante, e se o próprio proletariado não fosse dividido em estratos mais e menos desenvolvidos, se não fosse dividido por origem geográfica, pela circulação, muitas vezes de acordo com a religião, e assim por diante.”
É muito importante determinar tais forças, pois é necessário para a elaboração da política de alianças do movimento dos trabalhadores.
Isso significa a elaboração de um quadro de luta, para que os setores de vanguarda de tais estratos populares intermediários sejam retirados da influência política do capital e trazidos para a aliança com o movimento de trabalhadores revolucionários.
Em cada país capitalista, a composição e a porcentagem de tais forças diferem. No entanto, nós podemos defini-las como sendo forças que não podem permanentemente explorar trabalho alienado; e não podem acumular capital com base em sua atividade.
No Programa do KKE, há a seguinte passagem: “As forças motoras da revolução socialista serão a classe trabalhadora enquanto liderança, os semi-proletários, o estrato popular oprimido dos trabalhadores autônomos urbanos, os camponeses pobres, que são afetados negativamente pelos monopólios, e por essa razão tem um interesse objetivo em sua abolição, na abolição da propriedade capitalista, na superação de seu poder, nas novas relações de produção”
Na Grécia, essas forças consistem em pobres camponeses, trabalhadores autônomos do varejo e da manufatura, trabalhadores de restaurantes e do turismo, da construção, limpeza, etc. Comumente, junto de outros membros de sua família, podem ser proprietários de terra e alguns outros meios de produção dispersos. O sistema capitalista, mais cedo ou mais tarde, fará com que percam sua terra, irá destruir os produtores independentes e trabalhadores e levá-los ao desemprego ou, no melhor dos casos, ao trabalho precário. Mesmo se o sistema os preservar por um certo período, suas condições de vida irão piorar (dívidas, insegurança, muitas horas de trabalho diário, etc.)
A longa e profunda crise provocou uma mudança brusca mesmo em setores em que o trabalho autônomo sobreviveu em melhores condições, como profissões ligadas à construção, reparos, direito e contabilidade. A integração de cientistas em grandes empresas capitalistas se estendeu ao direito, contabilidade, trabalho técnico, a todo o trabalho ligado à provisão de saúde e reabilitação, maternidade, saúde e segurança nos locais de trabalho, saúde pública, cultura e esporte enquanto trabalhadores assalariados, tendência que está em plena ascensão.
A tendência de deterioração das condições de importantes setores de trabalhadores autônomos e cientistas, mesmo que tenham um melhor salário e, principalmente, maior liberdade do que trabalhadores assalariados por trocarem seu trabalho por renda é característica. Setores de autônomos (e.g. engenheiros, advogados, contadores, etc.) aparecem enquanto autônomos somente em um sentido formal e trabalham com um pagamento padrão dado pela empresa capitalista, com a diferença que imprime para si um recibo de pagamento.
Seus interesses de médio prazo são encontrados objetivamente no conflito e na derrubada dos monopólios, da propriedade capitalista, ao lado da classe trabalhadora pela conquista do poder.
Para setores significativos de trabalhadores autônomos, a luta em comum com os trabalhadores assalariados é a única escolha que serve seus interesses futuros. Seu próprio interesse repousa no Estado dos trabalhadores, lhes provendo todas as condições para realizar o trabalho científico pela prosperidade da sociedade.
É inevitável que, ou eles se aliem ao modo de produção capitalista, cuja consequência é a destruição violenta da maioria deles, ou se aliem com o desenvolvimento baseado na propriedade social (popular), planejamento central a favor da prosperidade social. É do interesse da classe trabalhadora trazer tal estrato social para o seu lado, o lado do poder do povo trabalhador ou, ao menos, assegurar que eles não se aliem com a reação da classe capitalista.
A destruição dos trabalhadores autônomos não deve ser entendida como uma tendência absoluta, pois coexiste com a reprodução de um certo estrato intermediário, ainda que sob condições de relativa piora de suas condições, relativamente ao período anterior.
Levar seções dessas forças para o lado da classe trabalhadora ou as neutralizar pressupõe a existência de um movimento poderoso de trabalhadores que terá o papel de liderança na mobilização do povo.
Subestimar esse aspecto leva ao perigo de, ao invés de levar essas forças para o lado da classe trabalhadora, prevaleçam na classe trabalhadora as visões pequeno-burguesas de tais forças e a transformem num apêndice da linha política burguesa.
A classe trabalhadora não está separada desses estratos por uma “muralha da China”, ainda mais porque assim como existem diferenças em seu interior, existem fatores objetivos e subjetivos que levantam obstáculos à sua unidade.
A política de alianças do Partido Comunista, a política de alianças do ponto de vista da classe trabalhadora, tem como objetivo trazer forças sociais para o lado da classe trabalhadora, tem como objetivo reunir essas forças com uma determinada orientação que seja formada numa base anti-capitalista, na direção do confronto contra o capital.
[...]
As tarefas do KKE em condições não-revolucionárias.
O reagrupamento do movimento de trabalhadores.
O dever básico do partido comunista em locais onde as massas (da juventude, organizações de mulheres, associações culturais, etc.) se reúnem, principalmente nos sindicatos, é a sua ação sistemática e organizada e o trabalho político para atingir uma conexão com as massas, educá-las na luta política, na luta pelo poder.
O 2º Congresso da Internacional Comunista frisou que a ditadura do proletariado é a completa expressão do poder de todos os trabalhadores e “todos o povo que trabalha e é explorado, que foi dividido, enganado, intimidado, oprimido, pisado e esmagado pela classe capitalista”. E, portanto, a preparação da ditadura do proletariado “deve ser iniciada em todo lugar e imediatamente, entre outros elementos, pelos seguintes meios: em todas as organizações, sindicatos e associações sem exceção, e em primeiro lugar e mais importante, nas organizações proletárias, mas também naquelas das massas oprimidas não-proletárias (políticas, sindicais, militares, cooperativas, educativas, esportivas, etc. etc.), grupos ou células comunistas devem ser formadas – preferencialmente de forma aberta, mas grupos clandestinos também, sendo estes últimos essenciais onde quer que haja razão para esperar sua supressão, a prisão ou o banimento de seus membros por parte da burguesia; essas células, que devem estar em contato íntimo entre si e com o centro do Partido, devem, ao compartilhar suas experiências, ao elevar o trabalho de agitação, propaganda e organização e ao adaptarem-se a absolutamente toda esfera da vida pública e cada variedade e categoria das massas oprimidas, educarem sistematicamente a si mesmas, o Partido, a classe, e as massas por meio de tal trabalho diversificado.
[...] Nós devemos aprender a nos aproximarmos das massas com grande paciência e cuidado de forma a sermos capazes de entender os elementos distintivos na mentalidade de cada estrato, as aspirações, etc., dessas massas.”
Ao explicar a relação entre os partidos comunistas e os sindicatos, Lenin apontou o fato de que os sindicatos foram um grande avanço para a classe trabalhadora no estágio primário de desenvolvimento do capitalismo.
Eles contribuíram para a superação da fragmentação da classe trabalhadora e também para a criação de alguns elementos novos da associação de base classista.
Porém, quando a forma suprema de unificação da classe trabalhadora, o Partido, começou a se formar, os sindicatos inevitavelmente começaram a mostrar “algumas posturas reacionárias, uma certa cabeça fechada, uma certa tendência a serem apolíticos, uma certa inércia, etc.” E seguiu dizendo que: “o desenvolvimento do proletariado não procedeu, e não poderia proceder, em qualquer lugar no mundo que não por meio dos sindicatos, por meio da ação recíproca entre eles e o partido da classe trabalhadora.”
Não há uma muralha entre a luta econômica e a política.
O marxismo entrelaçou a luta econômica à luta política da classe trabalhadora, considerando-as inextricavelmente ligadas. Isso é verdade especialmente na atual situação, onde as pré-condições materiais para que os meios de produção concentrados se tornem propriedade social são mais maduras do que nunca. No capitalismo contemporâneo, nós observamos a contradição óbvia entre a capacidade dos avanços científicos e técnicos de satisfazer as necessidades da sociedade e o fato de que essas necessidades não são satisfeitas.
Por exemplo: por um lado, temos a capacidade para construir casas resistentes a terremotos, e por outro, existem milhões de moradores de rua e casas “indisponíveis” (não vendidas ou confiscadas) por conta da crise da produção capitalista. Objetivamente, hoje, o agravamento rápido das contradições fundamentais do capitalismo impõe a não-separação da luta econômica da luta política, que devem não apenas ser unidas, mas também acompanhadas de um aprofundamento da luta ideológica no movimento sindical e de trabalhadores.
Lenin disse caracteristicamente: “Toda luta de classe é uma luta política. Nós sabemos que os oportunistas, escravos das ideias liberais, entendem estas profundas palavras de Marx incorretamente e tentaram interpretá-las de forma distorcida. (...) Os economistas acreditam que qualquer querela entre classes é uma luta política. Os economistas, assim, reconheceram como “luta de classes” a luta por aumento salarial e se recusaram a reconhecer uma luta de classe maior, mais desenvolvida, de caráter nacional, a luta com objetivos políticos. (...) Não é o suficiente que a luta de classes se torne real, consistente e se desenvolva apenas quando envolve a esfera política. Na política, também, é possível restringir-se a assuntos menores, e é possível ir além; ir aos fundamentos. O marxismo reconhece uma luta de classes completamente desenvolvida, de “caráter nacional”, apenas se ela não meramente envolve a política, mas se envolve o elemento mais significante na política – a organização do poder de Estado.”
Em sua época, Marx e Engels apontaram no Manifesto Comunista que o partido luta não apenas pela “conexão entre os objetivos imediatos e os interesses da classe trabalhadora, mas, no presente movimento, também representa o futuro desse movimento.”
Hoje, na era do capitalismo monopolista, da necessidade da revolução socialista, essa posição toma um significado especial.
Para que a classe trabalhadora seja capaz não apenas de lutar consistentemente e efetivamente por suas demandas/interesses econômicos, mas também – e com efeito, ainda mais significante – para alcançar seus objetivos finais, tem de conduzir uma luta política e ideológica completa, que apenas um Partido Comunista pode organizar, orientar e conduzir. Isso pode ser atingido somente por meio de ação independente do Partido, e também por meio da ação dos membros dos PCs nos movimentos sindicais e de trabalhadores.
Os sindicatos, como uma forma de organização da classe trabalhadora, são organizações da luta econômica da classe trabalhadora. Nos sindicatos, diferentemente do Partido Comunista, as massas de trabalhadores participam com diferentes níveis de consciência e, obviamente, com diferentes visões e influências ideológico-políticas. A influência da política burguesa se intensificou entre eles especialmente depois que os antigos partidos de trabalhadores (social-democratas) se tornaram partidos burgueses. Apesar dos sindicatos, por sua natureza, não serem capazes de articular uma política independente, sua atividade objetivamente tem características políticas. Isso depende em cada momento da correlação de forças dentro dos sindicatos, seja em favor dos trabalhadores ou da linha política burguesa.
Por exemplo, as lideranças da GSEE (Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos) e da ADEDY (Administração Suprema dos Sindicatos de Servidores Públicos Gregos) apoiaram e apóiam desde 1990 a política de reestruturação capitalista, limitando suas “demandas” a migalhas para os trabalhadores.
Então, esses sindicatos se tornaram apoiadores da linha política anti-trabalhadora e perderam seu caráter de classe; mesmo enquanto organizações de trabalhadores lutando pela defesa dos termos de venda da força de trabalho para os capitalistas. Se tornaram veículos pela assimilação das massas trabalhadoras que os seguem. Esse desenrolar veio como consequência da corrosão a longo prazo do movimento de trabalhadores por correntes oportunistas novas e antigas. Também é uma consequência do fato de que partidos com raízes trabalhadoras, que detinham maioria nas estruturas de cúpula dos sindicatos, os tornaram pilares da linha política burguesa, deram aos partidos liberais burgueses novas oportunidades de aumentar sua influência no movimento de trabalhadores (por exemplo, o partido ND [Nova Democracia] na Grécia). Hoje, eles constróem juntos a ilusão de que uma administração governamental para sair da crise é possível, que há uma versão pró-povo da União Europeia.
A atividade de forças burguesas e oportunistas no movimento sindical da classe trabalhadora forma uma corrente política que tem como objetivo manipular a consciência e a posição da classe trabalhadora. É o maior obstáculo para o movimento dos trabalhadores adquirir características de massa, para o fortalecimento do polo militante em suas fileiras e para a isolação das associações de empregadores e do sindicalismo aparelhado pelo governo.
Hoje, a união de membros e amigos do KKE juntamente a outros militantes trabalhadores-empregados contra os empregadores e sindicalismo organizado pelo governo, contra a intervenção que objetiva manipular e desorientar o movimento de trabalhadores é expresso através da PAME (Frente Militante dos Trabalhadores), com um quadro coerente de lutas e demandas.
Todos os comunistas devem ser ativos nos sindicatos, utilizando as lutas econômicas dos trabalhadores para contribuir com seu amadurecimento político, assim como sua preparação para a batalha contra a classe hostil dos capitalistas e seu poder.
Parte dos deveres dos comunistas nos sindicatos é a propaganda político-ideológica acerca da necessidade de desenvolver a luta e a organização, com a finalidade de tomar o poder.
O partido tem que contribuir com sua atividade político-ideológica para a formação da consciência anti-capitalista, para o levante político das forças da classe trabalhadora, através de sua experiência. Eles têm de entender, por exemplo, que a defesa consistente do direito à segurança social significa um conflito contra o capital, os monopólios, associações imperialistas, os partidos e governos que os servem aberta ou timidamente.
A intervenção dos comunistas precisa contribuir para a superação da seccionalização, a particularização do nível da empresa, que surge do funcionamento objetivo do capitalismo, para avançar a solidariedade entre diferentes secções da classe trabalhadora e sua ação comum.
A organização e politização da atividade sindical que estabelece objetivos incorporados em um quadro coerente requerem o confronto com a seccionalização por ofício, que estreita a luta e as demandas no nível de uma empresa específica ou de uma região ou categoria profissional. Essa seccionalização enfraquece mesmo a defesa dos direitos já ganhos, enfraquece a unidade de classe dos trabalhadores, que é uma pré-condição para ganhos gerais e parciais. A experiência mostra que mesmo a reversão de uma demissão demanda uma mobilização geral.
A intervenção dos comunistas no movimento sindical não deve permanecer restrito a apontar problemas ou denunciar o inimigo ou à promoção de demandas específicas e propostas que resolvam os problemas da classe trabalhadora. Deve, na verdade, revelar a todos os trabalhadores o mecanismo da exploração, a produção do mais-valor, educar a classe trabalhadora na luta inconciliável contra o capital, e formar suas demandas nessa direção. Revelar que a crise capitalista é uma consequência da super-acumulação do capital e do próprio modo de produção capitalista. Combater ferozmente a administração burguesa em todas as suas formas, seja a administração tradicional liberal ou a social-democrata, na zona do Euro e no resto da União Europeia, onde associações imperialistas são corresponsáveis pelo novo aumento do desemprego e da pobreza, pela intensificação da violência estatal e da repressão. Elevar demandas que entrem em conflito com o lucro capitalista.
A intervenção dos comunistas nas categorias da classe trabalhadora em cada setor da economia capitalista (o turismo, por exemplo) requer o monitoramento e conhecimento profundo do desenvolvimento do próprio setor. Sobre essa base, é possível realizar a propaganda do programa político do KKE com melhor argumentação, utilizar a experiência dos trabalhadores de forma que se torne mais compreensiva a necessidade da propriedade social, do planejamento central, a realidade onde apenas uns poucos se apropriam da riqueza socialmente produzida, como um setor pode se desenvolver na direção da satisfação das necessidades dos estratos populares de forma a atingir a prosperidade social. E sobre essa base, apontar a possibilidade de uma aliança com os trabalhadores autônomos, a luta comum contra os monopólios.
A luta da classe trabalhadora pelos acordos coletivos tem de ser ampliada com objetivos que envolvam a educação pública e gratuita, tratamento médico e prevenção, segurança social universal e pública, contra a repressão estatal, contra as guerras imperialistas, uma luta que objetivamente se torna uma luta com conteúdo político, que se coloca contra o Estado burguês, os partidos burgueses, mecanismos imperialistas, algo que permeia todas as frentes de luta da classe trabalhadora, que se desenvolve dentro das formas organizadas de atividade do movimento de trabalhadores, dos sindicatos, dos comitês de luta, etc. “O movimento sindical é uma escola, e de toda forma, as classes devem estar agora mais avançadas em comparação ao primeiro período de ação dos sindicatos. Se, durante o primeiro período, era uma escola primária, então agora deve ser ao menos um ginásio. Amadorismo não nos levará longe.”
As consequências negativas da crise econômica não leva definitiva e espontaneamente à intensificação da luta de classe. A piora abrupta da situação da classe trabalhadora devido à crise econômica tem um efeito contraditório na consciência. As responsabilidades do Partido Comunista na preparação da elevação do movimento só aumentam.
Sob condições de crise econômica, existe um aumento do descontentamento e da tendência das forças pequeno-burguesas e de setores superiores da classe trabalhadora com maior renda e trabalhadores da administração pública de saírem às ruas em protesto.
A questão do reagrupamento do movimento de trabalhadores, no sentido de orientar os protestos e levá-los em uma direção radical, é crítica. A intervenção do Partido Comunista pela elevação da luta de classe não deve lidar apenas com o nível de maturidade das massas, mas também com a intervenção da burguesia, seus mecanismos, com os partidos do poder, as forças políticas reformistas e oportunistas.
O reagrupamento do movimento de trabalhadores tem como uma pré-condição a organização de novas massas no movimento sindical classista, a marginalização das lideranças próximas dos empregadores e governos nos órgãos sindicais, assim como a exposição e marginalização de novas intervenções pela reforma do “sindicalismo organizado pelo governo”, assim como a revelação de suas ligações com a nova formação governamental, i.e. com o futuro governo do SYRIZA. Tem como uma pré-condição a fundação de de novos sindicatos classistas em novos setores e empresas, assim como a flexibilidade de novas formas de organização, e.g. comitês de greve, comitês de luta, comitês contra demissões e sua conexão com um quadro mais geral de ação e luta, com o sindicato do setor e com a classe – e seu pólo orientador, a PAME. Essencialmente, tem como pré-condição a organização de trabalhadores com baixos salários, jovens trabalhadores, imigrantes, mulheres. Através de tal direção a PAME será reforçada enquanto um pólo classista para o movimento sindical.
Hoje, não é o suficiente que o movimento tenha tais objetivos positivos.
O que determina a efetividade do movimento, seu papel em uma direção positiva, é o quadro político-ideológico que estabelece os objetivos da luta. “Unidade acerca de um problema” ou “luta contra os problemas”, em geral, não é o suficiente. O que é importante é o quadro ideológico em que tais demandas são integradas, e as posições ideológicas que o permeiam, i.e. o objetivo último da luta. O movimento de trabalhadores, devido às demandas da própria luta, tem de adquirir uma orientação anti-capitalista, tem de desenvolver uma frente de confronto contra as percepções e construções ideológicas burguesas, o reformismo e o oportunismo, baseado na experiência derivada da luta de classes, das lutas das massas. Lutas ideológicas, políticas e econômicas são promovidas de forma unificada, e não separadas entre si por muralhas.
Nesse quadro, o movimento sindical classista da classe trabalhadora deve estar na linha de frente de iniciativas que auxiliam na direção da aliança social com os fazendeiros pobres e trabalhadores autônomos. Iniciativas que também incluem a solidariedade, e.g. a presença da PAME nas manifestações dos camponeses; e ao mesmo tempo, contribuem para a unificação da luta sob um quadro em comum contra os monopólios e o imperialismo.
A intervenção pelo reagrupamento dos movimentos de trabalhadores significa a intensificação da intervenção ideológica e política dos comunistas, acima de tudo, nas organizações de massa da classe trabalhadora, de forma a fazê-la entender a necessidade de entrar em conflito não apenas com todos os governos, mas com a classe no poder; fazê-la entender a necessidade de mudar a classe que está no poder; para que a classe trabalhadora esteja na linha de frente da derrubada do poder dos monopólios e obtenha seu próprio poder em aliança com os estratos populares pobres.
Para que o Partido seja capaz de desempenhar esse papel no levante da classe trabalhadora e da orientação do movimento sindical, ele deve desenvolver seu trabalho, estabelecer organizações de base do Partido, especialmente em setores, grandes locais de trabalho, grandes fábricas e centros de varejo.
A implementação de tal direção pressupõe que o Partido inteiro foque suas intervenções na classe trabalhadora.
A Aliança Popular. Seu caráter.
Não é fácil levar os setores populares dos estratos intermediários a se juntaram à classe trabalhadora sob condições revolucionários, a não ser que as pré-condições já tiverem sido estabelecidas sob condições não-revolucionárias. Lenin definiu o critério para a formação de uma linha para agrupar as forças populares com a classe trabalhadora:
“A questão é saber como implementar essa política de forma a aumentar e não diminuir o nível geral de consciência proletária, da situação revolucionária e da habilidade de lutar pela vitória.”
O KKE em seu 19º Congresso elaborou a linha da Aliança Popular, nomeadamente, como fortalecer a aliança da classe trabalhadora com os setores populares dos estratos intermediários das áreas urbanas e rurais sob condições não-revolucionárias. Como colocado na Resolução Política desse mesmo Congresso, está se tornando claro que deve ser uma aliança de forças sociais, formada em movimento:
“A Aliança Popular expressa os interesses da classe trabalhadora, dos semi-proletários, dos trabalhadores autônomos, dos fazendeiros pobres que não podem acumular capital, da juventude e das mulheres dos estratos populares da classe trabalhadora na luta contra os monopólios e a propriedade capitalista, contra a assimilação do país nas associações imperialistas. A Aliança Popular é uma aliança social e tem características de movimento com uma linha de ruptura e derrubada.”
A linha para a Aliança Popular explica a direção que o desenvolvimento da ação comum da classe trabalhadora com os estratos populares deve tomar, de forma a servir hoje ao estabelecimento de uma frente revolucionária sob condições revolucionárias, a alterar a correlação de forças, a prevenir a classe trabalhadora e as forças populares de serem presas a diversas versões da linha política burguesa (a saber, “unidade contra um problema”, agrupamentos anti-neoliberais, aliança anti-memorando, etc.), a ajudar na maturação do entendimento acerca da necessidade de derrubar o poder dos monopólios e as relações de produção capitalistas. Como colocado na Resolução Política:
“A Aliança Popular responde à questão acerca da organização da luta pela repulsão das medidas bárbaras anti-trabalho e anti-populares, com a concentração de forças e uma luta de contra-ataque, de forma a atingir alguns ganhos no caminho da luta pela derrubada do poder dos monopólios. A Aliança Popular tem uma orientação claramente anti-monopolista e anti-capitalista. Promove a ruptura com as associações imperialistas, luta contra a guerra imperialista e a participação nela. Age para fortalecer o agrupamento de forças sociais anti-monopolistas e anti-capitalistas, busca levar a luta em direção ao poder do povo e da classe trabalhadora. A Aliança Popular direciona sua luta contra os mecanismos de repressão.”
É uma aliança com uma orientação política específica e não apenas uma coordenação de organizações do movimento, e não é formada apenas com base no critério sindical. Deve, porém, ser expressa dentro do movimento sindical, e deve ser baseada nas lutas do movimento sindical e constantemente tentar atrair novos sindicatos e organizações de massa da classe trabalhadora e seus aliados para suas fileiras. Deve ser estabelecido desde o princípio com critérios que facilitem e sirvam ao propósito de formar o exército da revolução de amanhã. Então, na Resolução Política do Congresso foi esclarecido que:
“A Aliança Popular defende a socialização dos monopólios, de todos os meios de produção concentrados, o planejamento central e controle social-trabalhador. Defende a saída da Grécia da União Europeia e da OTAN, de todo tipo de relação com associações imperialista. Defende a abolição das bases estrangeiras, da presença de tropas estrangeira e forças policiais na Grécia sob vários pretextos.”
O KKE atua dentro da Aliança Popular com suas forças organizadas envolvidas em várias organizações do movimento, nas várias formas de organização da classe trabalhadora e dos estratos populares. A Aliança Popular não é uma aliança de partidos políticos ou organizações políticas. Se no curso da luta de classe forças políticas que expressam posições de estratos pequeno-burgueses e adotam o caráter anti-capitalista e anti-monopolista da aliança aparecerem, então, membros dessas forças podem cooperar com os comunistas dentro do movimento e da aliança. Objetivamente, haverá uma disputa sobre o caráter e a perspectiva da Aliança Popular com essas forças.
A ação conjunta do KKE com tais forças políticas será expressa dentro das fileiras e das lutas da Aliança Popular, que tem como base os locais de trabalho e os bairros, os sindicatos, as assembleias gerais, os comitês de lutas e outras formas organizativas. Um veículo político unido, uma formação eleitoral unida e grupo parlamentar não podem ser estabelecidos com essas forças, pois é impossível que haja um programa em comum pelo poder e um entendimento em comum sobre como atingi-lo. De outro modo, a independência e a razão de ser do KKE serão perdidas.
É claro a partir desse caráter que a Aliança Popular não pode participar em eleições para o parlamento, para o parlamento europeu ou para os governos locais.
Nas condições atuais, a Aliança Popular é melhor construída através da ação unida com base no quadro desenhado pelo movimento sindical classista da classe trabalhadora-PAME, o agrupamento anti-monopolista dos trabalhadores autônomos urbanos-PASEVE, o agrupamento das lutas dos fazendeiros pobres-PASY, o movimento radical de mulheres-OGE e o movimento militante de estudantes-MAS. Nessa direção, é um dever importante fortalecer os comitês populares como formas de expressão dessa ação comum em nível local, assim como a promoção da ação comum também em nível setorial.
A experiência da história do KKE e sua política de alianças, como atesta a colaboração política da EDA (Esquerda Democrática Unida, 1951-1967) e a “Coalizão da Esquerda e do Progresso” (1989-1991) leva à conclusão que é formulada no segundo volume do Ensaio sobre a História do KKE: “A independência do KKE é uma questão de princípio, uma expressão do papel histórico da classe trabalhadora e sua necessidade de estabelecer de forma independente sua vanguarda político-ideológica e organizacional como a força motora na luta pela derrubada do poder burguês e pelo estabelecimento do poder dos trabalhadores.” Qualquer forma de aliança entre a classe trabalhadora e os estratos populares não pode negar a independência ideológica, estratégica, política e organizacional do KKE.
Perseguir uma aliança com outras forças políticas que têm programas políticos ou eleitorais em comum, na realidade significa perder a independência política do Partido, que irá, é claro, acabar na perda de sua independência organizacional.
O KKE não tem muitos programas, não tem um “programa mínimo” ou “máximo”, nem adota qualquer “programa de transição”, nem tem qualquer programa eleitoral. Não tem um programa político que possa ser implementado no terreno do capitalismo, e essa é a razão pela qual não pode formar um programa em comum com outros partidos e forças políticas.
O programa do KKE contém sua estratégia pela derrubada do capitalismo e construção do socialismo. Sua linha política imediata serve a essa estratégia.