No ano de 2017, segundo o relatório, 82% da riqueza gerada no mundo ficou com o 1% mais rico da população, enquanto os 82% mais pobres não receberam nada.
Nada.
O assunto não chega a receber destaque na imprensa, talvez porque o relatório seja divulgado durante o Fórum Económico Mundial, o convescote de poderosos que tem lugar em Davos, na Suíça. Em geral, seus números são brandidos pela esquerda como demonstração do crescimento do abismo crescente entre aqueles que produzem a riqueza e os que efectivamente vivem dela.
Porém - e é aqui que queremos chegar - a discussão sobre estes números, suas causas e possíveis soluções se resume a pouco mais do que o que a própria Oxfam aponta como saída para o problema: criação de empregos melhor remunerados, maior protecção social e "justiça tributária", isto é, elevação de impostos para os mais ricos. A possibilidade de tais mudanças, dentro do "capitalismo realmente existente", é nenhuma; na verdade, o que se vê, tanto nos países centrais como nos periféricos, é a intensificação da ofensiva da classe dominante pela destruição de direitos sociais e do trabalho assalariado regular - uma regressão social que nos empurra aos tempos sombrios descritos por Engels em sua obra clássica «A Condição da Classe Operária em Inglaterra».
Mesmo as reformas sociais mais tímidas exigirão uma mudança completa na disposição para a luta das classes subalternas. A disjuntiva dos tempos que correm é, como apontou uma vez István Mészáros, é agora entre o socialismo e a barbárie... se tivermos sorte.
Resumo do relatório em português aqui.