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Domingo, 24 Junho 2018 05:19 Última modificação em Sexta, 29 Junho 2018 00:22

Alemanha e Síria

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País: Síria / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Oriental Review

[Thierry Meyssan, Tradução do Coletivo Vila Vudu] Durante a Guerra Fria, a CIA recrutou alguns dos melhores funcionários nazistas para continuar a luta contra a URSS. Dentre eles, Gerhard von Mende, recrutador de muçulmanos soviéticos contra Moscou [1]. Em 1953, esse veterano funcionário público instalou o chefe da Fraternidade Muçulmana fora do Egito, Saïd Ramadan, em Munique [2].

No mesmo período, a CIA distribuiu secretamente oficiais nazistas por todo o mundo, para combater organizações pró-sovietes. Por exemplo, Otto Skorzeny foi para o Egito; Fazlollah Zahedi foi para o Irã; e Alois Brunner [3], para a Síria. Todos organizaram os serviços secretos locais seguindo o modelo da Gestapo. Brunner só seria demitido muito mais tarde, em 2000, pelo presidente Bachar el-Assad.

No período entre a revolução Khomeinista de 1979 e os ataques de 11/9, a Alemanha Ocidental manteve-se cautelosa nos negócios com a Fraternidade Muçulmana. Mas, por ordem da CIA, e ao mesmo tempo em que a Síria reconhecia a Alemanha Oriental, deu asilo político aos golpistas putschistas que tentaram o golpe de Estado de 1982 contra o presidente Hafez el-Assad, inclusive ao ex-Supremo Guia Issam al-Attar (irmão do vice-presidente da Síria Najah el-Attar). Nos anos 1990s, a Fraternidade reorganizou-se na Alemanha com a ajuda de dois empresários, o sírio Ali Ghaleb Himmat e o egípcio Youssef Nada – que adiante Washington acusaria de financiar Ossama Ben Laden.

Quando os EUA começaram a «guerra infinita» no «Oriente Médio Expandido», a CIA encorajou a Alemanha reunificada a lançar um «Diálogo com o Mundo Muçulmano». Em Berlin, o Ministro de Relações Exteriores baseou seu trabalho para aquela finalidade, principalmente, no novo chefe local da Fraternidade Muçulmana, Ibrahim el-Zayat, e num intelectual alemão, Volker Perthes, que viria a ser diretor do mais poderoso think-tank europeu, Stiftung Wissenschaft und Politik (SWP) [Fundação Ciência e Política] e participou, em nome da ONU, das negociações de Genebra.

Em 2005, a Alemanha participou no assassinato de Rafic Hariri, fornecendo a arma usada para matá-lo (que obviamente não foi um explosivo clássico, ao contrário do que declarou o «Tribunal» especial, de propaganda) [4]. Para completar, a Alemanha também forneceu o presidente do Inquérito da ONU, ex-procurador Detlev Mehlis [5], e o assistente dele, comissário de polícia Gerhard Lehmann, que esteve envolvido na questão das prisões secretas da CIA. Em nome da ONU, Mehlis acusou os presidentes libanês e sírio, Emile Lahoud e Bachar el-Assad, de terem assassinado Rafic Hariri. Seu trabalho baseou-se em declarações de falsas testemunhas. O escândalo foi descoberto, Mehlis foi obrigado a renunciar.

Em 2008, quando a CIA montava a «guerra civil» na Síria, Volker Perthes foi convidado pela OTAN para a reunião anual do Bilderberg Group. Trabalhou com um funcionário público sírio já recrutado pela CIA, Bassma Kodmani. Juntos, eles explicaram aos participantes daquela reunião o lucro que o Ocidente obteria se derrubasse a República Árabe Síria e instalasse a Fraternidade Muçulmana no poder. Já usando o duplo linguajar da Fraternidade Muçulmana, em 2001 Perthes assinara coluna que o New York Times publicou, na qual zomba do presidente Assad por acreditar que ele, Perthes, teria desenterrado uma «conspiração» contra seu país [6]. Em outubro do mesmo ano, participou de uma reunião de empresários turcos organizada por uma agência privada norte-americana de inteligência, Stratfor. Falou aos presentes sobre os recursos de petróleo e gás que poderiam roubar da Síria [7].

Expandindo esse trabalho, a Alemanha organizou em Abou Dhabi uma reunião dos 'Amigos da Síria' sob a presidência de um de seus diplomatas, Clemens von Goetze, que partilhou com os presentes o futuro das concessões para exploração, que estariam garantidas para os vencedores tão logo a OTAN derrubasse a República Árabe Síria [8].

Em meados de 2012, o Departamento de Defesa dos EUA encarregou Volker Perthes de preparar o «Day After» (quer dizer, o governo a ser imposto à Síria). Organizou reuniões no Ministério de Relações Exteriores, com a participação de 45 personalidades sírias, dentre as quais seus amigos Bassma Kodmani e Radwan Ziadek, da Fraternidade Muçulmana, que viajaram de Washington [9] especialmente para a reunião. 

Na sequência, afinal, Perthes tornou-se um dos assistentes de Jeffrey Feltman na ONU. Com esse título, participou de todas as negociações de Genebra.

As posições do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha foram copiadas, palavra a palavras, pelo Serviço Europeu de Ação Externa [ing. European External Action ServiceEEAS] de Federica Mogherini. Essa administração, dirigida por veterano funcionário público francês, distribuiu notas confidenciais sobre a Síria aos chefes de Estado e de governo da UE.

Em Berlin, em janeiro de 2015, na marcha pela tolerância, que reuniu líderes políticos e muçulmanos em reação ao ataque ao jornalCharlie Hebdo em Paris, Madame Merkel marchou de braços dados com Aiman Mazyek, secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha. 

Embora Mazyek queira fazer crer que teria rompido com a Fraternidade Muçulmana e mantenha diálogo aberto, Mr. Mazyek oferece proteção dentro de sua organização ao grupo Milli Gorus (organização suprematista de Recep Tayyip Erdoğan) e à Fraternidade Muçulmana (matriz das organizações jihadistas, sob a presidência internacional de Mahmoud Ezzat, ex-mão direita de Sayyid Qutb).

Em 2015, a chanceler Angela Merkel e o presidente Recep Tayyip Erdoğan da Turquia, que se converteu em protetor mundial da Fraternidade Muçulmana, organizaram a transferência de mais de um milhão de pessoas para a Alemanha [10], atendendo ao desejo de importantes líderes da indústria alemã. Muitos desses migrantes eram sírios, inclusive os que o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) de Erdogan estava descartando, e que a Alemanha não desejava que voltassem para a Síria.

Essa semana, a chanceler Angela Merkel estará [esteve, NE] em Beirute e Amã, para falar sobre a Síria.

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