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Diário Liberdade
Sexta, 13 Julho 2018 08:51 Última modificação em Quarta, 18 Julho 2018 19:41

Indústria de artigos esportivos: um abismo entre dois mundos

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/ Consumo e meio natural / Fonte: Granma

[Aliet Arzola Lima] Sapatilhas leves que pesam menos de cem gramas; roupas de banho projetadas por especialistas em hidrodinâmica que «cortam» a água com a máxima eficiência; sensores colocados em acessórios diferentes que calculam a frequência cardíaca e fornecem outras informações em tempo real; raquetes que reduzem a vibração do impacto da bola...

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Estes são apenas alguns vislumbres dos avanços da indústria global de artigos esportivos, que está evoluindo tão rápido quanto os passos de Usain Bolt ou as braçadas de Michael Phelps, ícones do universo atlético que, precisamente, desfrutaram dos benefícios dessa enorme império da produção e, além disso, contribuíram para o seu desenvolvimento voraz.

Marcas históricas como Adidas, Puma e Nike, ou a emergente Under Armour, quatro dos grandes consórcios que patrocinam e vestem diversos concorrentes, controlam completamente o mercado esportivo e têm impacto direto nos principais eventos, desde os Jogos Olímpicos até a Copa Mundial de futebol, os dois eventos com a maior atenção global.

Não se pode dizer que isso sempre tenha acontecido, já que a produção de artigos esportivos teve um desenvolvimento incipiente no final do século XIX e inícios do século XX, mas o auge industrial, a proliferação de clubes e a consequente profissionalização da atividade muscular modificaram a essência do negócio, porque, no final, esta grande rede de empresas não pode ser catalogada de forma diferente.

UM NEGÓCIO RENTÁVEL, MAS...

De acordo com estudos realizados pelo Plunkett Research, um site especializado em análise estatística de negócios, o valor da indústria global de esportes pode equiparar as exportações dos EUA em um ano e exceder perfeitamente o PIB de nações inteiras. Além disso, um poderoso clube de futebol ou beisebol ganha mais de US$ 500 milhões e uma única luta de boxe movimenta mais de um milhão de dólares.

Os números são assustadores, especialmente nestes tempos, de extrema pobreza e necessidade para uma alta porcentagem da população do planeta. No entanto, esses números deixam claro que o esporte é um negócio lucrativo para as grandes potências e marcas, que investem, geram e recebem grandes somas de dinheiro pelos conceitos de contratos de televisão, propaganda, licenças, merchandising ou ingressos.

Mas além do impacto dessas empresas na representação dos atletas e sua transformação em personalidades de culto, de acordo com seus resultados, vamos fazer uma pausa para refletir sobre seu verdadeiro alcance no crescimento equitativo do esporte.

Será que os produtos de última geração da Puma podem realmente chegar às mãos de um menino pobre de uma favela no Brasil, ou das aldeias mais intricadas da América Central ou da África? Será que a corrida desenfreada entre a Adidas e a Nike realmente busca, pelo menos como objetivo secundário, a descoberta e o financiamento de talentos emergentes em países subdesenvolvidos?

A resposta a essas perguntas é um retumbante não; em vez disso, as empresas usaram o esporte como fonte ideal de enriquecimento, fomentaram a desigualdade e aumentaram o abismo econômico entre ricos e pobres, estes últimos com muito poucas opções para adquirir implementos ou desenvolver infraestruturas para a prática de qualquer disciplina.

A GUERRA ETERNA DAS MARCAS

O fato de as principais empresas de artigos esportivos perseguirem o mesmo objetivo e causarem efeitos semelhantes em países subdesenvolvidos não significa que haja fraternidade ou cooperação entre elas, pelo contrário, suas relações são marcadas por rancores após antigas armadilhas e a concorrência nas áreas da pesquisa, desenvolvimento e avanços tecnológicos.

Os empórios da Adidas e da Puma, por exemplo, têm suas origens na Alemanha. Na verdade, surgiram após o colapso das relações entre os irmãos Dassler (Adolf e Rodolf), os quais fundaram uma joint venture desde os anos 20 do século passado (Gebrüder Dassler Schuhfabrik) que fabricava calçado esportivo.

Esta empresa ganhou fama mundial na década de 30 após contratar Jesse Owen, o brilhante velocista negro que conquistou quatro títulos olímpicos em Berlim, em 1936, diante do olhar desafiador e frustrado de Adolf Hitler. No entanto, os irmãos Dassler desintegraram seu projeto após a Segunda Guerra Mundial, dando lugar a Adidas e Puma. Contraditoriamente, Paradoxalmente, a partir daquele momento eles nunca mais encontraram a paz.

O auge de suas diferenças foi vivido na Copa do Mundo do México, em 1970, para a qual estas poderosas marcas tinham assinado uma aliança de não-agressão, conhecida como o «Pacto Pelé», já que nenhuma delas poderia tentar contratar esse jogador brasileiro para que usasse alguma de suas marcas.

No entanto, um representante da Puma aproveitou o fato de que o lendário jogador brasileiro não conhecia tal acordo e o contratou nas costas da própria empresa, que mais tarde deu o aval e desencadeou a luta com a Adidas, da qual não se saiu muito bem, pois nos últimos 20 anos viram como a Adidas os destruiu completamente no mercado.

A Nike despontou muito mais tarde e, por um longo tempo, assistiu com cautela a briga entre os dois empórios, até que Michael Jordan mudou para sempre o destino da marca norte-americana com suas sapatilhas Air Jordan, exigidas em todo o mundo. Desde então, a Nike tem sido a rival por excelência da Adidas, uma batalha sem quartel que simula uma dança constante de milhões.

A concorrência chegou a um ponto tão degradante que personagens como LaVar Ball, excêntrico ex-jogador de futebol e basquete, colocou em leilão «a pele» de seu filho Lonzo Ball, tudo isso para ver qual das duas firmas (Adidas ou Nike) oferecia o contrato mais lucrativo em troca do menino vestindo seus sapatos em sua estreia com o Los Angeles Lakers, na NBA.

A CORRENTE DA MORTE

O esporte moderno é vendido diariamente como um espetáculo de luxo, no qual milhões de pessoas consomem, ao mesmo tempo, as diretrizes comerciais propostas pelos consórcios que patrocinam os eventos e o próprio produto esportivo. Esta prática foi estabelecida até à medula, especialmente graças aos monopólios da comunicação, que bombardeiam com publicidade as competições dos mais diversos níveis.

Precisamente, os compromissos de publicidade (pelos quais milhões são pagos) e as empresas patrocinadoras determinam em grande parte como, quando e onde são as competições. Isso mudou completamente o mapa dos atletas, que cada vez devem se preparar mais, para enfrentar um volume muito alto de competição.

Essas demandas, às quais devemos acrescentar a pressão perene e universal dos seguidores, levaram muitos atletas por estradas escuras (doping, apostas, conluios), tudo pelo preço de conseguir contratos de propaganda de seis ou sete zeros, privilégio reservado a um grupo minoritário que consegue alcançar a «glória» econômica e de propaganda, em consonância com seus resultados na arena competitiva.

A mercantilização atacou o universo muscular e os protagonistas são tratados como meros objetos, e às vezes pressionados a sacrificar prestígio e valores para alcançar um resultado, mesmo com o risco de morte, devido ao consumo de substâncias proibidas. É um ciclo sem fim, uma bolha na qual, muitas vezes, nem mesmo os próprios atletas, conseguem perceber que estão presos.

APAGANDO O ABISMO ENTRE OS MUNDOS

As nações do Terceiro Mundo, em geral, destacam-se no esporte graças a talentos específicos, mas, frequentemente, esse sucesso desaparece como uma ilusão, pois não tem o apoio de bases sólidas.

Não é estranho que isso aconteça, porque os países subdesenvolvidos são atingidos por um acesso precário a todas as instalações de uma indústria de artigos esportivos excessivamente caros, que vê o universo atlético como uma fonte de renda fácil e segura.

Sobreviver a essa abordagem neoliberal não é fácil, mas Cuba o conseguiu e está na vanguarda dos mais desfavorecidos, mesmo agora que seu movimento esportivo não está passando pelo melhor momento.

Qual foi a fórmula? Neste pequeno arquipélago caribenho, o esporte tem sido defendido como direito do povo, como fonte de saúde e bem-estar, um caminho nobre que nos permitiu consolidar um sistema organizado e bem sucedido em múltiplas disciplinas, um marco se levarmos em conta nossos escassos recursos econômicos e limitações impostas pelo país mais poderoso do planeta.

Sem os benefícios das grandes marcas, sem acesso a tecnologias de ponta desenvolvidas nos laboratórios especializados dessas empresas, Cuba não só elevou seu nome, como também traçou um caminho para nações com as mesmas limitações.

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