Desde a sua origem em 1947, a CIA compreendeu que para derrubar a União Soviética, para além das bombas, eram necessárias pinturas, sinfonias e prosa.
Nos finais da década de 1940, no apogeu da Guerra Fria, a CIA começou a dar-se conta que a Revolução de Outubro tinha conquistado muitos artistas, escritores e cientistas da Europa Ocidental.
Em 1950 criou o Congresso para a Liberdade da Cultura com o objectivo de minar o prestígio da URSS e ganhar os corações e as mentes dos intelectuais progressistas europeus.
A intelectualidade europeia sabia que os Estados Unidos era uma sociedade capitalista, comercial e filisteia que carecia de tradições culturais, o que Hugh Wilford, autor de vários livros sobre operações secretas da CIA durante a Guerra Fria, qualifica como “prejuízos culturais antiamericanos”.
Os livros eram uma arma e «Doutor Jivago» foi um dos que foram subsidiados. O seu autor foi promovido ao nível mais alto, alcançando o Prémio Nobel da Literatura graças à espionagem, enquanto vetavam outros novelistas como Gorki.
“Creio que «Arquipélago Gulag» foi ainda mais importante que «Doutor Jivago», como exemplo de propaganda de sucesso do ponto de vista norte-americano”, disse Sergei Khrushchev, filho do ex primeiro-ministro soviético e membro do Instituto Watson de Estudos Internacionais da Universidade de Brown.
"E eu também diria que as «20 cartas a um amigo» de Svetlana Alliluyeva [filha de Stalin] foi a mais dolorosa na era Brezhnev", acrescenta Khrushchev. Svetlana recebeu quase um milhão de dólares pelo seu romance.
O Congresso para a Liberdade da Cultura financiou numerosas revistas literárias e culturais, incluindo a revista britânica «Encounter» e, com pleno conhecimento de causa, a «Revue de Paris». Foi a sombra por detrás de concertos patrocinados, como a actuação de uma orquestra sinfónica de Boston em Abril de 1952 num festival de música de Paris.
A escolha da música para interpretação não é acidental. A CIA coroou Igor Stravinsky, um dos mais famosos compositores da sua época e um crítico declarado da URSS.
A CIA financiou a versão animada do «Triunfo dos Porcos» (Animal Farm) de George Orwell.
Para financiar estas actividades, a CIA lavou dinheiro através de uma variedade de organizações ‘culturais’ na América e Europa.
A CIA gastou milhões de dólares para subsidiar o movimento artístico nova-iorquino dos anos 50 conhecido como “expressionismo abstracto”, um estilo de pintura praticado por Mark Rothko e Jackson Pollack, artistas pouco apreciados pelos norte-americanos naquela época, e organizando exposições de pintura por toda a Europa, ajudando a difundir a “arte abstracta” como uma tendência mundial. A difusão do expressionismo abstracto ajudou a que a intelectualidade europeia progressivamente passasse a inclinar-se para o lado do imperialismo durante a Guerra Fria, afirma Hugh Wilford, professor de história na Universidade pública da Califórnia.
Hoje, é difícil imaginar os mestres espiões americanos como patronos da arte, mas "na época, havia alguns tipos bastante sofisticados navegando na CIA", diz Wilford.
"Provavelmente apreciavam o papel dos patronos culturais porque foram treinados numa espécie de escola preparatória, as classes da Ivy League que incluíam pessoas como Nelson Rockefeller e [o editor do New York Herald Tribune] John Hay Whitney."
"Então, era lógico que essa organização, então bastante aristocrática, a CIA, fizesse isso", diz Wilford.
O Congresso para a Liberdade da Cultura, que chegou a ter gabinetes em 35 países e cerca de 300 funcionários, foi encerrado nos anos sessenta.
Fonte: Resistencia Popular