Além disso, segundo a fonte, "Assad não acredita que por causa das próximas eleições nacionais na Síria, o governo sírio se deixe seduzir por ofertas de algum plano russo que proponha o retorno dos refugiados e a reconstrução da Síria pela comunidade internacional em troca da saída dos iranianos. O caminho certo para que todas as forças deixem a Síria, inclusive as forças iranianas é a implementação daresolução n. 242 (1967) (retirada das forças armadas israelenses dos territórios ocupados no conflito recente) e o respeito à soberania da Síria (com o fim das violações, por Israel, do espaço aéreo sírio)" – disse a fonte.
A Rússia tenta criar estabilidade no Levante, considerado como plataforma essencial para futuro econômico muito maior, e elo com o mundo, além de base ideal permanente para suas forças na região. A agência de notícias Tass noticiou que o ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov e o comandante do estado-maior general de exército Valery Gerasimov "visitaram o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, para discutir questões relacionadas ao conflito na Síria". O encontro, de duas horas, é parte de uma troca pré-organizada de visitas estabelecida durante a mais recente visita de Netanyahu a Moscou, quando se encontrou com o presidente Vladimir Putin.
A Rússia está entre dois países duros nas negociações, Síria e Israel, cujos líderes não cedem nem um centímetro sem muita barganha. Seja como for, conseguir que os israelenses retirem-se das colinas ocupadas do Golan é tarefa impossível mesmo para Putin, especialmente com Netanyahu como primeiro-ministro. Assim sendo, o mais provável é que Israel continue a violar o espaço aéreo sírio e a atacar alvos aleatórios. Em troca, muitos contam com que a Rússia assistirá sem desgosto se o exército sírio responder aos esperados ataques dos israelenses –, os russos acalentando a (magra) esperança de conseguir que os dois lados sejam forçados a fazer concessões nas respectivas demandas.
Espera-se que a Rússia informe ao premiê israelense sobre a possibilidade de a Síria responder ao fogo dos jatos israelenses, no caso de qualquer ataque futuro.
Até quando o exército sírio e aliados estavam libertando o sul da Síria (as províncias de Daraa e Quneitra), e durante o ataque contra o 'Estado Islâmico' (ISIS) para libertar as vilas e o território ainda ocupado (ao longo da linha de desengajamento de 1974), quatro jatos israelenses violaram o espaço aéreo do Líbano e dispararam de cima do vale do Bekaa. Foram disparados dez mísseis contra alvo militar sírio entre as cidades de Zawi e Deir Mama no setor rural de Homs. Seis daqueles mísseis atingiram o alvo.
No dia seguinte àquele ataque, dia 24/7/2018, Israel lançou um míssil Patriot contra um jato Su-22M4 sírio que atacava o ISIS no sul de Quneitra. Esse ataque é considerado clara violação do acordo de 1974 que "permitiu às forças aéreas dos dois lados (Síria e Israel) operar até as respectivas linhas sem interferência do outro lado".
Israel – sentindo-se forte com o apoio dos EUA e acreditando que a Rússia esteja ao seu lado – está provocando e desafiando o exército sírio. Bem claramente Damasco está esperando o momento apropriado para atacar colônias ou cidades israelenses – tão logo o sul da Síria esteja definitivamente livre do ISIS, ou, talvez, tão logo se apresente a oportunidade.
Além do mais, os centros de desenvolvimento militar da Síria distribuídos pelo território visam a fabricar mísseis de médio e longo alcance, beneficiando-se da rica experiência acumulada em sete anos de guerra e dos novos desenvolvimentos alcançados pelos aliados dos sírios, nas tecnologias de guerra.
Fontes próximas da liderança síria disseram que "Damasco tem acordos de defesa e cooperação com vários países. Desenvolver o próprio arsenal é parte do plano militar para defender o próprio território contra qualquer agressão externa".
Fontes próximas dos aliados da Síria disseram o seguinte: "O Irã já entregou ao Hezbollah dezenas de milhares de mísseis de todos os calibres. Os mísseis mais precisos e acurados já foram entregues e serão usados no caso de Israel decidir atacar o Líbano. Significa que tentar impedir que a Síria desenvolva o próprio arsenal é ideia idiota e fantasiosa, não realista".
Funcionários israelenses levantaram a questão das armas de longo alcance que a Síria desenvolveu ao longo de mais de uma década – e continua a desenvolver. Mas, disseram as fontes, "essa demanda é obviamente impossível de atender, e não interessa o que Israel ofereça em troca, mesmo que as colinas ocupadas do Golan estejam na mesa de negociações. O Hezbollah já tem esses mísseis no seu arsenal e já criou equilíbrio de poder com Israel – e já em 2006, na segunda guerra do Líbano, o Hezbollah parou os israelenses. Agora está em jogo a soberania da Síria e, sem mísseis de precisão, a Síria se enfraquece. Israel não conversa com países fracos" – concluiu essa fonte.
A mensagem de Assad é muito clara e o presidente sírio está determinado a deter qualquer futura agressão dos israelenses, e repetidas vezes indicou que está em estado de permanente prontidão para responder, apesar do pedido dos russos para "reduzir o nível de tensão com Israel". Segundo o presidente Assad, "a segurança e a proteção da Síria vem em primeiro lugar, antes da relação com nosso aliado estratégico russo. O governo sírio não se deixará deter por políticas de autorrestrição, a menos que Israel ponha fim aos ataques contra alvos militares na Síria". Assad rejeitará qualquer pedido dos russos para se autoconter, se Israel continuar a provocar o Exército Árabe Sírio.
Durante os sete anos de guerra que foi imposta à Síria, Israel realizou mais de 100 ataques contra posições do Exército Árabe Sírio em vários pontos do país. Também deu apoio a militantes e jihadistas, com ajuda militar e de inteligência, apoio logístico e serviços médicos. O Exército Árabe Sírio limitou-se a interceptar o maior número possível de mísseis e numa ocasião derrubou dois jatos (Israel só admite ter perdido um dos dois jatos) sobre as colinas ocupadas do Golan, durante um ataque israelense.
Na última visita de Netanyahu a Moscou – segundo altos funcionários do governo sírio – o primeiro-ministro israelense disse que seu exército "tem a intenção de atacar o ISIS, al-Qaeda e outros militantes e jihadistas no sul da Síria, ao longo de toda a linha de desengajamento de 1974 e avançará sobre território sírio para criar uma 'zona tampão'."
O primeiro-ministro de Israel queria que o presidente Putin aprovasse o plano – o que implicaria a Rússia reconhecer a ocupação permanente das Colinas do Golan pelos israelenses. Com isso, qualquer futura negociação entre Síria e Israel ficaria concentrada nos novos terrenos ocupados agora, não mais na área ocupada durante a guerra dos seis dias em 1967 e anexada em 1981.
O presidente Putin – disse a fonte – respondeu que "a Rússia pode garantir que o Irã e seus aliados não dispararão um único tiro além da linha de desengajamento de 1974 durante a libertação do sul da Síria. Essa linha é aprovada pela ONU e, portanto, será respeitada.Mas se Israel decidir levar seu exército para além dessa linha legal, esse será o maior presente que vocês podem dar ao Irã e aliados, e será motivo legal e válido para que o Irã ataque Israel. Eu retirarei do sul as forças russas, e deixarei você lá, você e as suas ideias aberrantes".
Netanyahu considera o presidente Putin grande amigo de Israel, porque o russo empenhou-se pessoalmente para impedir qualquer ataque além da linha de desengajamento de 1974. O presidente Assad considera que Putin se impôs a Netanyahu e ao presidente Donald Trump, ao reconhecer a linha de desengajamento de 1974. Significa que a Rússia nada cedeu, nem a Israel nem aos EUA. Os russos simplesmente reconheceram a linha estabelecida, de modo que qualquer negociação futura para que a Síria recupere as colinas do Golan ocupadas sempre começará dessa linha.
Assad derrotou todos os governos que "deram o melhor" de si – ofereceram dezenas de bilhões de dólares, investiram em inteligência, enviaram seus próprios soldados, abriram caminho para jihadistas e terroristas trazidos de todos os cantos do mundo – para tentar derrubá-lo do poder!
Mas o governo da Síria manteve-se coeso, compacto e forte, e saiu mais forte do que nunca, do ataque que sofreu, com experiência militar acumulada que nenhum dos seus adversários tem hoje. Assad dispensará lições de 'moderação', quando decidir que é chegada a hora de responder a Israel, no tempo devido.
Para liberar o sul, a Síria terá pela frente dois países ocupantes: EUA e Turquia. Nada daquelas dúzias e até centenas de grupos e organizações pagas por diferentes governos estrangeiros para destruir a Síria. Assim sendo, se Assad diz "minha paciência está acabando", está dizendo que não lhe será difícil disparar contra jatos de Israel, e que seus aliados Irã e Hezbollah, acorrerão, satisfeitíssimos, a apoiá-lo.
Por fim, Assad integra hoje o "Eixo da Resistência", e o ano de 2018 já não se parece aos primeiros anos 2000s, antes de Assad ter-se integrado ao Eixo. Naquele momento, a comunidade internacional e países árabes ofereceram ao presidente sírio muitos favores e apoio financeiro para pôr fim ao fluxo de armas do Irã para o Líbano, passando por Damasco e pelo porto de Latakia. Num dado momento, Assad disse ao Hezbollah que não faria o que os EUA queriam dele, mas não ficaria no caminho, como obstáculo.
Hoje, depois de sete anos de guerra, a Síria selecionou amigos e aliados. Irã e Hezbollah são parte da Síria e seu destino está ligado ao destino do Levante. Ambos ofereceram dinheiro, logística, petróleo, combatentes e milhares de mártires, mortos e feridos, para manter a Síria unida. Assad e os sírios nunca esquecerão.
A Rússia, por sua vez, é aliada da Síria, e os dois países têm interesse em manter a estabilidade do Levante. A Rússia também tem interesses associados a Israel, aos EUA e aos países do Golfo que desempenharam papel importante nos sete anos de guerra na Síria. Sabe-se que Putin soube engolir a provocação dos turcos, em 2015, quando defesas turcas derrubaram um jato Sukhoi russo que combatia contra jihadistas na área rural de Latakia. Mas será que Putin engolirá as continuadas provocações e o desafio que Netanyahu faz à estabilidade da Síria, aceitando e crendo que seja possível negociar sob fogo?
Quando Putin passou aquela bola de futebol para Donald Trump durante o encontro em Helsinki esse mês, e agora, quando passa a bola a Netanyahu para que decida... O que faz Putin: está ordenando que Netanyahu ponha fim às incursões de Israel na Síria, ou está encorajando a escalada?