Afirmam eles que o facto de a Grã-Bretanha abandonar a União Europeia colocaria um travão imediato nos planos que estão a formar-se em Bruxelas para criar um "perigoso" exército da UE constituído com os 28 membros do bloco .
Numa carta ao Telegraph, o vice-almirante Michel Debray e o contra-almirante Claude Gaucherand disseram que os vizinhos da Grã-Bretanha continuariam a cooperar com o Reino Unido "em termos próximos e amistosos" no caso de um Brexit devido ao poder militar e económico britânico.
Eles afirmaram que os planos para o exército da UE estão a ser "mantidos secretos" em relação aos eleitores britânicos até que acabe o referendo do Brexit.
ALARMISMO
Tem havido um bocado de alarmismo da direita de ambos os lados sobre este assunto. Assim, afirmações como esta precisam ser examinadas cuidadosamente.
A UE mudou consideravelmente de natureza desde quando era o Mercado Comum, um simples bloco comercial de seis países (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Mas mesmo nessa altura o seu objectivo principal era beneficiar o capitalismo dentro daqueles países a expensas do comércio de outros países e da força de trabalho no interior dos mesmos.
Sua política energética exigiu o encerramento de toda a indústria de mineração de carvão na Grã-Bretanha na década de 1980, dando ao nosso governo Tory uma oportunidade para liquidar um dos seus inimigos mais antigos e mais bem sucedidos – a National Union of Mineworkers (NUM).
Desde então foi fácil para o governo Thatcher introduzir restrições gigantescas ao papel dos sindicatos. Estas violaram a legislação de direitos humanos mas os comissários não eleitos da UE ficaram muito felizes e observaram isto com inveja, esperando empurrar as suas próprias forças de trabalho do mesmo modo o quanto antes possível.
Estamos agora a ver os resultados quando trabalhadores franceses estão a ganhar as ruas para combater leis anti-sindicais.
Uma pesquisa de opinião recente do Pew Research Centre, o qual inquiriu 10 mil pessoas por toda a Europa, descobriu que o sentimento anti-UE está a propagar-se rapidamente .
Apesar de ser um dos membros fundadores do clube, o povo francês está agora desesperado para abandoná-lo, com apenas 38 por cento a apoiar o bloco. Em contraste, o apoio britânico situa-se nos 44 por cento. O apoio ao bloco está nos seus níveis mais baixos na Grécia, com apenas 27 por cento dos gregos inquiridos tendo uma opinião favorável à UE.
A UE tem projectado o seu peso nas arenas política e militar desde a queda da União Soviética – actuando invariavelmente como uma auxiliar do imperialismo dos Estados Unidos.
A UE desempenhou um papel decisivo na ruptura da antiga Jugoslávia, acicatando tensões étnicas que estavam dormentes sob o efeito unificador de um governo socialista.
FACÇÕES
Agora quase todos os antigos estados socialistas da Europa do Leste – incluindo aqueles que faziam parte da União Soviética – tornaram-se caldeirões borbulhantes de facções étnicas e religiosas a tentarem dilacerar-se uns aos outros e redefinir fronteiras.
Isto levou à ascensão de movimentos de extrema-direita e neo-nazis nestes países – o mais gravemente afectado sendo a Ucrânia, onde nazis descarados agora fazem parte do governo.
E foi em parte a cobiça dos líderes da UE pelo carvão do Donbass e pelas planícies ricas em trigo da Ucrânia que os levou a desempenhar um papel enorme nos esforços dos EUA para romper a espinha dorsal do Estado russo e reduzi-lo ao mesmo caos sangrento que agora domina o Afeganistão, o Iraque e a Líbia.
Os falcões do Pentágono sabem que os EUA estão em declínio, politicamente, economicamente e militarmente, quando os países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estão em ascensão. Eles sentem que têm de se movimentar o mais cedo possível porque o equilíbrio de poder está a mudar. E estão preparados para arriscar uma terceira guerra mundial.
Não há dúvida de que estes falcões do Pentágono encaram a UE como uma muleta muito necessária, especialmente quanto aos seus objectivos de atacar a Rússia. E o governo britânico é o seu mais forte aliado dentro da UE.
Retire-se a Grã-Bretanha e a restante conexão da UE aos EUA tornar-se-á muito mais fraca. Já há manifestações maciças contra os exercícios da NATO que agora se verificam na Europa do Leste, sempre junto à fronteira russa.
A maior parte dos europeus não quer ser envolvida em outra guerra mundial. No passado fim-de-semana mais de 5000 alemães cercaram a base estado-unidense de Ramstein, Alemanha Ocidental, para protestos contra a utilização de drones na guerra.
Se a Grã-Bretanha abandonar a UE ela poderia começar a desmoronar-se mas certamente seria uma ferramenta muito mais fraca para o imperialismo estado-unidense.