Diversas são as opiniões dos analistas sobre o desvincule do Brexit, mas 'incerteza' é a palavra mais mencionada pelos diários depois de que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pedisse ao governo britânico repensar e reelaborar suas propostas sobre assuntos essenciais para a assinatura de um acordo final.
O político polaco assegurou que a fronteira com Irlanda e o marco para a cooperação económica -os tópicos mais importantes e complicados- precisam ser revisados e renegociados.
Durante uma cimeira informal em Salzburgo, Áustria, Tusk indicou ademais que o prazo para fechar um pacto sobre o divórcio vence em outubro e só convocar-se-á a uma cimeira extraordinária em novembro se estão as condições dadas para formalizar o convênio.
A forte rejeição dos 27 à estratégia traçada pela primeira ministra britânica foi considerado um ato de humilhação à chefa de Governo, quem mostrou-se profundamente indignada e considerou inaceitável que o bloco recuse o documento sem oferecer explicações detalhadas nem fazer contrapropostas.
O texto da líder conservadora, conhecido como Plano de Chequers, propõe a criação de uma área de livre comércio para bens, sujeita a uma espécie de regulamento comum que manterá ao Reino Unido alinhado aos regulares e regulamentos da UE.
Segundo Tusk, o anterior não é viável porque viola os princípios de funcionamento do bloco, o qual faz a cada vez mais provável 'uma separação sem convênio'.
May criticou a postura assumida pela aliança comunitária e assegurou que não aceitará nenhum acordo que atente contra a integridade de seu país ou vá na contramão dos resultados do referendo efetuado em junho de 2016, onde 17 milhões 410 mil 742 britânicos (52%) apostaram por abandonar a UE.
'Sempre disse que é melhor uma saída sem convênio que assinar um mau pacto', assegurou depois de exigir respeito por parte de seus sócios europeus e afirmar que as conversas se encontram num ponto morto.
No entanto, o problema vai para além das diferenças com Bruxelas: o Chequers não é criticado somente pelo bloco comunitário, sina também por grupos eurocépticos dentro e fora do Partido Conservador.
De facto, a aprovação desse plano em julho deste ano provocou o despedimento do então ministro de Relações Exteriores, Boris Johnson, e do titular britânico para o Brexit, David Davis.
Com as bichas de sua própria formação divididas e descontentas, May enfrenta-se a uma UE pouco colaborativa, mas também a uma oposição interna com uma postura mais definida e perigosa.
Durante sua Conferência Anual, celebrada de 22 a 26 de setembro, o Partido Trabalhista aprovou uma moção que dispõe a rejeição a todo convênio proposto pela chefa de Governo e a convocação a eleições antecipadas.
De não conseguir a celebração das eleições, os seguidores de Jeremy Corbyn apoiarão 'todas as opções que continuem sobre a mesa, incluída a campanha por uma segunda consulta popular sobre o Brexit'.
Ainda que não se precisa se o referendo deverá incluir a possibilidade de permanecer na aliança comunitária, o secretário dessa organização para a saída da UE, Keir Starmer, indicou que essa alternativa não pode ser descartada.
'O Parlamento terá a primeira palavra e, se produz um impasse, faremos campanha por um voto popular. Ninguém pode excluir a continuidade no bloco como uma opção', assegurou.
Por sua vez, o líder da formação, Jeremy Corbyn, disse aceitar a decisão dos filiados, mas não aclarou qual seria sua postura numa possível votação sobre o Brexit.
Ainda que também divididos, os trabalhistas têm ante sim a possibilidade de desestabilizar aos conservadores, sem maioria absoluta no Parlamento e dependentes do Partido Unionista Democrático, de Irlanda do Norte.
Por se fosse pouco, ao redor de 50 deputados conservadores, membros do chamado Grupo Europeu de Investigação, consideram ineficaz o plano de May para sair da UE e acham que seu despedimento é necessário.
Ditos políticos participaram a inícios de setembro numa reunião para analisar os possíveis palcos em caso que chegue-se ou não a um acordo final sobre o Brexit e para determinar quando e como interromper o mandato da primeira ministra.
Conquanto alguns conservadores asseguram que é um erro mudar a liderança da formação e do Reino Unido nestes momentos, parte dos presentes no encontro indicaram que enviaram cartas à direção de seu grupo parlamentar para expressar seu desacordo com a direção do país.
Segundo os regulamentos, para realizar uma votação sobre a mudança de Governo é necessário que May renuncie ou que 15% cento dos deputados conservadores (48, neste caso) exija uma moção de censura em sua contra.
Com esta complexa malha de fundo, os analistas consideram difícil realizar prognósticos acertados sobre o futuro do Reino Unido.
Um acordo pobre e pouco benéfico para o país, uma separação sem convênio, o adiamento dos prazos estabelecidos, uma revolta no Parlamento britânico e a convocação a eleições gerais, um segundo referendo sobre o Brexit ou a cancelamento do processo de saída, são algumas das possibilidades.
Recentemente, empresários estadunidenses perguntaram-lhe a May quanto poderia piorar a situação.
'Em relação ao Brexit, o futuro é incerto, mas as duas partes querem um bom acordo', respondeu a chefa de Governo, reforçando o estado de insegurança existente.
Segundo o Centro Nacional de Investigação Social do Reino Unido, 52% dos cidadãos recusaria a saída da UE se celebrasse-se uma votação ao respeito. Enquanto, uma pesquisa da assinatura YouGov indica que 66% dos britânicos acham que a administração conservadora está a manejar mau o divórcio da comunidade regional.
De acordo com estudiosos do tema, como o jornalista espanhol Nacho Alarcón, outubro é um mês definitivo para a primeira ministra, quem 'verá um céu mais desocupado, se consegue sobreviver' à conferência de seu agrupamento e à reunião com os líderes do bloco.
No entanto, em critério de observadores o problema do Brexit não se soluciona com novas promessas ou uma mudança de direção. Até o momento, nenhum dos grupos desconformes tem apresentado um candidato para substituir a May ou um plano que convença aos sócios europeus. Por outra parte, teria que ver se um novo dirigente é capaz de enfrentar o caos gerado e achar melhores respostas.