Na primeira parte da entrevista, aborda questões como a substituição dos antigos ramos de produção pelos novos ramos, na liderança do processo de produção. A metalmecânica ou a química estão dando lugar às tecnologias da informação e a engenharia genética, por exemplo. Isso requer um perfil diferente do proletariado, mais qualificado e com mais conhecimentos.
Na visão de Edmilson Costa, esses novos setores encabeçarão as lutas da classe trabalhadora, pois são categorias mais avançadas e tendem a tomar consciência de suas condições mais rapidamente. Contudo, pelo fato dessas novas categorias ainda estarem “passando pelas escolas da luta de classes”, ainda estão na fase de aprendizado e de tomada de consciência.
Na segunda parte, o economista analisa questões como o imperialismo, a globalização, a produção industrial mundial e as perspectivas da luta de classes em meio à enorme crise capitalista atual.
“Nós estamos vivendo um período de crise muito grande, na qual o sistema capitalista chegou a uma encruzilhada, em sua terceira crise sistêmica”, afirma. “As crises sistêmicas exigem uma mudança de qualidade no sistema de organização do capitalismo. Na primeira grande crise sistêmica (1873-1896), o elemento novo que surgiu foi a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista. A consequência da segunda grande crise sistêmica (1930-1945) foi a 2ª Guerra Mundial e a divisão do mundo pelos sistemas capitalista e socialista, em que no interior do capitalismo a classe trabalhadora conquistou o Estado de Bem Estar social pela força de suas lutas”, explica Costa.
“Agora estamos vivendo a terceira grande crise sistêmica, que já dura dez anos. E até agora os capitalistas não conseguiram encontrar uma saída. Enquanto não forem resolvidos todos os problemas questionados pela própria crise, ela vai continuar”, alerta. Esta crise é o final de um longo ciclo, que vem desde o final da 2ª Guerra Mundial “e por mais que os governos tenham tentado todas as fórmulas para sair da crise, não conseguiram e dificilmente irão conseguir enquanto esta crise não produzir todos os efeitos que as crises sistêmicas produzem”.
Mas as crises, como argumenta, são janelas de oportunidade, tanto para os capitalistas como para a classe trabalhadora. “As crises são momentos de disputa profunda da luta de classes”, afirma. Por isso os ataques colossais aos direitos dos trabalhadores a nível mundial e as lutas em resposta a esses ataques. “Este processo é uma disputa, um livro aberto: a burguesia pode sair vencedora, assim como o proletariado, se o seu projeto conseguir ganhar a maioria dos trabalhadores.”
Edmilson Costa é doutor em Economia pela Unicamp, com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição. É autor, entre outros, de A globalização e o capitalismo contemporâneo (Expressão Popular) e A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil (Edições ICP). É membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), diretor do Instituto Caio Prado Junior e um dos editores da revista teórica Novos Temas. Também é colunista do Diário Liberdade.