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Diário Liberdade
Sábado, 28 Mai 2016 18:05

Venezuela e o poder do capital internacional

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Ilka Oliva Corado

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Rafael Correa, durante a IV cúpula de mandatários da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), expos de forma bastante clara a proposta de substituir a Organização dos Estados Americanos (OEA) pela CELAC. Uma iniciativa certeira.


Recordemos que a CELAC é um organismo que foi criado em 2011 por Hugo Chávez, quem já havia sugerido a substituição da OEA por uma entidade com os mesmos membros, mas sem os Estados Unidos.  

As razões são óbvias: América Latina não é o quintal traseiro dos Estados Unidos e muito menos sua estrumeira, tem a capacidade para formar um ente com seu próprio modelo de desenvolvimento, longe de ingerências que provoquem golpes de Estado e invasões militares por parte do capital internacional. O trabalho da OEA é desestabilizar governos progressistas na Região, manipular e dar continuidade à agenda de intervenções que têm os Estados Unidos em cada país. Não tem nada a ver com democracia, trata-se, com certeza, de um ente conspirador.

Possui um histórico de “mocinho” em suas intervenções, mas leva o troféu pela insistência sobre a Venezuela, país do qual a direita latino-americana não retira a atenção, pois o interesse desta é ver o país submetido à pobreza e convertido num empecilho: quer um retorno ao passado. Não há razão alguma para invocar a Carta Democrática no país, o que de fato existe é uma guerra econômica e um terrorismo midiático impulsionado pelo capital internacional contra Nicolás Maduro e a Revolução Bolivariana: pulmão da América Latina.

Convidado pela direita venezuelana Albert Rivera chegou de visita à Venezuela. Líder do Ciudadanos, fiel protótipo da direita espanhola: chegou com onze ovelhas para falar de direitos humanos e exigindo a liberação de assassinos intelectuais, como Leopoldo López. Com que moral fala Albert Rivera de direitos humanos, estando vigente a “Lei Mordaça” em seu país, a qual nega a liberdade de expressão aos espanhóis? Além disso, pede liberdade para um assassino conspirador que deveria estar cumprindo pena perpétua pela dor que causou a tantas famílias e por trair sua pátria. Por acaso Rivera crê que Venezuela é ainda um país escravo? O genocídio espanhol na América Latina já não tem cabimento.

Por que não foi à Guatemala, Colômbia, Honduras ou ao México para falar de direitos humanos? Por que não ao Peru, ao Paraguai e à Argentina? Mas, precisamente, neste momento a Venezuela? Por que não foi ao Brasil denunciar o golpe de Estado contra Dilma? Digo, porque se falamos de opressão de governos, América Latina é um ramalhete de enganos... Venezuela vive um ataque constante, midiático e econômico e há que ter a cabeça fria para não deixar-se levar pela manipulação dos meios.

Trata-se do capital internacional contra a Venezuela. Nem sequer trata-se da direita latino-americana (Uribe e sua ladainha), em associação com os Estados Unidos, mas do capital internacional, que é um verdadeiro império, o monopólio contra o modelo da Revolução Chavista. É a oligarquia mundial contra um povo em desenvolvimento, e buscará todos os meios para arrasá-lo. A guerra econômica se explica por si mesma: é a partir dela que se ramificam as ondas de assassinatos, as manifestações intervencionistas, os roubos, a tentativa de invocar com urgência a Carta Democrática. O jornalismo mundial a serviço da manipulação.

A única razão pela qual segue vigente o Decreto que assinou Obama contra Venezuela há dois anos é preparar o caminho a Hillary Clinton para que ordene uma invasão militar. Por isso, as declarações de Joe Biden, que acusam o governo de Maduro de violação dos direitos humanos, intimidando e silenciando os opositores, pedindo a liberação imediata de Leopoldo López e Ledezma. Declarações nas quais se referiu à escassez de alimentos, água e medicina, além da violência desatada que inclui homicídios.

Biden terá algo a dizer aos familiares das vítimas das “guarimbas” proporcionadas por Leopoldo López, pela direita internacional e pelos Estados Unidos? Terá o que falar sobre aqueles que orquestraram um golpe de Estado contra Maduro? Como agiria Biden se Ledezma fosse aos Estados Unidos promover um golpe contra Obama? Se Leopoldo López organiza uma revolta contra o governo estadunidense em seu território, resultando em diversos assassinatos? É justamente por ser uma pessoa boa e respeitar os direitos humanos que Madura os mantém encarcerados. Se fossem os Estados Unidos, após este transferi-los para Guantánamo, já teriam sido assassinados e apresentados ao mundo como terroristas.

O que diz Biden dos direitos humanos se em seu país a polícia assassina afrodescendentes todos os dias por motivação de ódio racial? Se seu governo segue aplicando a Lei de Ajuste Cubano para desestabilizar Cuba? Se não retira-lhe o bloqueio? Se segue deportando milhares de indocumentados latino-americanos, além de criar o Plano Fronteira Sul e Maya Chortí, entre México e Honduras para violentar – assassinar e desaparecer com – migrantes em trânsito desde a militarização da região? Para seguir semeando a desgraça sobre o México com essa prática genocida, sob o disfarce de uma guerra contra o narcotráfico. Que se ocupe da política interna de seu país e deixe de intrometer-se na Venezuela.

Nenhum governo neoliberal e capitalista tem autoridade moral para falar de direitos humanos e muito menos para promover intervenções em terras que buscam seu próprio desenvolvimento a partir da sua emancipação.

Venezuela não vive sob nenhuma ditadura. Maduro não é um ditador. Trata-se de uma história contada de modo equivocado, afinal, é precisamente pelo desenvolvimento que a Revolução Chavista propiciou que o capital internacional quer fulmina-la e deixar a Venezuela na miséria, para que o ouro e o petróleo regresse às mãos de empresas transnacionais e da oligarquia mundial. Para implementar outra vez um sistema opressor e extrativista. Para que volte a repressão à liberdade de expressão e desapareçam os líderes políticos e comunitários. Para promover de mediato um golpe que traga como consequências para o país o retrocesso de décadas, a fim de que não tenha como desenvolver-se e tampouco lutar pelos seus direitos.

Não foi por prazer que Macri autorizou o funcionamento de uma base militar estadunidense na Argentina; que o Peru pede a instalação de uma base do FBI em seu território. Com a vitória de Keiko Fujimori para a presidência do Peru, avançaria ainda mais o neoliberalismo na região, que não é um livre mercado, como querem no fazer acreditar. Criaria ainda mais espaço para bases militares na Região e cercaria a Venezuela. O mesmo em relação ao Brasil, caso esse golpe contra Dilma logre sua saída definitiva da presidência e em seu lugar assuma um governo neoliberal, até que ocorram novas eleições.

O mais triste de tudo é que os mais prejudicados serão os que sempre foram golpeados pelo sistema de oligarquias e classes. Esse ódio burguês, da classe-média e apático de toda a vida que não é capaz de suportar a recuperação da dignidade por aqueles que nunca tiveram nada e contam com a contribuição de um governo que viabiliza e oferece-lhes recursos para um desenvolvimento integral: um prato de comida, um salário justo, sistema de saúde, sistema de educação. Um governo que investe na infraestrutura, cultura e esporte. São as conquistas da Revolução Chavista que estão aí, mas que a propaganda midiática insiste em ocultar. E são as conquistas que estão sendo atacadas na raiz pela direita internacional e pela incansável guerra econômica. As coisas pelos seus verdadeiros nomes. O governo de Maduro não é perfeito, há muitas ações questionáveis e que são passíveis de melhorias, mas não é um ditador.

Não sejamos alheios, nem pretendamos ignorar a luta desse povo venezuelano que quer continuar pelo caminho da libertação, afinal esse mesmo povo demonstrou para a América Latina e para o mundo que a Revolução Chavista é o sangue fervente dos que outrora foram massacrados. Não sejamos ingratos, tampando com nosso silêncio, com nossa indiferença e com nossa moral dupla. É preciso que aquilo que sucede ao outro também nos cause dor na carne viva e nos movimente e envolva, nos faça questionar e agir: mobilização.

Porque, embora, ainda que não saibamos ou não queiramos aceitar, se a Venezuela cai, então caímos todos. Não é de Maduro que estão atrás, mas da Revolução Chavista, da Pátria Grande. O poder do capital internacional deve estar ciente de que se mexer com a Venezuela, estará mexendo com todos: deveria ser nossa consigna contra o neoliberalismo no Continente, e cuidar-nos uns dos outros como irmãos que somos. Não nos esqueçamos que Venezuela Chavista sempre colocou se à frente por nós.

“O yankee teme que você se levante, América Latina proletária, não sei, por que não o faz? O yankee teme a revolução, o yankee teme o grito. Yanquee vá para casa! Yanquee vá para casa!” – América Latina Proletária. Alí Primera.

https://cronicasdeunainquilina.com/2016/05/28/venezuela-e-o-poder-do-capital-internacional/

Tradução: João Guilherme A. de Farias.

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